O método, que tem como alvo a inflamação, inibe uma molécula de interleucina
Peter Ubel
Forbes
Em um recente artigo do “New York Times”, o médico e autor Siddhartha Mukherjee escreveu sobre um teste clínico que teria indicado uma surpreendente conexão entre doenças cardiovasculares e câncer. Mukherjee é um autor aclamado, tem textos publicados no “The New Yorker” e no “The New York Times” regularmente, e ganhador de um prêmio Pulitzer por seu livro best seller “O Imperador de Todos Os Males”. A dúvida é se a popularidade de suas obras o levaram a enaltecer um tratamento que, embora promissor, não é comprovado.
O método, que tem como alvo a inflamação, inibe uma molécula de interleucina (um tipo de proteína produzida principalmente pelos leucócitos, cuja função é a ativação ou supressão do sistema imune e a indução de divisão de outras células). Os pesquisadores conduziram um grande estudo clínico para observar se isso reduziria o tipo de inflamação que danifica as artérias. Mukherjee não escreveu sobre a droga por causa de sua capacidade de prevenir ataques cardíacos ou derrames. Em vez disso, ele estava animado com a pesquisa porque uma análise secundária dos dados mostrou uma “queda em toda a mortalidade por câncer” e uma “forte diminuição” nas mortes por câncer de pulmão.
O médico sabe que análises secundárias como essa precisam ser encaradas com cautela. A avaliação de resultados de um estudo e as estatísticas do acaso preveem que a intervenção irá falsamente parecer reduzir algum tipo de problema médico ou outro. Ele até reconhece que essa descoberta precisa ser feita mais uma vez. No entanto, Mukherjee não está contente em pedir aos leitores que permaneçam em estado de cautela científica, proclamando que “se o benefício se sustentar em testes futuros, a inibição da interleucina-1-beta poderia, provavelmente, se classificar entre as estratégias de prevenção mais eficazes da história recente do câncer”.
O problema da argumentação de Mukherjee é que ele a enfraquece com a hipérbole “se-então”. Se os testes forem confirmados, o tratamento pode ser uma excelente forma de reduzir o número de mortes pela doença. Mas se eles não forem, será uma outra droga promissora que falhou.
Mukherjee combina essa falta de imprudência com uma analogia poética, que abre caminho para uma das palavras mais perigosas nos relatórios de saúde – milagre.
“É como se tivéssemos entrado no porão de uma casa nova, encontrado a caixa de fusíveis, aprendido a ler a linguagem codificada das etiquetas e – na escuridão parcial – puxado apenas um interruptor. E, por um milagre, apenas as luzes da sala de estar do andar de cima se acenderam.” No entanto, a medicação antiinflamatória sobre a qual Mukherjee escreveu não se qualifica como um milagre, e talvez nunca seja.
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