por Stella Fontes
Joint venture entre Biolab e Eurofarma, a Orygen Biotecnologia está prestes a lançar dois produtos, um anticorpo monoclonal e uma vacina de última geração contra a gripe, marcando sua estreia no mercado. Os lançamentos consolidam o projeto iniciado em 2012, na esteira dos planos do governo de apoiar "superfarmacêuticas" nacionais voltadas à produção de medicamentos biológicos similares estratégicos para o Sistema Único de Saúde (SUS). A biofarmacêutica paulista, porém, foi além do escopo original, ampliou o portfólio e trabalha para oferecer soluções completas em saúde, em parceria com outras empresas.
Além da vacina quadrivalente Flublok, em fase de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e desenvolvida pela americana Protein Sciences, que foi comprada pela Sanofi, a Orygen firmou uma parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para seguir adiante com os estudos clínicos de uma vacina inédita contra esquistossomose. A doença é endêmica em diversos países, especialmente na África, e em algumas regiões do Brasil.
A farmacêutica também colocou no radar duas drogas para tratamento do câncer - uma espécie de vacina contra a doença - e mantém conversas com uma startup do Vale do Silício para desenvolver uma solução de diagnóstico e protocolos de tratamento, com foco em sepse. Para essa nova fase dos negócios, Biolab e Eurofarma trouxeram neste ano para o comando da Orygen o executivo Victor Mezei, que liderou por 11 anos a operação brasileira da Pfizer.
A contratação de Mezei foi interpretada, pelo setor, como um sinal de que a farmacêutica estava em vias de se apresentar comercialmente ao mercado de fato, os lançamentos da vacina contra gripe e do infliximabe, para tratamento de doenças autoimunes, estão previstos para 2019. "A Orygen é uma startup mas, diferentemente da maioria, não tem problema de recursos, já que duas das maiores farmacêuticas nacionais dão suporte ao negócio", diz Mezei, que antes estava à frente de uma operação que chegou a faturar R$ 5 bilhões por ano.
A mudança de portfólio não foi a única no projeto da Orygen, que originalmente girava em torno de R$ 500 milhões. Naquele momento, Cristália e Libbs ainda eram sócios da biofarmacêutica e a ideia era construir uma fábrica de biossimilares em São Carlos, interior de São Paulo, para suprir a demanda futura. Na mesma época, Aché, EMS, Hypera Pharma (antiga Hypermarcas) e União Química se uniram na Bionovis, também com apoio do governo federal e com a mesma finalidade.
Agora, a estratégia da Orygen é investir em instalações produtivas à medida que a demanda se confirme. Por isso, o projeto industrial foi transferida para um dos andares do novo complexo da Eurofarma em Itapevi (SP), e o investimento em São Carlos foi adiado. "Os investimentos serão feitos à medida que as PDPs [Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo] avançarem", explica o executivo.
Nos últimos anos, mudanças no Ministério da Saúde e na condução das PDPs, que envolvem também um laboratório público, levaram à postergação e cancelamento de projetos. A Orygen segue firme nos planos e tem uma parceria com a Pfizer para transferência de tecnologia para produção de até cinco biossimilares (adalimumabe, bevacizumabe, infliximabe, rituximabe e trastuzumabe), para quatro PDPs - com exceção do trastuzumabe.
Já a vacina da gripe, diz o bioquímico inglês e diretor científico da Orygen, Andrew Simpson, está na fase final de registro na Anvisa e chegará inicialmente ao mercado privado. Inicialmente, o medicamento será importado dos Estados Unidos, mas no futuro a produção local, nas instalações da Eurofarma ou na fábrica que deve ser erguida em São Carlos, também será avaliada. "Esse é o produto que a Orygen quer ter", disse.
A segunda vacina, que protege contra esquistossomose, está entrando na segunda etapa da fase 2 de pesquisas clínicas, no Brasil e na África, com 100% dos custos patrocinados pela Orygen. A vacina foi inicialmente desenvolvida pela Fiocruz e a licença para uso veterinário é da Ourofino Saúde Animal - da qual a Orygen comprou a licença para uso humano. A expectativa é comprovar sua eficácia clínica no fim do próximo ano. "Boa parte do nosso sucesso está em aproveitar o que os outros fazem. Nosso escritório é uma central de ideias", diz Simpson.
Fonte: Valor Econômico
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