Mirian Goldenberg: Você também está com medo?

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Folha de S.Paulo

Colunista: Mirian Goldenberg*

Estudo da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostrou que o Brasil sofre uma verdadeira epidemia de ansiedade. O país tem o maior percentual de pessoas ansiosas do mundo: 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população).

As crises econômicas e políticas, o ódio, a violência e o medo tomaram conta do país e têm afetado a saúde dos brasileiros, como mostra um engenheiro de 63 anos.

“Estou deprimido com a situação do país. Tenho muito medo, não sei como proteger meus filhos e netos dessa tragédia social. Sinto uma espécie de vazio permanente, uma angústia existencial, uma falta de sentido da minha vida. Não consigo enxergar saída, não tenho esperança que vai melhorar. Muitos que conheço estão desesperados e se mudando para outros países para buscar uma vida mais tranquila e segura para a família. Mas, com a minha idade, como vou recomeçar lá fora?”

Uma professora, de 62 anos, foi parar no hospital como resultado de um ataque de pânico.

“Achei que estava morrendo: fiquei gelada, pálida, vomitei sem parar, tive diarreia e taquicardia. Somos a nação Rivotril: só quem toma antidepressivo ou ansiolítico consegue sobreviver às perversidades e loucuras cotidianas. Não suporto mais tanta gente odienta, até mesmo na família. Meu ambiente de trabalho é tóxico, um dos culpados das minhas crises de ansiedade e insônia. Mas é muito pior para os milhões de desempregados. Tem que ser muito insensível para não sofrer física e psicologicamente com o desastre que estamos testemunhando no Brasil.”


Quando tudo parece sem sentido e só enxergamos pessoas com discursos de ódio, intolerância e violência, parece impossível encontrar um propósito que dê significado às nossas vidas e aponte um caminho para uma vida um pouco mais segura e saudável.

Em tempos tão dramáticos, será que existe algum brasileiro que não se sinta doente, ansioso ou deprimido.

 

(*) Mirian Goldenberg é Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio, é autora de "A Bela Velhice".

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