Em alguns indivíduos magros, uma mutação no gene MC4R está sempre ativa, o que significa que eles se sentem sempre saciados. Foto: Susan Wright para The New York Times
Mutação genética faz pessoas se sentirem saciadas – Os sujeitos dos estudos sempre foram magros. Nunca comiam muito, nem estavam obcecados com a próxima refeição. Agora, os pesquisadores da Grã-Bretanha poderão saber por que. Eles carregam uma alteração genética que reduz o apetite. Também reduz suas chances de ficarem diabéticos ou cardíacos.
O estudo, publicado no mês passado na revista especializada Cell, baseou-se em dados do Biobank da Grã-Bretanha, que inclui meio milhão de pessoas dos 40 aos 69 anos. Um segundo estudo, publicado no mês passado na revista, usou dados desta população a fim de obter uma pontuação de riscos genéticos relativa à obesidade. Ela permite prever, desde a infância, quem está em grave risco de se tornar obeso.
Juntos, os dois estudos confirmam uma verdade. Existem razões biológicas pelas quais alguns indivíduos lutam assiduamente com o próprio peso, enquanto outros não, e os impactos biológicos muitas vezes são vistos no apetite, e não no metabolismo. As pessoas que ganham peso excessivo ou lutam para se manterem magras sentem mais fome do que as naturalmente magras.
O estudo sobre a mutação que reduz o apetite foi chefiado por Sadaf Farooqi, professora da Universidade de Cambridge, e Nick Wareham, um epidemiologista da mesma escola. O estudo baseou-se na pesquisa de Farooqi sobre um gene, o MC4R. As pessoas com mutações do MC4R tendem a ser obesas. Os pesquisadores registraram até 300 mutações por dia deste gene, e elas são a causa mais comum da obesidade. As mutações do gene aparecem em 6% das crianças com obesidade grave.
Os pesquisadores concluíram que as mutações destroem a saciedade, a sensação de satisfação depois de uma refeição. Normalmente, quando as pessoas consomem uma refeição, o gene é ativado e envia um sinal que diz às pessoas que elas estão satisfeitas. Depois ele é desligado.
Entretanto, algumas outras carregam uma mutação do MC4R que impede que o gene funcione. Elas nunca recebem o sinal. Estão sempre famintas e muitas vezes acima do peso. O risco de sofrerem de diabetes e de uma doença cardíaca é 50% superior ao das que não apresentam tal mutação.
No novo estudo, Farooqi e outros constataram que, em alguns indivíduos magros, o gene MC4R está sempre ativado; elas se sentem sempre satisfeitas. Cerca de 6% da população tem estas mutações. “O MC4R é um importante instrumento de controle do peso, senão o mais importante”, ela afirmou. A pesquisa poderá conduzir à produção de medicamentos que protejam contra a obesidade.
No outro estudo dos dados do Biobank da Grã-Bretanha, Amit V. Khera, cardiologista do Massachusetts General Hospital e outros buscavam uma maneira de prever, em uma imensa coleção de minúsculas variações do DNA, quem está destinado a lutar com o peso. Os cientistas montaram uma pontuação de risco de obesidade baseada em alterações do DNA. As pessoas com as maiores pontuações pesam 13 quilogramas a mais, em média, do que as que têm pontuações menores. Entre os muito obesos, 60% tinham uma pontuação elevada.
Mas a população do Biobank da GB era composta por adultos. Os cientistas fizeram então outros estudos genéticos. No nascimento, os bebês com escores elevados tinham o mesmo peso dos bebês com escores baixos, constataram os cientistas. Aos três anos e meio, estas crianças eram mais pesadas.
Aos 8 anos, já eram obesas, e no final da adolescência pesavam em média 13 quilogramas acima das que tinham baixas pontuações de risco. “Estes oito anos podem ser mágicos e dar-nos uma oportunidade única de fazer a diferença”, disse Joel Hirschhorn, geneticista do Boston Children’s Hospital. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
Fonte: O Estado de S. Paulo
Comentários