por Valor Econômico
Jornalista: Beth Koike
01/10/19 - Em meio aos questionamentos sobre o modelo de remuneração no setor de saúde, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo, abriu em julho de 2017 uma unidade em que todos os procedimentos médicos têm um valor fixo - a maior parte do setor ainda trabalha no formato de conta aberta. Dois anos e dois meses após a inauguração, o hospital atingiu seu equilíbrio financeiro e agora está recebendo um novo investimento de R$ 55 milhões para expansão.
Batizado de Vergueiro, esse é o primeiro hospital do país a operar totalmente neste modelo de remuneração. Atualmente, a unidade realiza cerca de 500 procedimentos médicos, ante os 80 de dois anos atrás, quando foi feito um investimento de R$ 112 milhões para sua construção.
Do investimento atual, R$ 45 milhões serão destinados a abertura de 152 leitos, aumentando o volume total disponível para 232. Os outros R$ 10 milhões estão sendo usados para equipar 128 novos consultórios recém- construídos numa torre anexa ao hospital. Além disso, em agosto, a unidade Vergueiro passou a ter também um pronto-socorro. Até então, eram realizados apenas procedimentos agendados.
“Os maiores desafios dos novos modelos de remuneração são a adesão dos profissionais a protocolos médicos e o acompanhamento do desfecho clínico dos pacientes [após a alta hospitalar], disse Luiz Henrique de Almeida Mota, diretor-executivo da unidade Vergueiro do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
O acompanhamento do paciente após a alta é um indicador importante para evitar que o hospital libere o paciente antes do tempo adequado. Como os procedimentos são pagos com um valor fixo, o hospital ganha mais se o paciente ficar menos tempo internado.
Os profissionais do setor de saúde consideram difícil acompanhar esse indicador, porque o paciente pode vir a apresentar, após a alta, um problema de saúde que não necessariamente tem relação com a doença que provocou a internação.
Hoje, na unidade Vergueiro, a taxa de permanência do paciente é de 1,3 dia e a taxa de retorno no período de um mês é de 1,4.
Em setembro, quando o hospital atingiu seu ponto de equilíbrio financeiro, a receita mensal somou R$ 8 milhões e os 80 leitos estavam totalmente ocupados. Por isso, está sendo realizado o investimento para expansão das unidades de internação.
“A adoção de novos modelos de remuneração é um caminho sem volta para a perpetuidade do sistema. Exige um trabalho conjunto entre operadora, hospital e médicos”, disse Paulo Vasconcellos Bastian, superintendente-executivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Na unidade da Paulista - a principal do Hospital Alemão Oswaldo Cruz - cerca de 75% dos procedimentos não cirúrgicos têm uma tabela fixa. “Ainda não dá para comparar as taxas de internação e retorno entre as duas unidades, porque na Paulista temos pacientes vindo do pronto-socorro que, normalmente, têm um tempo maior de permanência”, disse Bastian. “Pacientes com crises de doenças crônicas, por exemplo, precisam ficar no hospital até que o quadro se estabilize”, acrescentou.
Diante de uma demanda cada vez maior por protocolos médicos, a pesquisa científica tornou-se ainda mais imprescindível. “Os dados, as informações que coletamos na pesquisa alimentam as nossas práticas médicas”, disse Kenneth Almeida, superintendente de inovação, pesquisa e educação. “Absorvemos inclusive pesquisa de médico que perdeu a bolsa da Capes”, complementou Almeida.
O Oswaldo Cruz investiu R$ 10 milhões para criar uma nova área de pesquisa liderada pelo cardiologista Álvaro Avezum, considerado um dos cientistas brasileiros com maior produção científica. A área conta com 40 profissionais vinculados, sendo que 60% dos estudos são ligados à oncologia.
Além disso, foram investidos mais R$ 10 milhões num centro de inovação, que vai abrigar desde treinamento para cirurgias com com robôs até startups que podem ser aceleradas pela instituição.
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