G1 

Jornalista: Carlos de Lennoy

18/09/20 – Em plena pandemia do novo coronavírus, pacientes renais precisam se expor ao risco de contágio para fazer hemodiálise no estado do Rio e, além desse esforço, ainda sofrem com a falta de remédios que são fundamentais para a própria sobrevivência. Para não interromper o tratamento, milhares de pessoas tiram do bolso o dinheiro para pagar os remédios.

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Em junho, pacientes ficaram sem o sacarato de hidróxido de ferro, um remédio essencial para a realização da hemodiálise. De acordo com especialistas, junto com outro medicamento, a eritropoietina, a combinação evita a anemia, que pode prejudicar ainda mais a saúde.

Por defeito de fabricação, o Laboratório Claris, que importa o sacarato de hidróxido de ferro, mandou recolher 48 lotes do produto em 18 de junho. De acordo com a lista com os lotes, 954 mil unidades do remédio estavam com defeito.

O diretor-geral da Associação Brasileira de Pacientes Renais e Transplantados, Gilson Nascimento, reforçou a importância da combinação dos dois medicamentos para a prevenção.

“Nós podemos dizer que 9 mil pessoas fazem uso desse medicamento no estado do Rio de Janeiro. Lamentavelmente, o governo está jogando dinheiro fora comprando um medicamento e não comprando o outro, que é de uso associado e, por sinal, bem mais barato. Os pacientes têm um problema com reposição de eritropoetina, o organismo não produz , não tem rim para produzir”, explicou o diretor.

Cada embalagem com cinco ampolas do medicamento custa em média R$ 80. De acordo com os pacientes, mais de dois meses depois do recolhimento, a Secretaria Estadual de Saúde ainda não deu uma previsão sobre o retorno da distribuição do medicamento (confira a nota no fim da reportagem). Enquanto isso, a saída é pagar do próprio bolso.

“É um negócio que eu preciso e eles tiraram de mim. Meu marido comprou, mas tirou de que? Da boca da gente, não podendo comprar uma fruta, uma coisa não pode comprar”, lamentou a paciente e dona de casa Maria José da Silva.


Uma clínica em Olaria disse que, por falta do remédio, alguns pacientes precisaram ser internados para fazer transfusão de sangue.

“Nós temos vários casos de pacientes que estão com anemia muito profunda e estão com a negativa da Riofarmes. Acaba fazendo transfusão sanguínea, gerando mais custos para o estado”, disse a assistente social Denise Queiroz.



A rotina de um paciente


O RJ2 acompanhou a rotina da cozinheira Maria José Silva, de 77 anos, em dia de sessão de hemodiálise. Sem os rins, ela sai de casa três vezes por semana para continuar o tratamento.

O dia começa bem cedo e, às 5h30, a cozinheira sai de casa. Apesar da recomendação para os idosos se manterem em casa, Maria José precisa ir até a clínica para continuar vivendo.

Ela mora em Cordovil, na Zona Norte do Rio, e realiza o tratamento em uma clínica em Olaria, também na Zona Norte. O trajeto de menos de 15 minutos é realizado de táxi, por meio de um benefício concedido pela prefeitura do Rio após a família recorrer a Defensoria Pública.

“Por causa da pandemia, eu não estou saindo de casa para nada, só para vir para hemodiálise. São 4 horas de máquina, sentada na mesma posição com duas agulhas que parecem dois pregos no nosso braço. A fístula que eles colocam no braço, que é ligada ao coração, é a nossa vida", relatou a paciente renal.


Após a retirada dos dois rins, ela não deseja fazer transplante. Além disso, ela disse que já operou a paratireóide, retirou 25 centímetros do intestino e realizou diversas cirurgias.

"A hemodiálise é um tratamento que salva vidas. Eu agradeço a Deus por alguém lá atrás ter inventado equipamento de hemodiálise porque ela que hoje salva minha vida”, disse a cozinheira.

Mesmo com os problemas com medicamento e as dificuldades que já passou, Maria José busca sempre uma forma de aproveitar o dia.

“É uma luta, mas que eu encaro de cabeça erguida. Quando eu sair da clínica hoje, eu procuro pensar que não sou uma paciente, não sou uma doente. Eu faço tratamento que me deixa viver. Agradeço muito ao universo por isso. Mais um dia, começar mais uma diálise para poder ficar viva”, destacou a cozinheira.


O que diz a secretaria


A Secretaria Estadual de Saúde informou que recebeu um comunicado do laboratório fabricante do Sucrofer - o União Química Farmacêutica Nacional - em que foi notificado um desvio de qualidade em alguns lotes do produto, motivo pelo qual foi iniciada uma campanha para o recolhimento do medicamento.

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