Para quem o Brasil está perdendo espaço no mundo

As exportações brasileiras de produtos manufaturados estão em crise. No primeiro trimestre, elas atingiram US$ 19,4 bilhões, 9,86% a menos do que no mesmo período do ano passado, segundo o Ministério da Economia.

“O Brasil está perdendo espaço para ele mesmo, por causa da falta de reformas, da burocracia e de investimentos em infraestrutura”, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

A falta de competitividade dos industrializados é evidente, mesmo em tradicionais clientes como a Argentina e os Estados Unidos.

Levantamento do Observatório de Complexidade Econômica do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (OEC/MIT, na sigla em inglês) mostra que em 2000, 60,2% da pauta de exportações para a maior economia do mundo era composta por máquinas, equipamentos e meios de transporte. Em 2017, esse percentual caiu para 23,9%.

O movimento coincide com a ascensão da China como grande fornecedor dos americanos. Em 2000, 7,5% das importações americanas eram do país asiático. Em 2017, esse percentual saltou para 22%. E, nesse período, a participação brasileira nas importações americanas permaneceu estável em 1,2%

Na Argentina, o mercado para as máquinas brasileiras vem perdendo espaço. Em 2010, elas eram responsáveis por 19% da pauta de exportações. Sete anos depois, esse percentual caiu para 13%.

A importância dos chineses no mercado argentino vem ganhando importância, de acordo com o levantamento do OEC/MIT. Em 2000, eles eram responsáveis por 4,6% das importações argentinas. Em 2017, por 19%. No mesmo período, a participação brasileira teve uma pequena alta: de 25% para 27%.

Quem está ocupando o lugar do Brasil nos produtos industrializados

Um dos países que vêm ocupando o espaço dos produtos industrializados brasileiros é a China. O país asiático aumentou sua participação no mercado internacional entre 2008 e 2017, tirando a União Europeia da liderança, aponta o Banco Mundial. Em 2008, a China tinha 11,1% de share, passando para 16% em 2017.


“A segunda maior economia mundial atua em todas as frentes de produtos industrializados: dos de baixa complexidade aos de alta”, diz a pesquisadora Lia Valls, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

Outro fator que favorece a China, segundo Castro, é a agressiva política comercial e industrial. “Eles estão sofisticando suas exportações e transferindo linhas de produção para outros países”, comenta.

O presidente da AEB também destaca que a China é competitiva porque tem um câmbio favorável e um custo baixo. “O Brasil só tem câmbio. E os ganhos com isso, às vezes, é uma questão temporária.”

Mas não é só a China que vem ganhando espaço no mercado de produtos industrializados. Outros quatro países – Coreia do Sul, Hong Kong, Índia e México – viram sua participação crescer com força entre 2008 e 2017. No período, ela aumentou três pontos percentuais.

Um dos fatores que ajudam a explicar o ganho de mercado, segundo o Banco Central, é a maior inserção desses países nas correntes de comércio internacional. O México, o principal concorrente brasileiro na América Latina, tem 13 tratados de livre comércio. A Índia, que ganhou 0,6 pontos percentuais nesse segmento em dez anos, tem nove. Só para comparar, o Brasil só tem um.

Quem tem potencial para expandir sua participação no mercado de produtos é a Índia. “Eles vão ser a China do futuro”, diz Castro. Ele destaca que o país asiático tem mão de obra altamente qualificada em segmentos importantes, como tecnologia da informação, farmacêutica e química.

O país também vem crescendo a um ritmo acelerado, até mais forte do que a China. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), desde 2014, a taxa vem superando os 7% ao ano e a previsão é que siga nesse ritmo, pelo menos até 2024.

A Índia vem ganhando importância como fornecedor de produtos para o Brasil. Há dez anos, de acordo com o Ministério da Economia, era apenas o 40º maior parceiro comercial do Brasil. No ano passado, fechou na 10ª posição. Quase 44% dos US$ 3,66 bilhões importados eram de produtos químico-farmacêuticos.

Fonte: VIP CEO

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