Automatização ajuda a reduzir custos com pessoal no setor canadense de cannabis
por DW
Quase um ano após a legalização, uso recreativo da cannabis é visto como mina de ouro por muitas empresas. Mas negócio ainda não funciona como se esperava, pois, além da burocracia, demanda é bem maior que a oferta.
A loja Hello Cannabis anuncia do lado de fora com um simples "Hello" sob um smiley. A pouco menos de uma hora de carro de Toronto, em Hamilton, ali se vende maconha legalmente: cigarros enrolados, brotos, mas também óleos e pílulas, a maioria à base de canabidiol (CBD) – um ingrediente não psicoativo da cannabis.
Ao contrário dos chamados coffee shops na Holanda, nas lojas canadenses a maconha só pode ser comprada, a erva não é consumida ali. Segundo o gerente Oliver Coppolino, de 400 a 700 pessoas de todas as idades vêm à loja todos os dias. "Os funcionários andam com tablets e explicam a oferta para os clientes."
Sua loja é uma das 50 que existem agora na província de Ontário, ou seja, uma loja para cada 300 mil habitantes – uma mina de ouro. "A demanda por produtos de cannabis é enorme. Temos um problema de abastecimento. A maioria dos principais produtos se esgota muito rapidamente", diz Coppolino.
Canadá, nação número 1 da cannabis
Desde 2001, o uso de cannabis para fins medicinais é permitido no país. E em outubro do ano passado, o Canadá tornou-se o primeiro país do G7 onde o consumo recreativo da erva também é legal.
A posse é limitada a 30 gramas por pessoa. Mesmo antes, o Canadá era um dos países com o maior consumo per capita de maconha no mundo. O mercado negro é estimado em cerca de 4 bilhões de euros (quase 17 bilhões de reais).
"Há uma mentalidade de corrida do ouro nesse setor. Todo o mercado de ações é louco por cannabis", explica o jornalista de economia Mark Rendell. Há um ano e meio ele vem cobrindo o setor de maconha para o segundo maior jornal canadense, The Globe and the Mail.
"Não é sempre que somos pioneiros em determinado setor comercial, mas a legalização facilitou muito o financiamento da cannabis através de bancos e na Bolsa de Valores, mais do que em outros países", explica Rendell.
Mesmo antes da legalização, muitas empresas abriram seu capital e, assim, arrecadaram muito dinheiro. Durante muito tempo, isso foi um empreendimento arriscado, porque até junho de 2018 a legalização era apenas uma promessa feita pelo primeiro-ministro Justin Trudeau aos eleitores.
No final, chegou-se a um consenso de muitas forças políticas, e isso também é perceptível na legislação. O governo central na capital, Ottawa, decide sobre as licenças de produção para as empresas, e os governos das províncias, por sua vez, determinam a forma de venda da cannabis. Nesse ponto, algumas províncias são mais bem-sucedidas do que outras.
Apenas 20% do mercado negro legalizado
Segundo Rendell, em Ontário as autoridades levam muito tempo para emitir licenças para lojas de maconha. E o mesmo acontece com as licenças de produção. Além disso, as empresas licenciadas não fornecem o que prometem.
"Elas cultivam em estufas gigantes, mas a maconha nunca foi cultivada dessa maneira, então há muitos riscos, entre eles, principalmente estragos de colheita e problemas de qualidade", aponta Rendell.
De acordo com os dados mais recentes do departamento canadense de estatísticas, apenas 20% do mercado negro está legalizado. Várias centenas de empresas estão atualmente na fila de espera por uma licença de cultivo.
Em Leamington, a uma hora de voo ao sul de Toronto, pode-se ver como funciona o cultivo em grande escala. Durante muito tempo, na cidade situada na mesma latitude de Barcelona, apenas tomates e pepinos cresciam – e agora também maconha. Ao contrário do cultivo tradicional com luz artificial, as estufas economizam energia. "Também aproveitamos máquinas da indústria alimentícia", diz Brett Marchand.
O canadense trabalhou primeiro no Exército e depois na indústria da carne. Agora ele está construindo a estufa mais moderna do Canadá para o produtor de cannabis Aphria. "Esse é um setor completamente novo – participar disso é uma chance que só se tem uma vez na vida", afirma Marchand, enquanto caminha rapidamente pela nova estufa da empresa.
Na província de Ontário, há uma loja para cada 300 mil habitantes
Muito hype, pouca substância?
O primeiro de três pavilhões está atualmente em fase de teste. Ali se podem ver plantas de cannabis até perder de vista. Braços robóticos colocam pequenas mudas em vasos. As plantas são movimentadas em esteiras automatizadas. "O mercado está crescendo o tempo todo. Estamos longe de chegar ao fim", relata Marchand. "Cada vez que produzimos mais, são abertas novas lojas."
Segundo ele, o equivalente a 65 milhões de euros foi destinado a um processo de produção totalmente automatizado. Além dos custos de energia, também aqui se quer reduzir os gastos com pessoal.
Na Bolsa de Valores, a empresa já está avaliada em mais de 1 bilhão de euros. Em termos de vendas, Aphria ainda precisa melhorar seu faturamento de 25 milhões de euros. No entanto, muitos investidores acreditam no boom da cannabis.
O setor também foi impulsionado por vários investimentos e participações das indústrias de bebida e tabaco no valor de bilhões de euros. Conhecedora do setor da cannabis, a empresa de análise de mercado Arcview Group espera que o faturamento com as vendas de maconha no Canadá cheguem a 4 bilhões de euros até 2024.
Em relação à legalização canadense, o jornalista Mark Rendell diz estar decepcionado com os produtores: "Muitos prometeram o paraíso na terra" para angariar dinheiro de investidores, afirma.
"Então o choque foi grande quando ficou claro o quanto eles ficaram abaixo das expectativas", explica Rendell, estimando que pode levar até três anos para que haja um equilíbrio entre oferta e demanda no Canadá.
Para as empresas de cannabis voltadas para o mercado internacional, o êxito da legalização da maconha no Canadá será decisivo. Mas será que essa legalização vai conseguir suprimir o mercado negro? Será que vai conseguir fazer com que o número de consumidores não aumente e que mais jovens não consumam cannabis?
Se isso acontecer, então o plano das empresas deve funcionar, e a legalização canadense pode fazer escola. Para responder a essas questões, no entanto, os dados ainda são muito escassos, pouco menos de um ano após a legalização.
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