Fonte: The New York Times
As comparações se acumulam, mas a pandemia de gripe espanhola de 1918 continua a ser de longe a mais mortal da história, bem à frente do novo coronavírus. À época, matou pelo menos 50 milhões de pessoas em todo o mundo (o equivalente a 200 milhões hoje), sendo meio milhão delas habitantes dos Estados Unidos. Talvez o mais alarmante é que a maioria dos mortos pela doença estava no auge da vida – geralmente entre 20 e 40 anos –, em vez de idosos ou pessoas com a imunidade enfraquecida.
Mesmo com a atmosfera de medo – com direito a máscaras cirúrgicas, armazenamento de alimentos e assembleias públicas sobre a prevenção da doença – e possíveis consequências econômicas semelhantes às de 1918, a realidade médica é bem diferente. “Enfermeiras costumavam dar de cara com cenas que remetiam às dos anos da praga do século 14”, escreveu o historiador Alfred W. Crosby em America's Forgotten Pandemic: The Influenza of 1918 (Pandemia esquecida pelos Estados Unidos: a gripe espanhola de 1918, em tradução livre). “Uma enfermeira encontrou no mesmo quarto o corpo do marido morto pelo vírus e a mulher com gêmeos recém-nascidos. Vinte e quatro horas haviam se passado desde a morte e o nascimento naquela família, e a esposa tinha comido apenas uma maçã que estava perto dela.”
Em 1918, o mundo era um lugar muito diferente. Os médicos sabiam que existiam vírus, mas nunca haviam visto um – não havia microscópios eletrônicos, e o material genético dos vírus ainda não havia sido descoberto. Hoje, no entanto, os pesquisadores não apenas sabem como isolar, mas conseguem identificar sua sequência genética, testar medicamentos antivirais e desenvolver uma vacina. No passado, era impossível testar pessoas com sintomas leves para que pudessem ser colocadas voluntariamente em quarentena. E era quase impraticável fazer o rastreamento do contágio, pois a gripe parecia infectar – e causar pânico em – cidades e comunidades inteiras de uma só vez. Além disso, havia pouco equipamento de proteção para os profissionais de saúde, e os aparelhos com respiradores, que podem ser usados por pessoas muito doentes hoje, nem existiam.
Com uma taxa de mortalidade de pelo menos 2,5%, a gripe de 1918 era muito mais mortal que a gripe comum, e tão infecciosa que se espalhou amplamente e resultou em um número de mortes elevado. Pesquisadores acreditam que a pandemia poupou pessoas mais velhas porque elas já tinham alguma imunidade a ela. Eles teorizam que décadas antes houve uma versão desse vírus, embora não tão letal, que se espalhou como uma gripe comum. Os idosos de 1918 teriam sido expostos a essa gripe e desenvolveram anticorpos. Quanto às crianças, a maioria das doenças virais – sarampo, varicela – é mais mortal em adultos jovens, o que pode explicar terem sido poupadas.
Expectativa de vida
Independentemente do motivo, foi um desastre para a expectativa de vida. Em 1917, era de 51 anos nos Estados Unidos. Em 1918, foi de apenas 39. O novo coronavírus tende a matar pessoas mais velhas e pessoas com imunidade afetada por condições médicas, mas parece não matar crianças. Tudo isso significa que terá muito menos efeito, se houver algum, na expectativa de vida.
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