A OMS (Organização Mundial da Saúde) calcula que um quarto da população do planeta tenha a tuberculose latente, quando a bactéria Mycobacterium tuberculosis, que causa a doença, encontra-se, por assim dizer, adormecida no organismo. Em outras palavras, não há sintomas do mal, como febre e tosse prolongada. O indivíduo também não contamina os demais — a transmissão do bacilo de Kock, outro nome do microorganismo, se dá pelo ar via tosse ou espirro. Quando se inala a bactéria, ela pode se instalar nos pulmões e começar a se multiplicar, provocando uma infecção. Estima-se que existam 30 mil pessoas com tuberculose latente no Brasil.
O problema pode se tornar ativo, sobretudo quando as defesas do corpo estão em baixa. Essa situação é mais frequente em enfermidades como HIV/aids ou se há algum tipo de imunossupressão, caso dos pacientes transplantados. Para ter ideia, indivíduos que vivem com o HIV têm cerca de 25 vezes mais risco de desenvolverem tuberculose ativa em comparação com quem não tem o vírus. De acordo com os CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças), nos Estados Unidos, sem tratamento um em cada dez pacientes com tuberculose latente vai desenvolver a forma ativa da doença.
A boa notícia é que, a partir do ano que vem, o governo federal deve oferecer um novo medicamento para essa forma de tuberculose. Trata-se da rifapentina. “Sua vantagem é que seu esquema de administração é mais curto”, diz o infectologista Luís Fernando Aranha, professor da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein. O remédio é usado por 3 meses, em 12 doses, o equivalente a um comprimido por semana. A opção medicamentosa disponível hoje, a isoniazida, é dada em 180 doses em seis meses ou 270 doses em nove meses. Além de imunodeprimidos, quem teve contato com pacientes com tuberculose também precisa se tratar para evitar a doença sintomática, diz Aranha. De acordo com informações do Ministério da Saúde, a oferta de rifapentina será possível graças à Unitaid.
A instituição internacional, que é parceira da OMS na busca por soluções inovadoras na prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, conseguiu negociar uma redução de 70% no preço do tratamento, passando de US$ 45 para US$ 15. Ainda segundo o ministério, o oferecimento do remédio pelo SUS (Sistema Único de Saúde) será analisado pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde), que assessora a pasta na decisão de incorporar novas tecnologias na rede pública. Agora, a viabilidade financeira está assegurada para a oferta do medicamento às pessoas com tuberculose latente.
A economia deve ser de cerca de US$ 900 mil, considerando a compra do medicamento para tratar 30 mil pessoas no país. A negociação para essa queda do preço foi conduzida pela Unitaid em conjunto com o Fundo Global (de Combate à AIDS, Tuberculose e Malária) e a empresa farmacêutica Sanofi. Com a redução, a expectativa é de que cerca de 100 países tenham condições de disponibilizar o medicamento, além de ajudar a baixar a ocorrência da tuberculose. Em 2018, segundo o Ministério da Saúde, foram diagnosticados 75.717 casos novos de tuberculose ativa ou 36,2 casos para cada 100 mil habitantes no Brasil.
Fonte: UOL
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