Preconceito é maior desafio para pacientes de esclerose múltipla

“Uma boa parte das doenças é crônica e incurável, mas pode ser controlada por medicamentos e mudanças no estilo de vida. O mesmo acontece com a esclerose múltipla e pode se viver apesar da doença”, afirma o neurologista Leonardo Valente Camargo | Ricardo Chicarelli – Grupo Folha

Mais de 40 mil pessoas no Brasil e mais de 2,5 milhões de pessoas no mundo têm esclerose múltipla, doença inflamatória crônica autoimune que atinge o sistema nervoso central e provoca uma série de sintomas nem sempre específicos do problema. Os sinais são diversos e podem ser confundidos com outras patologias, por isso o diagnóstico geralmente é feito por exclusão. Mas para os médicos e pacientes, tão difícil quanto se chegar a um diagnóstico é vencer os preconceitos que cercam a doença.

Embora incurável, a esclerose múltipla tem tratamento e controle e, quando feitos de forma adequada, garantem qualidade de vida ao paciente. Com medicamentos e mudanças de hábitos de vida uma pessoa jovem diagnosticada com a doença pode tranquilamente chegar à velhice convivendo com o problema, da mesma forma como faz um paciente com diabetes ou hipertensão. Longe de ser uma sentença de morte, a confirmação da esclerose múltipla pode ser a oportunidade de iniciar um novo modo de vida.

“O preconceito que se tem em cima da esclerose múltipla vem da palavra esclerose. Pessoas de mais idade chamavam os pacientes com quadro de demência de esclerosadas e isso com o passar do tempo foi gerando um preconceito muito ruim que foi envolvendo outras doenças que usam o termo esclerose. Mas esclerose nada mais é do que a presença de uma cicatriz no sistema nervoso central”, define o médico neurologista Leonardo Valente Camargo. A estrutura na qual surge a lesão, explica o especialista, pode dar origem a diversas doenças. A esclerose múltipla é chamada assim porque a lesão acontece em múltiplos lugares.

Compreender a doença e superar os preconceitos que a envolvem é o primeiro passo para que pacientes, familiares e a sociedade em geral passem a olhar a esclerose múltipla com mais naturalidade. “Pouquíssimas são as doenças que têm cura. Uma boa parte das doenças é crônica e incurável, como diabetes, pressão alta, dislipidemia, enxaqueca. Mas elas podem ser controladas por medicamentos e mudanças no estilo de vida. O mesmo acontece com a esclerose múltipla e pode se viver apesar da doença.”

PERFIL DO PACIENTE

Como qualquer outra doença incurável, a esclerose múltipla tem o risco de progredir, por isso o tratamento deve ser instituído de maneira correta, de forma individualizada, respeitando-se o perfil de cada paciente e com o medicamento correto para frear o processo inflamatório. “Depois que a gente perdeu tempo para iniciar o tratamento correto que controla a doença, fica mais difícil o controle e a tendência é progredir. Depois que a gente ultrapassou um certo ponto da doença, ela se torna de mais difícil controle”, alerta Camargo.

Ao primeiro sinal, deve-se consultar um neurologista que vai avaliar o conjunto de sintomas e o histórico do paciente. Os sinais variam de pessoa para pessoa, mas há algumas características comuns. Mulheres jovens, na faixa etária de 20 a 40 anos, de pele clara são mais propensas a desenvolver a doença. Mas a esclerose múltipla também acomete crianças, adolescentes e idosos.

SINTOMAS

Para fechar o diagnóstico, o médico avalia uma série de fatores. Visão dupla, visão embaçada, dormência ou formigamento nos braços, pernas e tronco são alguns dos sintomas clássicos observados nos consultórios. Eventualmente há relatos de dor, que pode percorrer a extensão da nuca até a base da coluna ao movimentar o pescoço para baixo. Alterações na fala, no equilíbrio, na coordenação motora, fraqueza nos braços e pernas, dificuldade para engolir, facilidade para engasgar, vertigem e alterações na bexiga, com urina presa ou solta, também são frequentes, embora sejam sintomas muito vagos para definir o diagnóstico de esclerose múltipla.

“Um paciente com AVC (Acidente Vascular Cerebral) pode ter os mesmos sintomas, mas de maneira súbita. O paciente com esclerose múltipla tem um surto, um deficit neurológico focal com alguns desses sintomas que duram pelo menos 24 horas. São sintomas que vêm, pioram, pioram, vão se arrastando”, comparou o neurologista.

O diagnóstico, ressalta Camargo, é uma combinação dos achados clínicos, do histórico do paciente e exames de neuroimagem, como ressonância magnética, e laboratoriais. “A esclerose múltipla é um diagnóstico de exclusão. Não é um diagnóstico que faz na primeira consulta.”

O tratamento é multifatorial, uma associação de medicamentos específicos para cada perfil de paciente, associados a outras medidas comportamentais. Entre elas estão a suspensão do tabagismo, perda de peso, atividade física aeróbica e anaeróbica, redução da ingestão de gordura e bebidas alcoólicas, além de reduzir o estresse e melhorar a qualidade do sono. “São coisas que a gente já deveria fazer no dia a dia, mas que as pessoas esperam adoecer para fazer. São medidas preventivas também porque a esclerose múltipla é prevenível. Menos de 5% das vezes a doença têm caráter hereditário.”

ESPAÇO ESCLEROSE MÚLTIPLA

No dia 30 de agosto é celebrado o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla e para informar a sociedade sobre a doença, no próximo fim de semana a Fundação Redescoberta da Vida, recém-criada em Londrina por um grupo de profissionais de várias áreas, promove o evento Espaço Esclerose Múltipla, no Aurora Shopping.

Entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro, haverá palestras, oficinas de criação de games, de kokedama, contação de histórias, apresentações artísticas e exposição fotográfica. Segundo neurologista Leonardo Valente Camargo. Camargo, um dos membros da fundação, o evento é destinado principalmente às crianças, por isso foram incluídas muitas atividades lúdicas na programação, mas também terá atrações para adultos que queiram conhecer mais sobre a doença. Tudo é gratuito. “Vamos trabalhar a inclusão, a acessibilidade, a conscientização de forma lúdica”, diz o neurologista.

Artistas londrinenses também estarão presentes.O fotógrafo Fer Stein fará a exposição “Redescoberta” com retratos de pessoas que redescobriram a vida após serem diagnosticadas com a doença. A bailarina Eduarda Farias apresentará uma coreografia desenvolvida por ela após ser diagnosticada. A artista plástica Udhi Jozzolino também terá uma mostra com quadros feitos com uma técnica especial. Neurologistas, nutricionistas, fisioterapeutas e outros profissionais apresentarão diversos aspectos da esclerose múltipla para a comunidade.

SERVIÇO – O Espaço Esclerose Múltipla será realizado nos dias 30 e 31 de agosto e 1º de setembro, no segundo piso do Aurora Shopping (avenida Ayrton Senna da Silva, 400, Gleba Palhano). Horários de funcionamento: dia 30, das 10 às 19h30; dia 31, das 10h30 às 20h; dia 1º, das 13h30 às 20h. Entrada gratuita. A programação completa pode ser conferida no site www.redescobertadavida.com .

Fonte: Folha de Londrina

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