No Brasil, a Anvisa já liberou 14 produtos medicinais derivados de cannabis e que podem ser encontrados em farmácias de todo o país
(foto: Pexels/Divulgação )
O número de pacientes que buscam por medicamentos deste perfil vem aumentando a cada ano
Amanda Serrano* | Estado de Minas
Os tratamentos à base de cannabis medicinal para problemas como dor crônica, epilepsia, esclerose múltipla, autismo, transtornos de ansiedade e sintomas associados ao câncer vêm ganhando espaço na medicina atual.
Por ter sua eficácia comprovada em diversos estudos científicos, cresce a cada ano o número de pessoas que buscam por medicamentos deste perfil. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2021 foram autorizadas 40.191 importações desses itens, ante 19.150 em 2020, um aumento de 109,8%.
De acordo com dados da Kaya Mind - empresa de inteligência de mercado para o setor, considerando todas as prescrições feitas desde fevereiro de 2019, Minas Gerais é o terceiro estado com o maior número de prescrições, 7%. Em primeiro lugar, aparece São Paulo (41% do número total), seguido por Rio de Janeiro (19%).
No Brasil, a Anvisa já liberou 14 produtos medicinais derivados de cannabis e que podem ser encontrados em farmácias de todo o país. Esses remédios só podem ser vendidos mediante prescrição médica e é aí que a questão esbarra em um entrave: ainda são pouquíssimos os médicos prescritores dessa terapêutica. De acordo com a agência nacional, o país possui 2.100 profissionais aptos. O número, no entanto, equivale a menos de 0,5% da quantidade total de médicos no Brasil.
Segundo Kaya Mind, considerando as informações disponíveis até 2019, os especialistas em tratamento com cannabis são distribuídos por áreas de atuação. As prescrições realizadas por médicos da Neurologia somaram 1.814, já que diversas condições médicas neurológicas são tratadas por meio dos fitocanabinoides da cannabis e envolvem estudos mais conhecidos em relação à planta, como a esclerose múltipla, a dor neuropática, o mal de Parkinson e a demência de Alzheimer.
Na sequência, no mesmo ano, apareceram 941 receitas da Psiquiatria, área que envolve tratamentos voltados à depressão, ansiedade, insônia, entre outros. Prescrições para pacientes de Neuropediatria apareceram em terceiro lugar (367), sendo mais comuns para os casos de epilepsia infantil.
"A classe médica necessita se aprofundar mais no potencial da cannabis medicinal, porque, sem conhecimento, não há segurança para prescrever. Por diversas vezes, estive diante de pacientes refratários ao nosso arsenal terapêutico habitual e, cada vez mais, eles e seus familiares me questionavam sobre a possibilidade do tratamento com cannabis e o fato de eu não dominar o assunto me inquietava", conta a neurocirurgiã Patrícia Montagner, que fundou a WeCann Academy, única instituição da América Latina que realiza cursos voltados à Medicina Endocanabinoide, exclusivamente para médicos.
A fundadora da WeCann lembra que a temática da cannabis medicinal é pouco ou nada abordada nas etapas de formação médica. Ela salienta que não há acesso a esse conhecimento na Faculdade de Medicina, nem na residência médica e, ainda, são poucas as opções de livros e cursos qualificados que ensinam o passo a passo dessa terapêutica e como prescrever na prática, com segurança e bons resultados.
"Contudo, é nossa responsabilidade nos apropriarmos desse conhecimento e oferecer aos pacientes um tratamento com produtos à base de cannabis seguro, eficaz e assertivo", completa a especialista, que tem em seu rol de atendimento mais de mil pacientes tratados com medicamentos à base da planta.
Outro ponto que trava o avanço da questão é o estigma que se estabelece quando o assunto é cannabis. "Há muita confusão entre uso medicinal e o uso recreativo, tornando-se esse o principal empecilho para a popularização dos benefícios da Medicina Endocanabinoide no Brasil", declara.
Para a profissional, é de extrema importância combater a ignorância em relação ao tema e, nesse sentido, a comunidade médica é a liderança natural e correta no esforço de esclarecimento da sociedade. Mas, para tomar à frente, precisa se preparar melhor.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Eduardo Oliveira
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