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O Estado de S.Paulo

Jornalista: Giovana Girardi

 

 

29/02/20 - A ocorrência do novo coronavírus em mais de 50 países e o aumento de nações que registram transmissão local da doença levaram a Organização Mundial da Saúde (OMS) a elevar o nível de alerta no mundo. O risco de dispersão e de impacto da doença foi de alto para muito alto.


O anúncio foi feito pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que afirmou que o contínuo crescimento de casos e países afetados é motivo de preocupação. Ele continua defendendo, porém, ainda ser possível trabalhar para tentar conter a expansão e pediu aos países que se prepararem e tomem medidas rapidamente.


Anteontem ele já havia dito que “todo país deve estar pronto para seu primeiro caso”, mas a OMS continua evitando usar a palavra pandemia, o que é defendido por alguns especialistas. O Brasil, no entanto, tem discordado. Ontem, o Ministério da Saúde reiterou o pedido para a OMS atualizar a classificação do coronavírus.


“Esta mudança (para pandemia) vai implicar numa redução de busca de relação com o local provável de infecção e vai nos permitir focar principalmente nos grupos etários mais vulneráveis, os adultos com mais de 60 anos”, disse o secretário de Vigilância da Saúde do ministério, Wanderson Kleber de Oliveira.


Ghebreyesus defende que ainda há margem para atuar em contenção de casos. “O que temos visto são epidemias da doença em vários países, mas a maioria dos casos ainda pode ser rastreada a contatos conhecidos ou a clusters de casos.


Não temos evidências, ainda, de que o vírus está se espalhando livremente nas comunidades”, disse. “Enquanto for este o caso, ainda temos a chance de conter o coronavírus se ações robustas forem tomadas para detectar os casos rapidamente, isolar e cuidar dos pacientes e rastrear os contatos”, disse.


O vírus que surgiu na China no fim de 2019 já chegou a outras 51 nações – entre elas, a Nigéria, primeira da África subsaariana a registrar a infecção, e o México, que reportou o primeiro caso da doença ontem.


Segundo a OMS, há 78,9 mil casos confirmados na China e 4,6 mil fora. O número de mortes chegou a 2.858. Em 24 horas, a China havia reportado 331 novos casos – o valor mais baixo em um mês de epidemia.


No Brasil, são investigados 182 casos suspeitos e há um confirmado. A maioria dos casos suspeitos está em São Paulo (66), Rio Grande do Sul (27) e Minas (17). Ontem, exames descartaram a doença em três parentes do brasileiro infectado.


Na próxima semana, o ministério passará a divulgar uma nova classificação, a de “caso provável”, para pessoas que apresentarem febre ou complicação respiratória e que tenham tido contato próximo, como a convivência familiar, com um paciente infectado. Os casos suspeitos continuam sendo o de pessoas com febre e um sintoma respiratório e que tenham passado em um dos 16 países em alerta nos últimos 14 dias.


Pandemia? Especialistas ouvidos pelo Estado dizem fazer sentido a OMS ainda não ter declarado pandemia. “A partir do momento que isso for feito, significa que há transmissão sustentada em tantos lugares que já não faz mais sentido tentar conter casos. Se declara pandemia, a China pode não mais se sentir impelida a controlar as 100 milhões de pessoas q sob confinamento”, diz o epidemiologista Eduardo Massad, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).


“Os países que têm transmissão sustentada perdem ou acham que perdem a obrigação de conter. Se virou pandemia, por que vou gastar esforço político e de recursos de fazer cordão sanitário?”, afirma o especialista. “Mas se a China e os outros países não tivessem feito isso, haveria muito mais casos pelo mundo.” Para o também epidemiologista Eliseu Alves Waldman, da Faculdade de Saúde Pública da USP, deve ser apenas uma questão de tempo para virar de fato pandemia, mas ainda há que se tentar amortizar esse processo.


“Quanto mais rápido for, com certeza, mesmo em países desenvolvidos, as estruturas dos sistemas de saúde poderão entrar em colapso.” Ele aponta ainda que, ao declarar pandemia, a OMS tem de enviar recursos humanos e financeiros para apoiar países mais pobres a lidar com a doença, o que aumenta custos e dificuldades.

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