Valor Econômico
Jornalista: Marcos de Moura e Souza
25/03/20 - A rede de medicina diagnóstica Hermes Pardini vai triplicar nos próximos dias sua capacidade de processamento de testes de para detecção do novo coronavírus. A empresa tem operado 24 horas por dia, sete dias por semana para atender à demanda por testes de cerca 500 hospitais em diversos Estados.
Alessandro Ferreira, vice-presidente da empresa, afirmou ontem que a partir da próxima semana o núcleo de operações localizada na cidade de Vespasiano, Minas Gerais, terá capacidade de processar 3 mil exames por dia para detecção do vírus.
O Pardini é um dos laboratórios que mais realiza exames usando a metodologia de biologia molecular no Brasil. Trata-se, disse o executivo, de um tipo de exame preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para momentos de disseminação aguda do coronavírus.
Esse exame - chamado de “RT-PCR” (sigla em inglês para transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase) - permite a detecção do vírus um ou dois dias após o paciente ser contaminado.
Outra metodologia, a da sorologia, usada nos testes rápidos, só é capaz de apontar um resultado oito ou dez dias depois da contaminação, ou seja, só quando o paciente já desenvolveu anticorpos.
“Isso explica, por exemplo, porque alguns pacientes que fizeram teste sorológico têm de refazer o teste depois de cinco dias”, afirma ele.
Ferreira lembra que a preocupação nesse momento em que os casos estão se multiplicando de forma acelerada no país é que um paciente com sintomas gripais receba resultado negativo de um teste rápido, passe a achar que está livre da infecção e relaxe nos cuidados, indo para a rua e tendo mais contato com outras pessoas.
Os testes baseados em biologia molecular são realizados por outros laboratórios privados e também por laboratórios públicos.
No caso do Pardini, Ferreira disse que a diretoria começou a estudar ainda em dezembro um plano para dar capacidade à empresa de realização dos testes.
A empresa importou equipamentos dos Estados Unidos, passou a adquirir reagentes específicos e contratou uma equipe de 12 profissionais treinados para usar essa metodologia.
Segundo o diretor financeiro, Camilo de Lelis, o laboratório - controlado pela família mineira Pardini - aprovou em caráter extraordinário no início deste ano um investimento entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões para se estruturar diante da demanda por testes de coronavírus.
Uma parte dos R$ 95 milhões em investimentos em 2019 já havia coberto ações nessa linha.
Mas se por um lado o Hermes Pardini amplia a sua capacidade para atender a uma demanda crescente por testes de coronavírus, de outro lado a companhia viu reduzir rapidamente o número de clientes em suas unidades de atendimento.
O grupo possui 124 unidades próprias, a maior parte delas em Minas Gerais, mas também em São Paulo Rio de Janeiro e Goiás.
Clientes que iam às unidades para realizar exames de saúde -- não relacionados ao coronavírus - estão preferindo ficar em casa para atender ao chamado de isolamento social.
A empresa, então, fechou temporariamente 49 unidades e transferiu técnicos que faziam a coleta de exames nesses locais para uma nova função: a coleta em domicílio.
O Pardini é um dos principais competidores no Brasil no segmento de prestação de serviços a outros laboratórios. Nesse mercado, segundo a companhia, não houve retração.
Lelis afirma aqui ainda não é possível avaliar se a pandemia vai impactar positiva ou negativamente as receitas da empresa nos próximos meses.
Ontem o grupo divulgou seus resultados no último trimestre de 2019, que mostraram que em relação ao mesmo período de 2018 houve aumento de 67,5% no lucro líquido atribuível a acionistas controladores, totalizando R$ 44,2 milhões.
A receita avançou 11%, indo a R$ 328,5 milhões. E o resultado operacional aumentou quase 90%, para R$ 60,7 milhões.
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