Correio Braziliense
20/02/20 - Para um musicista, não pode haver pesadelo pior que perder o movimento das mãos. Para evitar que isso acontecesse, uma violinista ajudou os médicos a não danificarem uma importante zona de seu cérebro, tocando seu instrumento durante a operação para extrair um tumor. A operação ocorreu no mês passado e foi anunciada ontem pelo hospital King´s College, de Londres.
Os cirurgiões desenvolveram uma técnica que lhes permitiu verificar, em tempo real, quais as áreas do cérebro responsáveis pelo movimento das mãos e, assim, não afetá-las durante o delicado procedimento cirúrgico. A violinista Dagmar Turner, 53 anos, integrante da Orquestra Sinfônica da Ilha de Wight (sul da Inglaterra), foi diagnosticada com um tumor cerebral de crescimento lento em 2013. Ela pediu para ser operada quando a massa estivesse desenvolvida.
A ideia de fazê-la tocar seu instrumento, despertando-a da anestesia no meio da operação, teve como objetivo proteger células importantes situadas no lóbulo frontal direito do cérebro. Localizada ao lado do setor operado, essa zona controla, entre outras coisas, a mão esquerda, essencial para tocar o violino. “A ideia de não poder tocar mais me deixava arrasada”, afirmou Turner, que agradeceu à equipe médica por ter feito “todo o possível”, chegando a determinar em que posição operá-la para que ela pudesse tocar.
“Fazemos cerca de 400 ressecções (extirpação de tumores) por ano, o que com frequência implica despertar os pacientes para fazerem testes de linguagem”, disse o cirurgião-chefe na operação, Keyoumars Ashkan. “Mas foi a primeira vez que fiz um paciente tocar um instrumento.” Segundo ele, 90% do tumor foi extirpado, incluindo todas as zonas suspeitas de registrar uma atividade agressiva, conservando o uso pleno da mão esquerda da violinista. “Graças a eles, espero me reintegrar, muito em breve, à minha orquestra”, destacou Turner, que deixou o hospital três dias depois da operação.
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