Entre cinco e dez crianças nascem anualmente na Suíça com atrofia muscular espinhal (Keystone / Sebastian Gollnow)
Por Jessica Davis Plüss, Tybalt Félix (RTS) e Valentin Tombez (RTS)
Uma reportagem transmitida pela televisão suíça mostra que as multinacionais farmacêuticas suíças preferem comprar desenvolvimentos científicos do que realizá-los nos seus laboratórios.
Quando a FDA (Food and Drug AdministrationLink externo, a agência americana que regula fármacos e produtos alimentícios) aprovou o medicamento Zolgensma, no ano passado, o preço virou tema de manchetes. Trata-se de uma terapia genética em dose única para tratamento da atrofia muscular espinal (AME), uma doença genética incapacitante e frequentemente mortal que afeta sobretudo crianças pequenas. Ao custo de 2,1 milhões de dólares (2,1 milhões de francos suíços ou 9,44 milhões de reais), a dose injetável foi batizada de remédio mais caro da história.
O Zolgensma não deve manter esse título por muito tempo: atualmente há mais de 200 terapias celulares e genéticas em desenvolvimento. Isso desperta preocupação com a capacidade de sistemas de saúde sobrecarregados arcarem com os custos dessas curas "milagrosas".
Além de alegar custos de pesquisa e desenvolvimento, a Novartis justificou o preço do fármaco pelo seu valor em anos adicionais de vida, qualidade de vida e economia para os sistemas de saúde.
Uma reportagemLink externo transmitida pela RTS (Canal da Televisão Pública na parte francófona) em fevereiro descobriu que as grandes indústrias farmacêuticas preferem investir na aquisição de empresas menores que possuam drogas em estágio avançado de desenvolvimento do que no desenvolvimento próprio.
Das 16 grandes farmacêuticas investigadas, a Roche e a Novartis são as que mais recorreram a essas aquisições. As duas gigantes do setor de saúde com sede em Basel incorporaram, respectivamente, 49 e 45 empresas desde o ano 2000.
O caso Zolgensma
A história do Zolgensma ilustra uma tendênciaLink externo mais ampla do setor, pela qual medicamentos passam pelas mãos de diferentes pesquisadores - muitos dos quais recebem financiamento de universidades, instituições beneméritas ou contribuintes - antes de ser adquiridos em estágios avançados de desenvolvimento e entrar no portfólio de uma multinacional.
Em 2007, uma equipe de cientistas franceses do Centro GénéthonLink externo, que faz pesquisas sem fins lucrativos, descobriu um método de transmissão de genes saudáveis utilizando um vetor viral. Quando chegou a hora de transformar a descoberta em remédio, eles foram absorvidos pela startup americana AveXis, que investiu 530 milhões de francos suíços, comprou a patente e passou vários estágios, incluindo testes clínicos em humanos.
Em 2018, um ano antes da aprovação da droga pelo FDA, a Novartis arrebatou a AveXis e os direitos de comercialização do Zolgensma por 8,7 bilhões de francos suíços. Com essa aquisição, também adquiriu competências decisivas em terapia genética, especialmente no campo da neurociência.
Todavia, a diferença entre 530 milhões de francos suíços e a compra da AveXis com ágio de 72% sobre o preço médio das ações e, finalmente, o preço de US$ 2,1 bilhões pela Zolgensma, levanta questões.
Embora a Novartis afirme que, junto com a AveXis, investiu mais de US$ 1 bilhão no desenvolvimento do medicamento, incluindo os custos da ampliação dos testes clínicos e das instalações de produção, a empresa não arcou com os riscos inerentes aos estágios iniciais da descoberta de um novo fármaco.
Além disso, não apenas a Généthon foi financiada por uma associação sem fins lucrativos, mas também o fundador da AveXis recebeu US$ 6,3 milhões em financiamento público para suas pesquisas nos Estados Unidos ao longo da carreira. Outra patente adquirida pela farmacêutica também recebeu quase US$ 120 milhões em financiamento público dos Estados Unidos.
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