O Globo
Jornalista: Bernardo Yoneshigue
Depois de resultados animadores nos testes pré-clínicos — aqueles realizados em laboratório — e na fase 1 — que atesta a segurança em humanos —, agora o laboratório incluiu 29 centros de pesquisa brasileiros nas fases 2 e 3 do estudo. Essas são as etapas finais que buscam descobrir a dosagem ideal e a eficácia do medicamento antes da solicitação de uso para as agências reguladoras.
— A gente não tem tratamento ainda para formas leves da doença, que a pessoa possa tomar em casa e por via oral. E como as vacinas são muito importantes, mas não são 100% eficazes, é importante termos outras estratégias. Um medicamento como esse, se eficaz, pode acelerar o fim da pandemia — explica o infectologista e investigador principal de estudos clínicos do CRT-DST/AIDS, em São Paulo, que será um dos centros de estudo do antiviral, José Valdez Madruga.
O remédio utiliza uma molécula chamada de PF-07321332, que atua como inibidora da protease, uma das enzimas que o vírus da Covid-19 usa para se multiplicar e aumentar a sua infecção. Nos testes, ele é administrado junto ao ritonavir, um medicamento já utilizado que age inibindo o sistema de metabolização de medicamentos do fígado. Assim ele ajuda a aumentar o nível do antiviral no sangue e melhora a sua absorção pelo organismo, explica Valdez.
O medicamento em desenvolvimento é um comprimido administrado por via oral durante os primeiros cinco dias do diagnóstico. O objetivo das fases atuais do estudo é descobrir se ele consegue de fato impedir que a doença progrida para formas mais graves que demandem hospitalização, ou que levem ao óbito.
As pesquisas com o antiviral, que começaram no mundo em março de 2021, hoje estão espalhadas por mais de 170 centros de estudo nos EUA, Brasil, Hungria, Japão, Coreia do Sul, Malásia, México, Polônia, Porto Rico, Tailândia e Turquia. Aqui, o medicamento vai ser testado em onze estados e no Distrito Federal.
O modelo do estudo é randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, assim como o realizado pela farmacêutica para descobrir a eficácia da vacina. Ele funciona por meio da divisão dos participantes em dois grupos, em que um receberá o medicamento e o outro, um placebo. Ao fim dos testes, os dados são comparados para verificar o quanto o remédio foi capaz de melhorar a infecção em relação aos números do grupo que recebeu placebo.
Para os testes, os participantes precisam ser pessoas que não tenham sido imunizadas. A única exceção é para pessoas idosas ou com comorbidades que tenham recebido a vacina.
Essas pessoas, caso desejem participar, serão parte do grupo considerado como sem risco para a doença, uma vez que a imunização diminui as chances de hospitalização e morte.
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