Cerca de 700.000 pessoas morrem a cada ano devido à resistência antimicrobiana. © Keystone / Gaetan Bally
por Jessica Davis Plüss
Swissinfo
Mais de 20 grandes empresas farmacêuticas estão investindo quase US$ 1 bilhão (CHF 940 milhões) em um fundo para levar novos antibióticos aos pacientes. Mas alguns dizem que a ação é um mero band-aid para tapar os problemas velados da indústria.
Siga o DikaJob:
Youtube - Instagram - LinkedIn - Telegram - FaceBook
Essa é a primeira vez que um fundo para tratar de uma questão de saúde pública é criado exclusivamente por um grupo de empresas farmacêuticas, incluindo as empresas suíças Novartis e Roche. A chamada Ação Antimicrobiana (AMR) tem o objetivo de lançar de dois a quatro novos antibióticos no mercado na próxima década.
Thomas Cueni, da Federação Internacional de Fabricantes Farmacêuticos (IFPMA) - a organização sediada em Genebra que reuniu a indústria farmacêutica para criação do fundo - disse que "mais de 20 empresas que tomam uma atitude para enfrentar uma grande crise de saúde pública é uma iniciativa histórica e única".
O uso excessivo e indevido de antibióticos tem levado as bactérias a desenvolver defesas contra medicamentos, criando a necessidade de novos antibióticos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 700.000 pessoas morrem todos os anos em função à resistência a antimicrobianos e espera-se que, se novas drogas não chegarem ao mercado, cerca de 10 milhões em todo o mundo podem morrer até 2050.
O anúncio do fundo farmacêutico durante a pandemia do coronavírus ressalta a gravidade e a urgência da crise. O uso de antibióticos está em ascensão, pois internações hospitalares prolongadas entre os pacientes da Covid-19 aumentam o risco de infecções bacterianas.
Durante o evento de lançamento do fundo, o diretor geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, chamou a resistência aos antibióticos de "um tsunami lento que ameaça desfazer um século de progresso médico".
O momento também reflete a posição em que as chamadas big pharmas, grandes companhias farmacêuticas, se encontram durante a pandemia: por um lado, elogiadas por desenvolver vacinas e tratamentos, mas também demonizadas por não investir o suficiente no combate a doenças infecciosas.
A crise dos antibióticos é parte de um problema maior enfrentado pela indústria farmacêutica com fins lucrativos, modelo em que os fabricantes de drogas evitam a pesquisa e o investimento em certas questões de saúde pública que não oferecem retornos atraentes para os acionistas.
"Este é um novo modelo para parcerias público-privadas, utilizando investimentos do setor privado para enfrentar os desafios da saúde pública com a orientação do setor público", disse o diretor da OMS no dia do lançamento.
Cueni ressaltou que o fundo não se trata de uma ação entre as empresas para subsídio cruzado - prática em que os lucros de uma determinada atividade são utilizados para pagar os custos de outra atividade menos lucrativa - e também afirmou que não há intenção nas grandes empresas de ganhar dinheiro com esses investimentos.
Jogando como investidor
O fundo é um passo bem-vindo para as autoridades sanitárias globais. Há anos discute-se a nível global e regional como cobrir a lacuna de financiamento para evitar que a oferta de antibióticos desapareça completamente.
O novo projeto coloca os fabricantes de medicamentos no lugar de investidores ou doadores de capital de risco em uma área onde a maioria das companhias não têm linhas de pesquisa ativas. As empresas menores e as companhias dedicadas à biotecnologia que tem medicamentos que podem virar antibióticos, em quaisquer fases de desenvolvimento, receberão financiamento e apoio técnico das grandes empresas.
Várias farmacêuticas grandes, incluindo a Novartis e a Allergan, sediadas na Basileia, recentemente pararam totalmente com novas pesquisas sobre antibióticos e duas startups focadas em antibióticos entraram em falência no ano passado. No dia 9 de julho, o CEO da Novartis, Vasant Narasimhan disse que "encontrar uma nova droga para uma bactéria resistente se provou incrivelmente desafiador" e que espera que o fundo ajude a catalisar inovações.
Comentários