Diante da relevância das redes, o Guia da Farmácia conversou com exclusividade, com o analista do Banco Inter, Henrique Abras, que fez uma análise sobre o balanço de 2022 e as expectativas para 2023 das redes
O Grupo Panvel completou 55 anos em 2022, e é formado pela rede de farmácia Panvel, com lojas na região Sul e em São Paulo; a Dimed, uma das principais distribuidoras de medicamentos do Brasil, com centros de Distribuição em Eldorado do Sul (RS) e São José dos Pinhais (PR); e o Laboratório Industrial Farmacêutico Lifar, divisão de desenvolvimento e fabricação de cosméticos, alimentos e distribuição de medicamentos, que, além de ser responsável pela produção de itens para grandes marcas, também fabrica para a marca própria da Panvel.
Já o Grupo RD, foi formado em 2011, por meio da fusão entre a Droga Raia e a Drogasil, que combinam mais de 200 anos de história no varejo farmacêutico brasileiro. O grupo possui as marcas próprias Needs, Vegan by Needs, Nutrigood, Raia, Drogasil e Caretch, além da RD Marketplace, que também é voltada à venda de produtos de saúde, bem-estar e beleza. Com presença em todos os Estados, a empresa conta com mais de 2.600 farmácias distribuídas pelo País.
Diante da relevância das redes, o Guia da Farmácia conversou com exclusividade, com o analista do Banco Inter, Henrique Abras, que fez uma análise sobre o balanço de 2022 e as expectativas para 2023 das redes.
Confira a seguir:
Por possuírem uma parte relevante de suas lojas localizadas em shoppings, em 2020 (e boa parte de 2021) as farmácias foram afetadas por fluxos nas lojas físicas abaixo dos patamares pré-pandemia. Isso fez com que as empresas tenham voltado o foco estratégico para os canais digitais, melhorando seus aplicativos e aperfeiçoando a logística e o tempo de entrega.
O primeiro semestre de 2022 foi um trimestre muito positivo para o segmento. Com o surto da variante Ômicron e influenza no 1T22, os primeiros meses do ano foram marcados por um aumento significativo da demanda pelos produtos (antigripais e correlatos) e serviços (vacinação) oferecidos pelas farmácias.
Daí para a frente, os altos níveis de inflação, que pressionam custos e despesas, foram atenuados pelo fato de as companhias estarem ligadas ao consumo não discricionário, que apresenta menor elasticidade às altas de preços, facilitando o repasse ao consumidor final. Além disso, as companhias também foram favorecidas pelo reajuste de medicamentos de 10,9%, que entrou em vigor em abril de 2022 e vale até março de 2023.
Neste cenário de alta de preços, vimos que ocorreu um efeito de trade down, onde o consumidor acaba por substituir os remédios de marca por genéricos, mas Panvel e Raia Drogasil estavam bem preparadas para este movimento, devido à vasta quantidade de SKU’s ofertados.
O 3T22 foi mais um trimestre forte para as farmácias, com sazonalidade de inverno do 3T contribuindo para vendas mesmo com um impacto da perda de estoque de alguns produtos relacionados à Covid-19.
Expectativas 2023
Para 2023 esperamos uma desaceleração no crescimento de receita devido a um reajuste de medicamentos que deve vir em torno de 5%, menor frente aos 10,9% do ano passado. Por outro lado, o número de abertura de lojas deve seguir agressivo (esperamos 260 aberturas brutas para Raia Drogasil e 60 para Panvel).
Apesar da desaceleração, para ambas as empresas esperamos crescimento do top-line acima da inflação. Como as despesas gerais e administrativas variam em grande parte de acordo com a inflação, nossa expectativa é de leve diluição do G&A em relação à receita em 2023. Isso deve ser parcialmente compensado pela piora do resultado financeiro, que deve ser pressionado pelo CDI acumulado de 2023, que será maior que aquele visto em 2022.
Raia Drogasil em particular tem investido muito na sofisticação do negócio e transformação digital da companhia, com isso em 2023 esperamos um aumento de 25% no Capex frente a 2022. Para a Panvel, no entanto, esperamos uma leve redução no Capex de 2023 vs. 2022, uma vez que a companhia teve desembolsos relevantes para expansão do CD de Eldorado no ano passado, que não devem ocorrer esse ano.
Raia Drogasil
Entendemos que as boas perspectivas para a empresa já estão no preço, portanto reforçamos nossa recomendação neutra para Raia Drogasil (RADL3), com preço-alvo de R$ 27/ação.
Os principais drivers de crescimento para a companhia são: (i) manutenção da estratégia de diversificação geográfica na abertura de lojas (~80% das aberturas LTM foram fora do estado de São Paulo), com foco em abertura de lojas híbridas e populares em cidades menores; (ii) transformação digital, com crescimento do market place (hoje já oferecem ~100 mil SKUs, com 450+ sellers) e aumento da penetração dos canais digitais (atualmente representa quase 12% do faturamento), que aumentam o engajamento, fidelidade e frequência do cliente; e (iii) melhoria de logística e eficiência de entregas, dada a grande capilaridade da companhia.
Panvel
Devido ao alto potencial de upside, recomendamos compra para Panvel, com preço-alvo de R$ 19,00 por ação.
A empresa deve continuar dominante e expandindo market share na região Sul, com efeito canibalização ainda pouco relevante. Em nossa visão, as principais avenidas de crescimento para a companhia são: (i) crescimento da marca própria, onde a empresa obtém maior rentabilidade; (ii) expansão em regiões ainda pouco penetradas (principalmente no interior do Paraná e Santa Catarina); (iii) manutenção do alto nível de serviços e eficiência de entrega (o novo CD já tem capacidade de duplicar o número de entregas); e (iv) crescimento do digital como ferramenta de fidelização do cliente, que atualmente representa em torno de ~15% do faturamento da companhia.
Além disso, não devem ocorrer novos IPOs de redes de farmácia esse ano, e a dupla alta nos preços não deve gerar mudanças estruturais para as empresas em si. O impacto recai mais para o consumidor final, que em alguns casos pode ser que não consiga arcar com o custo de medicamentos de marca e passe a comprar mais genéricos. Em outros casos, o consumidor que realmente não conseguir comprar mais devido ao aumento de preços vai ter que recorrer ao SUS.
Fonte: Guia da Farmácia
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