O Globo
Problema dermatológico tardio, que acomete muitas mulheres e homens na faixa dos 30 ou 40 anos, pode trazer consequências psicológicas, como depressão, ansiedade e isolamento social. Saiba como contornar seus efeitos.
Não importa o quanto digamos valorizar a beleza interior das pessoas (em vez da aparência externa), o que vemos ao visualizar alguém pela primeira vez pode influenciar nossa percepção do valor da pessoa. Pelo menos, é o que temem muitos adultos com acne. que chegam a evitar encontros sociais ou profissionais para que suas manchas faciais não resultem em uma má impressão ou mesmo rejeição.
A acne é geralmente considerada um problema da adolescência que deveria diminuir nos anos de faculdade e se tomar passado na hora de encontrar um emprego. No entanto, segundo uma pesquisa publicada em 2008com 1.013 adultos, 35% das mulheres e 20% dos homens disseram ter acne aos 30 e poucos anos. Mesmo entre aqueles com 50 anos ou mais, 15% das mulheres e 7% dos homens disseram que ainda enfrentam o problema. Especialistas dizem que a acne tem sido um problema comum cm mulheres adultas nos últimos anos.
Em alguns casos, é a acne que que persistiu ao longo dos anos, mas outros desenvolveram o problema pela primeira vez na idade adulta.
— Como poucas pessoas têm. A acne adulta acaba sendo mais estigmatizada socialmente do que a adolescente e pode ter um tremendo impacto na vida de uma pessoa —, disse John S. Barbieri, especialista do Hospital Brigham and Womeiis, em Boston.
Natalie Kretzing. estudante de medicina de 27 anos, teve acne moderada na adolescência, que se tornou acne cística grave aos 22 anos.
—Queria ser respeitada como uma jovem profissional, mas minha acne me fazia sentir como se eu não fosse adulta. Gastava muito tempo com minha aparência e com maquiagem, era cansativo, e muitas vezes acabava cancelando planos. Eu não poderia fazer nada de espontâneo porque demorava muito para ficar pronta.
EFEITO DAS NOVAS DIETAS
Embora possa parecer um problema de pele superficial, a acne é realmente um distúrbio complexo que resulta de uma interação entre vários componentes da pele e os hormônios. As lesões de acne ocorrem quando os folículos ficam obstruídos com óleo e células mortas da pele que, j untos, fornecem forragem para as bactérias. O desequilíbrio de hormônios e estresse emocional podem piorar o problema.
A comida sempre foi culpada, e agora há evidências crescentes de que as dietas modernas podem de fato influenciar a incidência e a gravidade da acne, relatou Barbieri. Embora algumas pessoas reajam negativamente a um determinado alimenta cada vez mais há uma associação ao consumo de leite e alimentos ricos em açúcares adicionados e amidos refinados. Esses alimentos aumentam a insulina e hormônios que podem estimular o desenvolvimento da acne.
Em um estudo com 50 mulheres adultas com acne de moderada a grave, recém-publicado no JAMA Dermatology, Barbieri e seus colegas revelaram o preço que a condição pode ter sobre o bem-estar emocional. As mulheres costumavam ter depressão, ansiedade. e se isolavam.
Assim como Kretzing, elas se sentiam menos confiantes no trabalho e no namoro, e muitas vezes tomavam medidas obsessivas para esconder a acne dos outros. E as lesões não precisam ser extensas ou especialmente e graves para que a acne seja incômoda.
—O problema é dimensionado pelo paciente. Alguém com apenas duas ou três espinhas pode ficar muito perturbado —disse Emmy Graber, presidente do Instituto de Dermatologia de Boston, concluindo: —Se as pessoas se incomodam o suficiente para procurar meus cuidados, a acne delas é séria o suficiente para ser tratada. Eles podem ficar constrangidos no trabalho ou ao conhecer novos clientes. Mesmo nas chamadas do Zoom, eles podem tentar posicionar a câmera de forma que sua acne seja menos evidente.
MÚLTIPLOS TRATAMENTOS
A maioria das pessoas com acne tenta tratá-la primeiro com produtos sem prescrição, como retinoides tópicos, que podem ser muito úteis para aqueles com surtos leves e esporádicos. Os retinoides tópicos podem tomar a pele mais suscetível a queimaduras solares, portanto os que os utilizam devem ter cuidado ao sol.
Casos mais graves podem exigir uma combinação de produtos sem receita e um tratamento oral com prescrição, como o Accutane (isotretinoí- na), um derivado da vitamina A que reduz a quantidade de óleos liberados pelas glândulas na pele. Como os retinoides podem causar defeitos congênitos graves, as mulheres que usam Accutane devem garantir que não engravidarão.
Os médicos também prescrevem antibióticos orais há muito tempo, que podem ser tomados por anos para manter a acne sob controle, mas esse regime corre o risco de contribuir para o surgimento de bactérias resistentes aos medicamentos. Mais recentemente, para mulheres com acne relacionada a hormônios, os antibióticos de longo prazo foram substituídos pela espironolactona, medicamento de prescrição médica para a pressão arterial. Esta droga provou ser altamente eficaz para mulheres como Kretzing. que conseguiu controlar o problema.
—Fez uma grande diferença: sou mais despreocupada, espontânea e confiante.
Na verdade, o agora bem-sucedido tratamento para sua acne a inspirou a ir para a faculdade de medicina e, assim, ela espera ajudar pacientes como ela a obter o tratamento certo para sua acne o mais rápido possível. A resolução tardia da acne cística como a que ela teve pode resultar em cicatrizes permanentes.
Qualquer que seja o tratamento utilizado, é preciso paciência: pode levar de 6 a 8 semanas para veros resultados.
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