Valor Economico
Por Stella Fontes | De São Paulo
A Lanza Pharma, empresa brasileira que fornece princípios ativos importados para a indústria farmacêutica nacional, pretende trazer ao país o dronabinol, nome genérico da versão sintética do THC. O Tetrahidrocannabinol (THC) é um composto químico presente na maconha, assim como o canabidiol.
Vanderlanzs Dantas, presidente: Parceria com a
americana Rhodes vai permitir atender à demanda no Brasil
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda proíbe a comercialização de medicamentos a base de canabinoides no país e somente tem liberado seu uso em casos individuais, conforme a comprovação da necessidade pelos pacientes. Nesta semana, porém, a Justiça Federal do Distrito Federal determinou que a Anvisa retire o THC da lista de substâncias proibidas no país em dez dias, a partir do momento em que for notificada, permitindo seu uso para fins medicinais e científicos. A decisão responde a um pedido feito pela Procuradoria da República do DF, mas ainda é provisória e passível de recurso.
Caso seja mantida, essa decisão libera a importação de medicamentos a base de THC. A terapia com o dronabinol, que nos Estados Unidos foi desenvolvido pelo laboratório Roxane (comercializado com a marca Marinol), é indicada para o controle da náusea decorrente de quimioterapia ou como estimulante de apetite em pacientes com Aids.
Há muito debate e controvérsia em relação aos efeitos colaterais que os componentes químicos da Cannabis sativa podem produzir nos pacientes, entre os quais o risco de dependência. Especificamente no caso do dronabinol, seu uso foi liberado, por enquanto, apenas nos Estados Unidos, na Espanha, na Inglaterra e no Canadá.
De acordo com o fundador e presidente da Lanza Pharma, Vanderlanzs Dantas, grandes laboratórios brasileiros já demonstraram interesse no princípio ativo. "Esses laboratórios vão buscar a regulação junto à Anvisa e estaremos preparados para atendê-los", afirma Dantas. "É difícil falar em prazos, mas poderíamos ter os primeiros medicamentos nacionais em sete ou oito anos."
Uma das vantagens da regulação dessa terapia, conforme o executivo, seria a redução do custo do tratamento, que gira em torno de R$ 5 mil por mês. Neste ano, afirmou, o governo já gastou mais de R$ 462 mil para atender a apenas onze mandados de segurança para entrega de canabidiol a pacientes que foram à Justiça.
Para atender a essa necessidade das farmacêuticas nacionais, a Lanza Pharma fechou recentemente uma parceria com a americana Rhodes Technologies, que atua desde 2002 no desenvolvimento e produção de princípios ativos de uso controlado (entre os quais o dronabinol) e fatura cerca de US$ 8 bilhões por ano. "O Brasil é um dos mercados farmacêuticos com maior velocidade de crescimento e a Rhodes Technologies tem interesse em apresentar aos laboratórios nacionais suas habilidades em ingredientes farmacêuticos ativos", diz em comunicado o presidente da empresa, Randy Shamblen.
O interesse da Rhodes, conforme Dantas, está alinhado ao foco da Lanza Pharma, que é trazer ao país ativos farmacêuticos de ponta. Foi assim com o ativo usado nos medicamentos para tratamento do diabetes tipo 2 e com o orlistate, princípio ativo do campeão de vendas Xenical, que reduz a absorção de gordura. Mais recentemente, afirma o empresário, a percepção é que a indústria está em busca de insumos farmacêuticos controlados, usados no tratamento de dores crônicas.
Nessa área, os canabinoides também aparecem como uma das terapias inovadoras. "Acreditamos que o Brasil vai liberar o uso. Essa é uma tendência global", diz Dantas. A Lanza foi constituída há 15 anos, praticamente no mesmo momento em que surgia no país a indústria de medicamentos genéricos, com o objetivo de fornecer princípios ativos aos laboratórios. Em 2008, com a regulação do mercado de genéricos, diz o empresário, surgiu a necessidade de traduzir as exigências da Anvisa aos fornecedores estrangeiros de princípios ativos, o que levou a Lanza a acelerar o ritmo de parcerias internacionais. Em 2014, a empresa faturou R$ 250 milhões.
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