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Por Nina Lemos

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É oficial. Uma nova revolução está em curso. Cientistas americanos realizaram com sucesso testes para uma pílula anticoncepcional masculina, que deve estar no mercado em dez anos. Sim, um sonho se torna realidade. E algumas questões aparecem também.

Por que revolução? E por que um sonho? Oras, porque os assuntos da contracepção sempre foram largados na mão das mulheres desde meninas. Somos nós que, adolescentes, vamos ao ginecologista com vergonha para aprender a se proteger.

Somos nós que, em alguns momentos da vida nos entupimos de hormônio e, quando é o caso, temos espinha, dor de cabeça, peito inchado. Somos nós, também, que não podemos esquecer de tomar a pílula. E ter a receita e comprar na farmácia etc etc etc.

A gente que se vire. Sempre foi assim. Quer colocar DIU? É uma opção, mas você que se vire. Vai doer? Quanto custa? O seguro cobre? Essas são perguntas que vejo toda hora nos fóruns de mulheres que frequento. São assuntos que perguntamos para outras mulheres, como se os homens não tivessem nada a ver com isso,

Sim, o corpo é nosso. As opções são nossas. Mas se nos relacionamos com homens, a questão é dos dois, não? A maioria dos homens, vamos ser sinceras, só se preocupam com o assunto quando eles são daqueles que “não gostam” de usar camisinha. Aí sim, aí eles falam no assunto. E, olha que engraçado, para dizer o que não querem. Aí viram gourmets de método anticoncepcional. Aff.

Em dez anos, espero, as mães vão levar os filhos adolescentes também no médico para que eles saibam das melhores maneiras de evitar gravidez indesejada. Sim, a gravidez para meninos adolescentes também é um problema. Eles também devem poder escolher e se responsabilizar sobre querer ter filho ou não. Devia ser óbvio. Ainda não é.

Pare de tomar a pílula

Um estudo recente mostrou que meninas millenials já dizem não para a pílula . Em países como a Espanha, apenas 17% das mulheres continuam a tomá-la. No mundo todo, o uso cai 5% ao ano.

Não sou millennial, mas devo ter usado pílula no máximo um ano da minha vida. Conheço meninas que foram parar na UTI por problemas causadas por ela. E eu fumo. Seria uma bomba atômica e eu … bem, não preciso me matar porque, bem, gente, existe uma coisa chamada camisinha.

“Mas homem não gosta”, já me disseram amigas modernas e… feministas. Bem, se eles não gostam, problema deles! Por que a gente vai se ferrar, correr risco de ficar seriamente doente porque, na maioria das vezes “os caras não gostam de usar camisinha?”

A gente gosta de se entupir de hormônio? A gente ainda vai fazer coisas para “agradar”, ficar desconfortável para que o cara fique confortável?

E, né, vamos lembrar do óbvio. Sexo sem proteção AINDA transmite doenças. Sim, é possível levar uma vida saudável sendo HIV positivo, por exemplo. Mas isso não quer dizer que você queira se contaminar por esse e por outros vírus que vão te acompanhar para sempre, como o da Hepatite C.

Ah, mas e se a camisinha estourar? É raro, mas acontece. Aí você pode tomar pílula do dia seguinte que, de novo, é um problema da mulher. Em geral, quando acontece, os caras se assustam, olham para a mulher e falam: “você sabe o que fazer?” E lá vai a menina, com ajuda de uma amiga, comprar o tal remédio, que, sim, é uma bomba hormonal, que também deve ser tomado com comedimento e acompanhamento médico porque faz mal. Seria maravilhoso que existisse pílula do dia seguinte para homens, mas isso é impossível.

Já antevejo problemas. As mulheres vão confiar que os homens estão tomando a pilula? Ou vão ter que ficar checando? Comprando para eles, agindo como enfermeiras e falando: “tomou seu remédio, bebê?”

Bem, isso depende deles. E da gente também. Que as mães eduquem os filhos para serem responsáveis pelos seus corpos. Que a gente pare de agir como enfermeira-babá dos homens que “coitados, não conseguem cuidar de si mesmos”. Conseguem sim. E que eles se tornem confiáveis. Vai ser uma pequena revolução. E das boas, espero.

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