Remédio que adoece o bolso

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Desde domingo está autorizado em todo o país o reajuste de remédios. O aumento nos preços estabelecido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed) e liberado pelo governo federal pode chegar a 4,33% para remédios vendidos com receita. É mais que o índice de inflação oficial, o IPCA, acumulado de março do ano passado a fevereiro deste ano, de 3,89%, e praticamente anula a alta do salário mínimo, que foi de 4,6%.

Para definir o percentual de correção das tabelas, entram na conta da Cmed a variação do custo de vida e fatores como produtividade da indústria, alterações no câmbio e despesas com energia elétrica. Sim, tudo isso precisa ser considerado pelos fabricantes de remédios para definição de preços. Mas e o outro lado, a parte mais frágil da cadeia, o consumidor? Muitas vezes sem trabalho (são 13,1 milhões de desempregados no Brasil) e com renda baixa (entre os 40% dos brasileiros mais pobres, o rendimento médio não passa de R$ 376, menos que o preço de muitos medicamentos), qualquer aumento pesa no bolso.

Penaliza especialmente um grupo da população que costuma fazer uso contínuo de remédios: os aposentados. No ano passado, aqueles que recebem acima de um salário mínimo tiveram reajuste pelo INPC de somente 3,43%. De acordo com levantamento da Fundação Getulio Vargas, os medicamentos comprometem 6% do orçamento de famílias com idosos. A alta do custo de vida calculada para esse grupo, a chamada inflação da terceira idade, o IPC-3i, foi maior que a da média geral da população no ano passado. Chegou a 4,75%.
Em defesa do governo e da indústria, entidades ligadas aos fabricantes afirmam que os aumentos nos preços não são imediatos, considerando que ainda há estoques com valores antigos e que o percentual definido funciona como um teto. Não quer dizer, portanto, segundo elas, que haverá alta no limite e generalizada. Será?

De volta à ponta mais frágil, cabe aos órgãos que representam o consumidor fiscalizar e denunciar abusos. Pesquisas sempre mostram variações expressivas de preços entre uma farmácia e outra. Sem contar que, na onda dos aumentos, itens que não são regulados pelo governo podem acabar sendo remarcados. Semanas antes de ser anunciado o reajuste, redes de drogarias estavam alertando a clientela da alta que estava por vir, na “boa intenção” de que antecipasse compras sem reajuste. Só não avisavam que nem todos os medicamentos entram na lista dos aumentos. Analgésicos e antitérmicos, por exemplo, com enorme concorrência no mercado, não têm os preços controlados. Significa que não há limite para reajustes. Nesse caso, tratar a dor de cabeça por causa das contas domésticas pode sair caro demais.

Entre fórmulas de reajustes, levantamentos, IPCAs e IPCs, o que importa mesmo para o brasileiro é esticar o dinheiro até o fim do mês. Tarefa difícil. Entre os consumidores que usam cartão de crédito, os medicamentos já são citados por metade deles como itens das compras a prazo. Junto com os alimentos, são aquisições que substituem as compras de bens duráveis no cartão. Trocar a TV ou a geladeira dá para adiar. A saúde não espera, e o bolso sofre, sofre muito.

Fonte: Jornal Correio Braziliense

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