Luiza Trajano pede calma e previsibilidade

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Valor Econômico
Jornalista: Adriana Mattos


27/03/2020 - Em entrevista concedida por telefone na tarde de ontem, de sua casa, onde está reclusa já há alguns dias, a empresária Luiza Helena Trajano diz que não é o momento de interromper a quarentena causada pela epidemia do coronavírus, mas é hora de dar alguma previsibilidade sobre um plano de redução gradual do isolamento. Luiza afirmou ainda que os diretores e conselheiros de empresas terão que reduzir as suas remunerações e cobrou retornos mais rápidos dos governos sobre os pedidos de apoio dos setores.

“Precisamos de respostas até, no máximo, segunda-feira. Para trazer mais tranquilidade e para que as empresas possam começar a se planejar. Já tivemos algumas medidas muito boas, como o pacote trabalhista. Há muitas coisas, inclusive, que as pessoas nem sabem que foram acertadas. E já houve anúncios de injeção de dinheiro na economia. Mas há pontos específicos de cada setor que precisam de resposta logo”. Cada segmento da economia tem pautas específicas, e há associações que já tem relatado falta de informações sobre as demandas já encaminhadas.

A presidente do conselho de administração do Magazine Luiza faz um apelo para que as empresas, inclusive os pequenos e médios, mais afetados nas crises, evitem cortes a todo custo. “Pelo que andei estudando, é possível que algumas medidas de apoio governamental só valham para quem não demitir, então pode ser um tiro no pé”, afirma. “É importantíssimo buscar informação agora. Eu entendo que tem empresa sem caixa para o mês que vem, mas peço calma agora.”

A respeito do debate sobre qual caminho seguir - se manter a quarentena e deixar em segundo plano os efeitos econômicos, ou retomar as atividades e administrar os impactos na saúde de uma redução do isolamento, Luiza diz que não há por que definir o fim do “lockdown” neste momento. “A questão é que já há uma quarentena. Não dá para você parar tudo isso agora, porque as pessoas estão muito assustadas. Já foi criado um estresse muito grande, que era compreensível até porque é uma situação inédita. A questão é que ninguém vai voltar para a rua de uma hora para outra, porque as pessoas não vão querer sair de casa. E as pessoas não vão comprar se tiverem medo de morrer. O que a gente pode começar a pensar é numa previsão. A palavra é previsibilidade”, diz.

E acrescenta: “Tem que ser algo na linha: se não subirem [os casos] após determinado período em certas regiões, você passa a ‘soltar’ aos poucos. Por exemplo, no Nordeste tem um contágio menor, muitas cidades tem quase nenhum caso, e pode começar a voltar num momento ‘x’. Já o estado de São Paulo é o mais atingido, então o governador terá que ser mais austero, pensar em algo mais gradual. É só uma ideia. Mas a questão é montar um planejamento que seja claro, visível para as pessoas irem se organizando. E que pode mudar, obviamente, se a gente tiver uma piora, tudo de forma responsável”.


Luiza diz que para que essa discussão avance de forma madura é preciso de comunicação entre os governos, deixando de lado “vaidades e disputas políticas”.

Sobre possibilidade de que o país entre em recessão neste ano, Luiza diz que ainda é cedo para ter essa resposta, mas acredita que há uma possibilidade de uma recuperação acelerada do desempenho na segunda metade do ano. “Se conseguirmos normalizar um pouco esse quadro até maio, com queda de contágio e os incentivos do governo forem mesmo consistentes, a gente pode ter um segundo semestre todo transformado, muito diferente do que vemos agora. Temos toda a demanda reprimida e essa demanda vai voltando. Não tenho dúvidas”.

A empresária diz que as diretorias e conselhos de administração de empresas precisam se mexer e reduzir suas próprias remunerações neste período. “Não acho que é algo tão difícil. A situação atingiu todos tão assustadoramente que precisamos ter participação de todos. Já temos alguns anúncios nesses sentido”. Ela não diz se o Magazine Luiza deve adotar a medida.

Conhecida por defender serviços públicos, Luiza diz que o Brasil “deve ter um salto na qualidade do sistema de saúde do país que não teve nos últimos 30 anos”, diz. “Vamos ter um avanço que nunca se viu em um sistema que já digo há anos que é um dos melhores serviços públicos de saúde do mundo”, acrescenta. “Temos que valorizar isso. Tem muita gente se unindo. É algo positivo que temos que aprender com o que estamos passando.

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