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Pesquisa brasileira mostra alterações no cérebro de jovens com obesidade (Foto: Pâmela Bertolazzi/Radiological Society of North America)

Estudo usou ressonância magnética para investigar a massa cinzenta de adolescentes obesos

GIULIANA VIGGIANO

Galileo

Um novo estudo realizado por médicos brasileiros comprovou a relação entre a obesidade em jovens e alterações na chamada "substância branca" do cérebro. Os pesquisadores utilizaram imagens de ressonância magnética para chegar às conclusões, que serão apresentadas à Sociedade Radiológica da América do Norte durante uma conferência.

"O estudo com adolescentes obesos mostra uma redução de integridade cerebral em regiões de substância branca responsáveis pelo controle de apetite, controle emocional, sistema de recompensa e funções cognitivas", relata Pâmela Bertolazzi, que participou do estudo, em entrevista à GALILEU.

A substância branca é uma área cerebral composta por células que têm o papel de sustentar e nutrir o órgão, além de garantir o isolamento elétrico de neurônios e gânglios. Essa parte do cérebro é composta principalmente por células da glia, que nutrem e apoiam a estrutura cerebral, e axônios, responsáveis pela transmissão de pulsos elétricos.

Embora a obesidade esteja associada principalmente ao ganho de peso, evidências recentes sugerem que a condição desencadeia uma inflamação no sistema nervoso que pode danificar regiões importantes do cérebro. "Estudos anteriores apontam diminuição de performance acadêmica e menores valores de QI em crianças e adolescentes obesos quando comparados ao grupo controle, o que sugere uma associação da obesidade com o desenvolvimento cerebral", conta Bertolazzi, que é do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo,.

Tendo isso em vista, ela e seus colegas decidiram investigar a questão mais a fundo com o auxílio de aparelhos de ressonância magnética. As análises foram feitas por meio de uma técnica que rastreia a difusão da água ao longo da substância branca durante a transmissão de determinados sinais pelo cérebro.

Utilizando essa técnica, os pesquisadores realizaram as análises graças à chamada "anisotropia fracionada" (FA) — que mede as condições da substância branca do cérebro. Como é possível observar na imagem abaixo, a FA está dos jovens obesos em pouquíssimos lugares (em vermelho), em comparação com a FA do grupo controle (verde). Essas regiões destacadas em vermelho são justamente as responsáveis por controlar as funções cerebrais alteradas, como o controle emocional e o circuito de recompensa, por exemplo.

Para o estudo, os especialistas compararam as informações de 59 adolescentes obesos e 61 adolescentes saudáveis, com idades entre 12 e 16 anos. "Atualmente, nosso estudo é o que possui maior número amostral de crianças, ao todo são 120 sujeitos. E os dados condizem com os achados nos adultos", explica Bertolazzi. 

De acordo com ela, isso significa que, na prática, após a publicação do artigo científico, a técnica que utilizaram na pesquisa poderá ser utilizada no dia a dia de médicos para detectar eventuais riscos ligados à obesidade mórbida.

Além dos riscos ao desenvolvimento cerebral demonstrados pelo novo estudo, sabe-se que a obesidade abre portas para doenças cardiovasculares, além de diminuir a expectativa de vida, quando associada a hábitos alimentares não saudáveis e à falta de exercícios. Por isso, Bertolazzi faz questão de ressaltar a importância de ações do governo que "conscientizem as famílias e incentivem a atividade física".

Dessa forma, o grupo de pesquisadores do qual a brasileira participa pretende continuar estudando o assunto focando justamente na prática de esportes. "Pretendemos realizar um programa de incentivo a exercícios físicos nesses adolescentes obesos para avaliarmos se haverá recuperação da integridade cerebral, conforme esperamos", diz a especialista.
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