Desenvolvido pela startup UE Lifesciences, o iBreastExam foi aprovado pela FDA e é distribuído pela GE Healthcare
Em 2006, uma notícia abalou a família do engenheiro da computação Mihir Shah: a mãe dele havia sido diagnosticada com câncer de mama. Quando começou a conversar com amigos e familiares sobre o assunto, ele se viu em contato com pelo menos outras dez mulheres que estavam lutando contra a doença. E percebeu que, nessa batalha, essas pacientes se deparavam com dois cenários muito diferentes... Nos Países ricos, elas podiam contar com serviços de detecção precoce e tratamento. Já nos Países em desenvolvimento, elas se deparavam com diagnósticos tardios, o que acabava aumentando o risco de mortalidade. Nesses locais, a demora na detecção do tumor, muitas vezes, decorre dos custos envolvidos na realização de mamografias e da falta de radiologistas treinados.
Na Índia, onde Shah nasceu, metade dos casos afeta mulheres com menos de 50 anos de idade. E metade das mulheres diagnosticadas com câncer de mama morre devido à doença. Diante disso, “como tornar o rastreamento mais acessível?”, perguntou-se Shah. A resposta veio na forma do iBreastExam. Trata-se de um equipamento wireless, que consegue identificar lesões no tecido da mama em menos de cinco minutos, sem causar dor ou emitir radiação.
Antes de mais nada, é preciso ressaltar que ele não substitui a mamografia, que permanece como principal técnica para diagnosticar precocemente o câncer. A ideia é que essa novidade possa ser uma precaução a mais, integrando os exames de rotina de mulheres de todas as idades. O novo exame pode ser particularmente interessante para aquelas mais jovens, ou seja, para quem a mamografia ainda não é indicada. No Brasil, a recomendação do Ministério da Saúde é que a mamografia de rastreamento (feita quando não há sinais nem sintomas) seja feita em mulheres de 50 a 69 anos, uma vez a cada dois anos. Mas em alguns casos, com base no histórico familiar, por exemplo, o médico pode demandar um acompanhamento mais rigoroso.
O que o iBreast viabiliza é a identificação de nódulos que merecem uma avaliação mais detalhada, por meio de um exame de ultrassonografia ou mamografia. A presença de nódulos não é algo tão raro assim – estima-se que de 10% a 15% das mulheres tenham nódulos nas mamas e que, em 90% dos casos, eles sejam inofensivos. Ou seja, é possível que o iBreastExam aponte alterações que, no fim das contas, não ofereçam risco. Mas um estudo realizado com 78 pessoas – das quais 12 tinham câncer de mama – atestou a confiabilidade do aparelho.
Segundo a pesquisa, publicada no World Journal of Surgical Oncology em 2016, os dados obtidos com o iBreastExam demonstraram que a abordagem oferece uma sensibilidade de 86% e especificidade de 89%. A sensibilidade indica a probabilidade de o exame dar positivo, quando o paciente de fato tem a doença – ou seja, um teste com alta sensibilidade é aquele que tem menos chances de deixar o problema passar batido. Especificidade, por sua vez, é a capacidade de identificar corretamente quem não tem a doença – evitando, assim, alarmes falsos. No caso do iBreastExam, o estudou mostrou que ele é capaz, sim, de apontar justamente os casos que demandam uma avaliação mais detalhada.
Aprovada pela FDA, parceira da GE
Aprovada no ano passado pela FDA (agência americana responsável por regular o mercado de saúde e alimentação), a novidade é produzida pela startup UE LifeSciences Inc, que foi fundada em 2009 por Mihir Shah e pelo engenheiro Matthew Campisi, professor da NYU (New York University). O iBreastExam foi desenvolvido por um time com mais de 20 cientistas, engenheiros e médicos, com uma verba de US$ 1,3 milhão, proveniente de várias entidades: Pennsylvania Department of Health (CURE Grant), University City Science Center (QED & DHA), Drexel University (Coulter Programme) e Unitus Seed Fund (StartHealth grant). O projeto contou, ainda, com a mentoria e investimento de Kiran Mazumdar-Shaw da Biocon, de Dr. Ranjan Pai do Manipal Education and Medical Group.
Essa trajetória mostra um aspecto que se torna cada vez mais claro em todos os setores: parcerias são fundamentais para que iniciativas inovadoras possam se desenvolver e ganhar escala. E, no ano passado, a UE LifeSciences deu mais um passo importante nesse sentido, ao se unir à multinacional GE.
Firmada há cerca de um ano, essa parceria soma a capacidade inovadora da UE LifeSciences com a experiência da GE Healthcare em vendas, marketing e distribuição no mercado de saúde. A meta é ampliar a presença do iBreastExam pelo mundo, comercializando o aparelho em Países da África e no sul da Ásia.
Para Terri Bresenham, CEO da Healthcare Sustainable Healthcare Solutions, o papel da companhia é ajudar empresas como a UE LifeSciences a ganhar escala, e, por meio desse processo, facilitar o acesso da população (especialmente das pessoas que vive em zonas rurais) a exames e tratamentos que são fundamentais.
No caso do câncer de mama, vale lembrar o quanto esse problema é frequente. Depois do câncer de pele não melanoma, o câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil. A doença equivale à cerca de 25% dos casos novos de câncer registrados a cada ano. No Brasil, esse percentual é ainda mais alto: chega a 28,1%, segundo dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer).
A conscientização acerca do diagnóstico precoce é importantíssima, pois, quanto mais cedo o tumor for identificado, maior a chance de cura. Daí a relevância de iniciativas como Outubro Rosa, campanha anual com foco na detecção precoce da doença – assim como na prevenção. De acordo com o Inca, cerca de 30% dos casos de câncer de mama podem ser evitados com a adoção de hábitos saudáveis. Isso inclui praticar atividades físicas com regularidade, alimentar-se bem, manter um peso adequado, evitar bebidas alcoólicas e, no caso das que têm filhos, amamentar. E não custa repetir: ainda segundo o Inca, é recomendável que mulheres de 50 a 69 anos façam uma mamografia de rastreamento (quando não há sinais nem sintomas) anualmente.
Comentários