Valor Econômico
Jornalista: Ediane Tiago
27/01/20 - Mão de obra qualificada, infraestrutura científica, academia forte, mercado consumidor e acesso a capital de risco são os pilares que sustentam o ecossistema de inovação na capital paulista. A cidade abriga universidades, parques tecnológicos, incubadoras, aceleradoras de empresas e projetos privados como o Cubo Itaú, InovaBra Habitat (Bradesco) e Google Campus - centros que fomentam startups e as aproximam dos investidores e de potenciais clientes. “São Paulo é a Meca da inovação brasileira, com um volume de negócios que nos dá visibilidade internacional”, comenta Juan Quirós, secretário municipal de Inovação e Tecnologia.
O último estudo publicado pelo projeto Startup Genome, destaca 46 polos no globo que superam a barreira dos US$ 4 bilhões em valor gerado em seus ecossistemas - entre eles o de São Paulo, com US$ 5,1 bilhões apurados. De acordo com o levantamento, o hub paulistano se destaca nos segmentos financeiro e de ciências da vida. Outro indicador internacional, citado por Quirós, é o crescimento da São Paulo Tech Week, que superou a edição inglesa, realizada em Londres, e se tornou o maior festival de inovação e tecnologia do mundo. Na edição de 2019, foram realizados 755 eventos espalhados pela cidade, reunindo um público de 85 mil pessoas. “Fizemos ações na periferia para mostrar que há negócios inovadores em todos os cantos”, comenta o secretário.
Para encorpar o caldo criativo da metrópole, o governador João Doria (PSDB) anunciou, em novembro do ano passado, a instalação do Centro Internacional de Tecnologia e Inovação (Citi), na zona oeste. Inspirada no Vale do Silício, a iniciativa cria um distrito de inovação que ocupará 650 mil m2. O complexo engloba as dependências do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o Parque Tecnológico do Jaguaré e prevê a desativação dos imóveis que abrigam o Centro de Detenção Provisória (CDP) e a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) - este último dependente de negociação com o governo federal. O mapa ainda inclui os prédios da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae). As áreas desativadas serão revitalizadas para abrigar empresas, startups e centros tecnológicos.
Entre as instituições parceiras estão o IPT, a Universidade de São Paulo (USP), o Ministério da Economia, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Fapesp, a Finep, o Instituto Butantan e o Centro de Estudos Avançados do Recife (Cesar). Dos agentes internacionais, estão confirmados uma unidade do centro de quarta revolução industrial do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) e outra da Singularity University. “O projeto é uma agenda para o país. Vai dar mais visibilidade à inovação brasileira”, afirma Rodrigo Teixeira, diretor do IPT Open.
A expectativa sobre o Citi já movimenta o mercado imobiliário da Vila Leopoldina - bairro próximo ao Ceagesp e que já foi distrito industrial. A fintech capixaba PicPay fixou sede em um condomínio comercial inaugurado recentemente na região. Em 2018, a PicPay percebeu que seu plano de expansão dependia da presença em São Paulo. “Aqui é a nossa Xangai, o centro financeiro do país e a conexão do mercado com o mundo”, comenta Gueitiro Genso, CEO da PicPay. Ele está animado com o distrito de inovação. “Vai ser benéfico para os negócios”, diz.
A disponibilidade de talentos como Genso - com 30 anos de experiência no setor financeiro e passagens pela diretoria do Banco do Brasil e presidência da Previ - é outra vantagem que a cidade traz para as empresas de tecnologia. São Paulo concentra mão de obra diversa, de técnicos a executivos e cientistas. “Os bons profissionais estão em busca de desafios”, diz. Contratado há seis meses, Genso tem a missão de dobrar o quadro de funcionários da PicPay na capital paulista, chegando a 900 profissionais até o final deste ano.
Rodrigo Freitas, cofundador da Valemobi - fintech nascida em Campinas (SP) - conta que, logo no início da operação, sentiu necessidade de mudar a empresa para a capital. “É um ramo no qual temos de estar próximos do cliente”, diz. A Valemobi desenvolve softwares para instituições financeiras. Em São Paulo, os fundadores encontraram ambiente propício para verticalizar o negócio e criaram o TradeMap, aplicativo voltado para pessoas físicas. As duas estão na Vila Leopoldina.
Ainda no bairro, o empreendedor Jorge Pacheco, fundador da Sangha Investments, alugou galpões industriais desativados da Votorantim para instalar o State - hub de inovação inspirado em iniciativas como o New Lab, de Nova York, e o Station F, de Paris. O projeto foi desenhado para atrair grandes empresas, startups, cientistas e empreendedores da indústria criativa. “Queremos ir além das soluções digitais, criando um espaço que possibilite o desenvolvimento de produtos”, explica Pacheco.
Entre os planos, está o de instalar um laboratório de biotecnologia para uso de startups. A instalação de quatro empresas de origem francesa no State está confirmada. BNP Paribas, Carrefour, Endenred e Ingenico vão formar o hub La Fabrique. A primeira fase do projeto - já em operação - ocupa área de 7 mil m2. Até o fim deste ano, o State deve somar 20 mil m2.
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