Farmacêutica paranaense Prati-Donaduzzi sai na frente na corrida pela produção em laboratório do princípio ativo da maconha e investe R$ 650 milhões em expansão.
26/06/20 - 10h30 - Atualizado em 29/06/20 - 13h36
por Angelo Verotti
Isto É Dinheiro
O laboratório paranaense Prati-Donaduzzi tem vivido nos últimos meses um ciclo de boas notícias em meio ao período de incertezas na economia e de isolamento social. Líder na fabricação de remédios genéricos, com produção anual de 12 bilhões de doses terapêuticas (como comprimidos e cápsulas), a empresa contabiliza crescimento de 30% nas vendas desde o início pandemia, puxadas pela demanda por remédios utilizados no tratamento da Covid-19 – como o antibiótico azitromicina.
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Mas esse crescimento não é o que mais empolga a companhia. A farmacêutica é pioneira no País na fabricação e na comercialização do primeiro produto à base de canabidiol nacional, o Canabidiol Prati-Donaduzzi, um fitofármaco feito a partir do princípio ativo puro retirado da planta (cannabis) e atualmente utilizado para mais de 400 tratamentos de problemas psicomotores, como epilepsia.
A companhia traçou, inclusive, um plano de investimentos de R$ 650 milhões até 2023 para a expansão da capacidade fabril da planta de Toledo, no interior do Paraná. “Já temos contrato assinado com laboratórios de três países da América Latina para exportar o nosso canabidiol, e temos negociações adiantadas com Portugal”, diz o presidente Eder Fernando Maffissoni. “A intenção é levar também o produto a outros países da Europa.”
O fitoterápico, indiscutivelmente, abre portas para a companhia nos mercados internacionais. E foi o único a ter o seu uso autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em abril, após a criação de uma nova categoria de produtos no País, os de Cannabis. A matéria-prima é importada da Europa e a fórmula é totalmente livre de THC (tetrahidrocanabinol), que é a substância psicoativa. Foram investidos R$ 30 milhões no projeto.
Simultaneamente, a Prati-Donaduzzi desenvolve o IFA (Insumo Farmacêutico Ativo) canabidiol sintético, que após todas as regulamentações da Anvisa poderá ser usado como matéria-prima. “Conseguimos produzir a nossa versão do canabidiol sintético por meio de reações químicas em que não é necessário o uso da cannabis”, afirma o executivo.
Toda a expertise, os processos e os protocolos exigidos para a produção e comercialização do Canabidiol Prati-Donaduzzi renderam à empresa paranaense mais uma decisão inédita nos 26 anos da sua história. Ela está lançando sua primeira linha de produtos com prescrição médica. Serão 23 soluções para doenças como Alzheimer e Parkinson, além de outras patologias do sistema nervoso central. A empresa tem 33 centros de distribuição e portfólio de 411 produtos comercializados em 55 mil farmácias pelo País.
Desde fevereiro, a empresa tem comprado novos equipamentos para ampliar sua capacidade produtiva, além de ter concluído o projeto de construção de outra fábrica também em Toledo. A etapa de ampliação da estrutura produtiva está em fase de conclusão com a chegada da última máquina adquirida – os equipamentos comprados são importados da Alemanha e da Itália. “Vamos iniciar nos próximos meses a construção da unidade fabril. Prevemos, com isso, crescimento de cerca de 40% do nosso volume de produção”, diz o presidente. Com as novas instalações, a produção deverá saltar dos atuais 12 bilhões de comprimidos para quase 17 bilhões por ano. Maffissoni afirma que o desenvolvimento da Prati-Donaduzzi é bastante acelerado, com crescimento anual de 15% – o faturamento foi de R$ 1,1 bilhão em 2019 e a projeção é de R$ 1,3 bilhão neste ano. “Chegamos a um momento em que estamos operando com 100% da nossa capacidade”. A companhia tem quase 300 profissionais envolvidos na área de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, com investimento anual total de 5% da receita bruta – R$ 55 milhões. Ao todo, são 4,5 mil colaboradores.
GENÉRICOS A indústria farmacêutica tem se mostrado resiliente às crises econômicas por causa dos medicamentos de uso contínuo, como os hipertensivos. De acordo com balanço da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (PróGenéricos), as empresas do setor venderam 1,48 bilhão de unidades em 2019, crescimento de 6,43% em relação a 2018. Em valor, a receita somou R$ 9,82 bilhões, alta de 14,87% na comparação com o ano anterior. Além disso, a participação da venda de genéricos no varejo chegou a 34,03% no mercado total, que atingiu 4,35 bilhões de unidades. O mercado de doses terapêuticas é de 59,4 bilhões de unidades, com 18% de share (10,6 bilhões) para a Prati-Donaduzzi. Desde que chegaram ao mercado, em 2000, os genéricos já proporcionaram uma economia de R$ 160 bilhões aos consumidores.
A presidente da PróGenéricos, Telma Salles, afirma que o investimento da Prati-Donaduzzi na ampliação da produção mostra que os genéricos são o propulsor para o crescimento do mercado. “A empresa tem venda expressiva para o governo (40%) e conquista a cada dia o varejo. Está num caminho pertinente, oportuno e que não tem mais volta. Os genéricos são uma realidade no mundo.”
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