Nanopartículas apresentam dupla função contra o câncer

Imagem: Antonio Scapinetti

Nanopartículas apresentam dupla função contra o câncer

"Nos ensaios laboratoriais que realizamos, nós comprovamos que o sistema não somente consegue promover a entrega do medicamento, como faz a sua liberação de forma controlada," conta Beatriz Carvalho. 

Nanotecnologia contra o câncer

Pesquisadores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) desenvolveram uma nanotecnologia para transportar medicamentos na superfície de nanopartículas, que os liberam de forma controlada no organismo, e ainda servem como meio de aplicação de uma outra técnica de tratamento do câncer.

Para isso, Beatriz Carvalho e Ítalo Mazali criaram nanopartículas que apresentam simultaneamente propriedades magnéticas e luminescentes.

As nanopartículas são compostas por um núcleo magnético, constituído por nanoaglomerados de magnetita, e por uma "casca" de sílica, na qual são ligadas moléculas luminescentes. Submetidas a um campo magnético alternado, as nanopartículas que formam o núcleo se aquecem e podem ser empregadas no tratamento de tumores cancerígenos pelo método da hipertermia. Já o complexo ligado à casca funciona como uma espécie de termômetro, permitindo o controle da temperatura gerada durante o processo.

De acordo com Beatriz, um dos grandes desafios foi sintetizar as nanopartículas de magnetita que compõem o núcleo do sistema. Ela explica que o tamanho das partículas interfere diretamente nas características delas: "Se forem muito grandes, da ordem de 100 nanômetros ou mais, elas perdem uma propriedade importante denominada superparamagnetismo. Essa propriedade faz com que as partículas se aqueçam quando submetidas a um campo magnético alternado e que parem de se aquecer quando o campo é cessado. Trata-se de um aspecto importante porque permite controlar com precisão uma possível abordagem terapêutica por hipertermia", explica a pesquisadora.

Hipertermia

Nos testes laboratoriais, as nanopartículas levaram apenas 10 minutos para atingir temperaturas de até 70 graus Celsius quando submetidas ao campo magnético alternado, bem acima da necessária nos tratamentos por hipertermia, que gira em torno de 40 a 45 graus Celsius. A temperatura atingida é monitorada através das moléculas luminescentes e pode ser ajustada alterando o tempo de aplicação do campo magnético.

Terminado o tratamento da hipertermia, as mesmas nanopartículas são usadas para liberar os medicamentos.

"Da forma como o sistema atua, ele primeiro ataca o tumor por hipertermia, fragilizando-o. Depois, complementa a terapêutica entregando e liberando controladamente o fármaco no ponto desejado. Um dado importante é que o sistema não apresenta qualquer característica citotóxica, ou seja, ele não provoca nenhum efeito nocivo no organismo.

"Testamos essas funções do sistema de forma separada em laboratório, e constatamos a eficácia de cada uma. O próximo passo será realizar ensaios em modelo animal, para verificar se essas funções ocorrem de forma simultânea", contou Ítalo.

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