Farmacêutica suíça anuncia que vai encerrar ensaios clínicos com medicamento antimalária para tratamento de covid-19 devido à falta de participantes. Empresa havia doado cerca de 130 milhões de doses da droga.
A farmacêutica suíça Novartis anunciou na noite desta sexta-feira (19/06) que está suspendendo os ensaios clínicos com o medicamento antimalária hidroxicloroquina para combater o coronavírus, devido a dificuldades de encontrar participantes, enquanto dados de outros estudos põem em dúvida a eficácia da droga.
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Em 20 de abril último, o grupo farmacêutico anunciou que havia feito um acordo com a agência americana de medicamentos, a Food and Drug Administration (FDA, na sigla em inglês), para realizar ensaios clínicos, de fase 3, de hidroxicloroquina em pacientes com covid-19 hospitalizados.
Esses estudos tinham como objetivo avaliar o uso desse tratamento em cerca de 440 pacientes nos Estados Unidos.
Mas, em 15 de junho, as autoridades de saúde dos Estados Unidos retiraram a autorização para usar dois tratamentos para a covid-19, cloroquina e hidroxicloroquina, que chegaram a ser defendidos pelo presidente Donald Trump.
Em comunicado divulgado nesta sexta-feira, a Novartis afirmou que decidiu interromper e encerrar o ensaio clínico, devido a graves dificuldades de recrutamento dos participantes.
"O desafio de recrutamento enfrentado por nosso estudo de hidroxicloroquina tornou improvável que a equipe clínica fosse capaz de coletar dados significativos num prazo razoável para determinar a eficácia de hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com covid-19", informou a Novartis.
A empresa da Basileia disse que seu estudo, até agora, não havia levantado questões de segurança e que não foi possível tirar conclusões sobre a eficácia da hidroxicloroquina, um medicamento também usado no tratamento de doenças inflamatórias como artrite reumatoide e lúpus.
O uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 foi muito além do domínio científico e tornou-se objeto de um debate político em todo o mundo e de divergências na opinião pública.
Na última quarta-feira (17), a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que decidiu interromper os experimentos com hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
A França, onde um controverso médico, o professor Didier Raoult, defendeu a hidroxicloroquina, proibiu em 28 de maio o uso desse medicamento contra a covid-19.
Em março, o presidente Donald Trump afirmou, sem apresentar evidências, que a hidroxicloroquina, quando usada em combinação com o antibiótico azitromicina, tinha "uma chance real de ser um dos maiores divisores de água da história da medicina".
Posteriormente, Trump disse que estava tomando o medicamento preventivamente após dois funcionários da Casa Branca terem sido diagnosticados com covid-19.
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro também defendeu insistentemente o uso da droga contra a covid-19. Discórdias sobre o uso do medicamento teriam levado à demissão dos ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich em menos de um mês.
Após a saída de Teich, o governo mudou o protocolo sobre a droga e ampliou a possibilidade de seu uso em pacientes diagnosticados com o novo coronavírus. Na última segunda-feira (15), o Ministério da Saúde passou também a orientar a aplicação precoce do fármaco em crianças e grávidas infectadas.
A Novartis doou cerca de 130 milhões de doses de hidroxicloroquina, inclusive nos EUA. Há dois meses, o CEO da farmacêutica suíça, Vas Narasimhan, havia classificado o medicamento como a maior esperança da empresa contra o coronavírus.
No mês passado, os EUA forneceram 2 milhões de doses do medicamento ao Brasil, e nesta semana disseram que, apesar de a FDA ter vetado o uso emergencial da droga em seu território, continuarão enviando hidroxicloroquina ao país sul-americano.
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