Valor Econômico
Jornalista: Ana Paula Machado
19/06/20 - Como todo remédio, o isolamento social, uma das medidas para inibir a contaminação pelo novo coronavírus, se mostrou eficaz contra a covid-19, mas também apresentou efeitos colaterais. O confinamento aumentou a incidência de transtornos da ansiedade, insônia e depressão na população. Prova disso é que em abril e maio, quando estiveram em vigor medidas mais rígidas de isolamento, a palavra “insônia” foi a mais procurada no Google. O assunto está quase sempre relacionado a quarentena e medicamentos. A pesquisa por “remédio para insônia” cresceu 130% no mês passado.
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Com isso, a venda dessa classe de medicamentos, segundo dados da consultoria especializada no setor farmacêutico, IQVIA, nos doze meses terminados em maio, chegou a 3,76 bilhões de comprimidos nas farmácias brasileiras, o que equivale a 5,75% de aumento em relação ao mesmo período do ano anterior. Isso proporcionou uma receita de R$ 3,58 bilhões.
Somente os antidepressivos, tiveram um aumento no faturamento de 15,7%, chegando a R$ 3,24 bilhões. No mês passado, de acordo com os dados da consultoria, o crescimento foi de 9,62% na venda desses remédios.
Alexandre França, presidente da subsidiária brasileira da farmacêutica Aspen Pharma, disse que além da evolução nas vendas de ansiolíticos e antidepressivos no período da pandemia, o que aumentou “substancialmente” nesses meses foi o consumo dos fitoterápicos que aliviam os sintomas de ansiedade e insônia. A empresa tem em seu portfólio dois medicamentos a base de passiflora.
Pelos dados da companhia, em maio do ano passado a demanda por um dos fitoterápicos foi de 118 mil unidades. Neste ano, as vendas chegaram a 188 mil caixas, aumento de 59%. “As pessoas procuram primeiro medicamentos que não precisam de receita para resolver um problema pontual. Isso explica porque a venda de fitoterápicos cresceu tanto. A procura pela palavra insônia no Google foi maior que a palavra Deus, que era campeã na plataforma nos últimos meses”, disse França.
Segundo ele, a companhia aumentou a produção desse medicamento no período. “Trabalhávamos em um turno agora passamos para dois de fabricação desse fitoterápico. Tínhamos um estoque para seis meses, agora somente para dois meses. Acreditamos que esse movimento deve se manter daqui em diante. Historicamente, quando acontece um crescimento de demanda repentino, essa demanda nunca volta para o patamar anterior quando esse momento passa. Sempre cresce”, disse o executivo.
Na farmacêutica brasileira União Química também ocorreu esse aumento de procura por medicamentos para o tratamento da depressão e transtornos da ansiedade. O vice-presidente comercial para a linha de saúde humana, Vagner Nogueira, afirmou que a empresa tem cinco medicamentos no portfólio, entre genéricos e de prescrição médica. Nos doze meses terminados em maio, o crescimento de receita dessa categoria foi de 38% passando de R$ 61,5 milhões para R$ 98,7 milhões.
“Não aumentamos turnos de produção, mas fizemos ajustes para atender a demanda crescente. O que ajudou muito nessas vendas foi que o governo flexibilizou a concessão de receitas médicas, agora o paciente pode ter uma receita digital”, disse.
Nogueira informou, ainda, que além dos ansiolíticos e antidepressivos, a pandemia proporcionou o aumento das vendas de vitaminas e polivitamínicos. Segundo dados da IQVIA, a demanda no mercado nos doze meses terminados em maio cresceu 24,75%, passando de 173,3 milhões de unidades para 216,3 milhões de caixas.
Na União Química, o crescimento desses produtos foi de 37,2% em volume, saindo de 11,5 milhões para 15,8 milhões de unidades. Já a receita aumentou 55,7%, de R$ 76,8 milhões para R$ 119,6 milhões. “Aumentamos em 30% a produção com um turno a mais de trabalho isso para atender a demanda.”
Outra farmacêutica brasileira que viu aumentar as vendas de polivitamínicos nesse período foi a Cimed. João Adibe, presidente da companhia, disse que a demanda pelos produtos da companhia cresceu 62% de janeiro a maio deste ano. Segundo ele, a Cimed também já está trabalhando com três turnos de produção. Antes da pandemia, a empresa operava com um intervalo de trabalho para essa linha.
“A demanda é maior que a nossa capacidade de produção. Não consigo fabricar mais porque dependo de insumos importados. Hoje, estamos usando 100% de nossa capacidade nessa linha.”
Segundo ele, hoje a Cimed produz 3,5 milhões de caixas vitaminas por mês, antes da pandemia, a farmacêutica produzia 1,8 milhão de unidades. “Vitaminas sempre representou 15% do faturamento. Hoje está em 25% e a expectativa é que chegue a 30% neste ano. Há muito a crescer no Brasil. O consumo de vitaminas será um legado dessa pandemia no país”.
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