O papel da indústria farmacêutica e o medo do Estado

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Filipa Mota e Costa diz que há disponibilidade da indústria para alterar o sistema.

Na área do medicamento há disponibilidade para montar um sistema em que sejam pagos os resultados e não as caixas de medicamentos”, diz Filipa Mota e Costa, diretora-geral da Janssen.

Filipe S. Fernandes

Jornal de Negocios

“A indústria farmacêutica é um dos atores que faz parte deste circuito, porque somos nós que investigamos, que geramos os dados, sabemos em que doentes funcionam melhor determinados medicamentos. Estamos disponíveis não só para medir como contribuir para essa medição para que o melhor medicamento ou tratamento seja aplicado de facto aos doentes que mais vão beneficiar, e colaborar para montar um sistema em que sejam pagos os resultados e não as caixas de medicamentos”, foi a garantia dada por Filipa Mota e Costa, diretora-geral da Janssen. Acrescenta que assim se estaria a contribuir para uma maior eficiência e a melhoria da sustentabilidade do sistema nacional de saúde.

Gonçalo Lobo, socorreu-se do exemplo da hepatite C em que os novos medicamentos permitem a erradicação de uma doença transmissível, e “o Estado avançou para um pagamento centralizado em que a indústria farmacêutica recebia por doente curado. Mas hoje não é assim. No primeiro ano foram tratados sete mil doentes. Portugal foi considerado internacionalmente com melhor prática para atingir um dos objetivos da OMS de eliminar a hepatite C até 2030 e Portugal poderia conseguir até 2020. Quando acabou o pagamento centralizado, os doentes para serem tratados têm de esperar entre 3 e 12 meses”.

Caso da hepatite C

“O tratamento há hepatite era desconhecido e caro, por isso era importante ter um sistema para saber quais eram as condições dos doentes que estavam a ser tratados e os resultados desse tratamento”, explicou Hélder Mota Filipe, professor, da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa que na época era administrador do Infarmed. “Esta base de dados serviu para confirmar que se conseguiu uma taxa de tratamento superior, cerca de 1% a 2% mais, do que nos ensaios clínicos. Neste momento já não se fala nisso porque entrou na rotina terapêutica e todos os doentes com hepatite C estão a ser tratados com vários medicamentos que entretanto surgiram e que fizeram baixar preços”.

  • 23.111 Tratamentos - Tratamentos feitos entre 2015 e junho de 2019 a doentes com hepatite C.
  • 13.681 Resultados - Número de doentes curados após finalização do tratamento.


Desde 2015 até 30 de junho de 2019 “já foram autorizados 24.934 tratamentos, dos quais 23.111 já foram iniciados e 18.751 finalizados”. Quanto a resultados, “verifica-se que 13.683 estão curados (96,5%) contra 501 doentes não curados (3,5%), segundo o relatório do Programa Nacional para as Hepatites Virais.

"Há falta de vontade política de quem decide para o pagamento por resultados, não é por falta de vontade das empresas."

FILIPA MOTA E COSTA

DIRETORA-GERAL DA JANSSEN

"O VBH é um instrumento e não é a panaceia para tudo e não deve ser utilizado sempre, pois há situações em que vale a pena medir o resultado e contratar o pagamento pelo resultado e em outros casos não."

HÉLDER MOTA FILIPE

PROFESSOR DA FACULDADE DE FARMÁCIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

O Estado desconfia que não é capaz de sustentar um sistema com base no pagamento por resultados e que se possa agravar a sustentabilidade do SNS. Para Filipa Mota e Costa, “há falta de vontade política de quem decide para o pagamento por resultados, não é por falta de vontade das empresas”. Mas, para Hélder Mota Filipe, “o grande problema é organização e estratégia”, acrescentando que o ” VBH é um instrumento e não é a panaceia para tudo e não deve ser utilizado sempre, pois há situações em que vale a pena medir o resultado e contratar o pagamento pelo resultado e em outros casos não”.


No caso da oncologia, muitas vezes, é prática habitual guardar a melhor terapêutica, mais cara mas que poderia dar um maior prolongamento da vida, quando se esgotam as outras terapêuticas menos onerosas. “Neste caso há apenas desperdício, porque há despesa mas perdeu-se a oportunidade”, afirmou Filipe Mota e Costa.

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