Novas drogas mudam a forma de tratar as doenças. O câncer é uma delas. Elas têm alvos precisos de ataque, agem mais rapidamente e dão menos efeitos colaterais
Cilene Pereira
Isto É
É quase como se a pílula tivesse sido criada para você. O remédio do futuro será assim. Ele será desenhado para atingir alvos específicos relacionados às doenças e sua escolha será determinada pela forma como cada um reage. Essa espécie de medicação sob medida será possível graças ao conhecimento a respeito do DNA e seu impacto sobre as enfermidades e a reação do corpo aos remédios.
Os primeiros exemplos desse tipo de medicação estão disponíveis, mudando o tratamento de diversas doenças. O câncer é uma delas. A doença é complexa e tem sua manifestação e evolução muito variáveis. Por isso a necessidade de criar medicamentos que atuem não de forma generalizada, mas focada. Há bons exemplos à disposição. Um deles é o olaratumabe para sarcoma de partes moles (conjunto raro de tumores). Outro, prestes a ser aprovado no Brasil, é o Ibrance, para pacientes na pós-menopausa com tumor de mama avançado do tipo ER positivo e HER2 negativo. É a maioria dos casos.
“Uma das novidades contra a depressão causa menos ganho
de peso” Guido May, psiquiatra (Crédito:Rafael Vicente)
Outras doenças começam a ser combatidas com armas certeiras. Entre elas, a psoríase (um dos remédios é o Taltz), a esclerose múltipla (entre as opções está o ocrelizumabe), a perda óssea (o Prolia é uma das novidades), e o colesterol, por meio do Repatha e do Praluent. Entre os destaques de medicações com mecanismos de ação diferentes e menos efeitos colaterais está o Brintelix, contra a depressão. Ele age em seis alvos distintos. “Os estudos mostram que ele causa menos queda de libido e ganho de peso”, afirma o psiquiatra Guido May, da empresa GnTech. Nesta área, outra novidade é o Zodel, primeiro similar de uma das molécula mais usadas contra a enfermidade.
Contra a hepatite C, hoje curável em 95% dos casos, um dos exemplos é o Epclusa. Para doenças contra as quais não havia opções, como a Atrofia Medular Espinhal (mal neurodegenerativo que acomete um em cada mil bebês), também surgiram esperanças. Neste caso, é o Spinraza, liberado recentemente no Brasil.
A medicina está criando formas de saber para quem servem as medicações. São únicos os mecanismos pelos quais cada um metaboliza os remédios. Por essa razão, é preciso identificar como a droga atuará de acordo com o paciente. Existem várias opções de testes farmacogenéticos com essa finalidade. “Usamos esses exames para verificar a resposta a diversos antidepressivos, por exemplo”, diz o psiquiatra Guido May. O cuidado leva a maior eficácia no tratamento e inteligência no uso dos recursos. Os remédios modernos são eficazes, mas em geral caros. Usá-los em pacientes que não serão beneficiados por causa de características individuais, além de inócuo, é desperdício.
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