Dona do Wegovy e do Ozempic continuará a buscar oportunidades em obesidade, diabetes e comorbidades associadas
(Bloomberg) — O CEO da Novo Nordisk (N1VO34), Mike Doustdar, pode ter perdido para a Pfizer (PFIZ34) na disputa de US$ 10 bilhões pela aquisição da desenvolvedora de medicamentos para obesidade Metsera, mas não espere que ele desista de fazer negócios tão cedo, enquanto a empresa dinamarquesa busca recuperar o terreno perdido no mercado em expansão de perda de peso.
A Novo, dona do Wegovy e Ozempic, continuará a buscar oportunidades em obesidade, diabetes e suas comorbidades associadas, segundo pessoas familiarizadas com a situação. A empresa via a Metsera como uma transação complementar, e não uma aquisição transformacional, disseram essas pessoas.
No fim, a farmacêutica dinamarquesa decidiu desistir da disputa na manhã deste sábado (8), depois que a Pfizer igualou sua última oferta em uma guerra de lances que elevou o preço a níveis impressionantes. Para complicar ainda mais, a Metsera informou que recebeu uma ligação da Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC) apontando riscos regulatórios potenciais na estrutura do acordo que havia proposto.
Para a Pfizer, a transação era algo que o CEO Albert Bourla não podia perder, enquanto o gigante farmacêutico americano corre para ganhar espaço no mercado. O verdadeiro vencedor foi a Metsera, já que a competição por seus — ainda não comprovados — ativos inflacionou sua avaliação.
“Voltaremos ao trabalho e focaremos em nosso próprio pipeline promissor, acelerando tudo enquanto continuamos a buscar quaisquer negócios complementares de desenvolvimento dentro de diabetes e obesidade que considerarmos adequados”, disse Doustdar no sábado, em um e-mail para sua equipe executiva que foi visto pela Bloomberg.
Este é o primeiro grande revés para o executivo, que assumiu o cargo de CEO em agosto, substituindo Lars Fruergaard Jorgensen, que foi afastado após não conseguir manter a liderança inicial da Novo no mercado de obesidade. Doustdar imediatamente acelerou os planos, incluindo o corte de 11% da força de trabalho e a implementação do que chamou de “cultura de desempenho”.
As ações perderam 53% do seu valor até agora neste ano, depois que a empresa, que foi pioneira na revolucionária onda de medicamentos para perda de peso, perdeu sua posição de liderança para a Eli Lilly & Co. Uma série de outras farmacêuticas — incluindo a Pfizer, que anteriormente fracassou em seu próprio esforço para desenvolver um medicamento para obesidade — agora estão entrando com força no mercado.
Portfólio da Novo
A busca agressiva de Doustdar pela Metsera levantou dúvidas sobre a força do portfólio da Novo. Ainda assim, essas preocupações podem ser amenizadas pelo alívio de não estar desembolsando US$ 10 bilhões por uma startup que ainda não lançou um produto no mercado.
A Novo insistiu que a estrutura de sua proposta estava “em conformidade com as leis antitruste”, mas disse que a decisão de desistir foi motivada pelo desejo de manter disciplina financeira e valor para os acionistas.
No futuro, a Novo “avaliará oportunidades de desenvolvimento de negócios e aquisições que atendam aos seus critérios de retorno e alocação de capital e que avancem seus objetivos estratégicos”, afirmou em comunicado.
Mesmo antes do resultado sobre a Metsera ser conhecido, Doustdar já indicava que a Novo continuaria sua busca por negócios. A empresa “olhará para todos os ativos, independentemente de onde foram criados e por quem estão sendo criados”, disse ele em entrevista após a divulgação dos resultados da empresa nesta semana.
“Eu não começo pensando no tamanho do negócio. Começo pensando se podemos nos beneficiar desses ativos em combinação com o que estamos fazendo”, afirmou.
A empresa agora pretende lançar uma rede ampla para potenciais alvos enquanto define sua estratégia futura de fusões e aquisições, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto. Ela não se limitará apenas a desenvolvedores de medicamentos para perda de peso, mas também buscará oportunidades para tratar doenças associadas à obesidade, as chamadas comorbidades, disse a fonte.
A Novo já deu um passo nessa direção no mês passado com um acordo de US$ 5,2 bilhões pela Akero Therapeutics, desenvolvedora de um tratamento experimental para MASH, uma doença hepática ligada à obesidade.
Redução de projeções
À medida que o Wegovy da Novo perde participação de mercado para o Zepbound da Lilly, a empresa dinamarquesa cortou sua orientação financeira pela quarta vez neste ano. Um acordo com o governo Trump para reduzir o preço dos medicamentos para perda de peso nos EUA também pesou nas ações.
Isso aumenta a pressão sobre os produtos de próxima geração da Novo. A empresa tem vários tratamentos em desenvolvimento, incluindo uma versão de alta dose da injeção Wegovy, que, segundo a Novo, oferece o mesmo potencial de perda de peso que o Zepbound da Lilly. Mas seu tratamento injetável de próxima geração para obesidade, o CagriSema, decepcionou até agora, com perda de peso menor do que o esperado.
A Novo submeteu uma versão em comprimido do semaglutida — o ingrediente principal do Ozempic e Wegovy — para avaliação da Food and Drug Administration (FDA) dos EUA. Também tem outro medicamento experimental para obesidade em desenvolvimento, chamado amycretin, que pode ser formulado como injeção ou comprimido.
Apesar dos recentes contratempos em relação à Lilly, a Novo tem um potencial divisor de águas, mesmo que seja uma aposta: dois estudos testando uma versão em comprimido do semaglutida como possível tratamento para Alzheimer leve. Os resultados desses estudos são esperados até o final do ano.
E, embora a Novo tenha perdido a disputa pela Metsera, Doustdar pode ter conseguido mudar a percepção da empresa como conservadora e lenta, segundo analistas. Sua abordagem, incluindo os cortes de empregos, causou certo desconforto na Dinamarca.
“Nova era”
“É uma nova era na Novo, e eles têm que agir de acordo com os mercados em que estão”, disse Frederik Aakard, consultor da empresa dinamarquesa Dema Partners, especialista em aquisições farmacêuticas. “É um jogo diferente que eles estão jogando agora. Estão jogando de forma muito mais americana, com uma abordagem cultural diferente da que tinham antes.”
Sua disciplina financeira pode ser também um ponto positivo, já que alguns investidores estavam preocupados que Doustdar pagasse demais em seus esforços para retomar a liderança na batalha contra a obesidade.
“Agir rápido precisa estar acompanhado de precisão, pois simplesmente quebrar as coisas é uma receita para o desastre”, disse Evan David Seigerman, analista do BMO Capital Markets, em nota antes da decisão sobre a Metsera. “A Novo não pode se dar ao luxo de ser imprudente e deve agir estrategicamente para corrigir o rumo que está tão fora de curso.”
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