Francês veio ao Rio para traçar o futuro do laboratório no Brasil, onde pesquisa com a Fiocruz tratamentos para o câncer a partir da flora local
"No Brasil, há um ecossistema favorável para o segmento da e-Saúde", diz o presidente mundial da Servier Olivier Laureau - Washington Aszmann / Divulgação
por Renan Setti
O Globo
Conte algo que não sei.
O Brasil possui um nível de excelência em pesquisas científicas. Aqui, há líderes mundiais em áreas como a cardiovascular, a diabetes, a flebologia e a oncologia. No desenvolvimento clínico, o Brasil é um dos lugares do mundo onde os estudos devem ser feitos.
O acordo que vocês fizeram com a Fiocruz prevê explorar a biodiversidade brasileira. Como?
Trata-se de uma pesquisa dedicada ao câncer. O projeto é baseado em extratos naturais de uma coleção de 6 mil plantas que a Fiocruz possui há 30 anos. Vamos tentar identificar substâncias ativas para o tratamento de diversos tipos da doença. Se houver resultados positivos, a Fiocruz terá o direito de explorar parte deles na esfera pública, enquanto nós os exploraremos no mercado.
style="display:block; text-align:center;" data-ad-layout="in-article" data-ad-format="fluid" data-ad-client="ca-pub-6652631670584205" data-ad-slot="1871484486">Qual é o estágio atual dessa pesquisa?
Pesquisadores franceses da Servier vieram à Friocruz para analisar as primeiras amostras para avaliar a viabilidade do projeto. Como concluímos que há grande chance de haver substâncias ativas, decidimos concretizar a colaboração por meio de contrato aprovado pela procuradoria da Fiocruz há algumas semanas. Estamos na fase de disponibilização de um alvo terapêutico para testar a eficácia das substâncias.
Como os brasileiros vão se beneficiar da pesquisa?
Se desenvolvermos um medicamento para tratamento de câncer com ela, estaremos prontos a compartilhar com o SUS a tecnologia de produção.
Por que procurar na flora brasileira possíveis tratamentos para o câncer?
Essa é a primeira vez que fazemos pesquisa com produtos naturais, e a Fiocruz dispõe de algo que não existe em qualquer outro lugar do mundo. A área de oncologia é nova para a gente. Então, essa é uma das pistas que estamos seguindo.
Há outras parcerias?
Temos um projeto de micropellets, um produto que permite a liberação gradual do medicamento e a combinação de substâncias, cuja tecnologia estamos transferindo à Farmanguinhos. Ele será usado no tratamento da isquemia.
Mas algum outro explora a biodiversidade?
Sim. Temos um produto mundialmente conhecido, o Daflon, usado em tratamentos de doenças circulatórias. Ele é produzido a partir de pequenas laranjas que caem naturalmente das árvores. O Brasil tem uma grande produção de laranjas com concentração ideal de hesperidina, princípio ativo do Daflon. Procuramos produtores de laranja que possam recolher os frutos que caem antes da maturação, dos quais extraímos a hesperidina. Estamos em contato com alguns possíveis parceiros. Aqui, a estabilidade climática é uma vantagem.
Há outros planos para o Brasil?
Este mês, lançaremos aqui um tratamento para depressão baseado em inteligência artificial. Pelo computador ou pelo celular, o softwarede IA se comunicará com o paciente na tentativa de despertar o prazer para determinadas tarefas. A tecnologia, chamada de Deprexis, foi tema de estudos clínicos publicados na revista Lancet e já foi aprovada pela Anvisa. Ela está disponível em vários países, e o Brasil será o primeiro fora da Europa.
A Servier tem interesse em explorar o mercado de saúde brasileiro por meio da tecnologia?
No Brasil, há um ecossistema favorável para o segmento da e-Saúde. Estamos olhando o ecossistema local de start-ups de saúde para fazer uma parceria. Financiaremos o desenvolvimento de um dos projetos, e a start-up poderá exportar a solução.
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