Quando o homem também é alvo do câncer de mama | Receita de Médico - O Globo

O Globo 
Colunista: Gustavo Guimarães

São quatro décadas que dedicamos o mês de outubro à conscientização das mulheres de todo o mundo sobre o câncer de mama. Uma história que remete à Nancy G. Brinker, que prometeu à sua irmã, Susan Komen, então diagnosticada com câncer de mama, que se dedicaria a falar sobre a doença. Em 1982, Brinker lançou a Susan G. Komen, organização que, em 1990, promoveria a Corrida pela Cura, evento que lançou a campanha Outubro Rosa. No Brasil, o tema é recorrente desde 1995, quando o estilista Ralph Lauren e outros membros da moda dos Estados Unidos trouxe O Câncer de Mama no Alvo da Moda.

Desde então, e nem poderia ser diferente, o foco está nas mulheres. A explicação está nos números. Com mais de 2 milhões de novos casos anuais, o câncer de mama é o mais comum e a principal causa de morte das mulheres. São registradas 626 mil mortes por ano, segundo o IARC, braço de pesquisa do câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, são 66 mil novos casos de câncer de mama previstos para 2021, o que equivale a três entre dez casos de câncer diagnosticados nas brasileiras.

No entanto, é nosso papel chamar a atenção também para o fato que o homem também é alvo do câncer de mama. Para cada 100 casos, um é na mama masculina. Longe de significar que todos os homens devam agendar a sua mamografia, mas é importante que saibamos quais são os fatores que aumentam a probabilidade de um homem figurar neste 1% e possa se prevenir e ter acesso ao diagnóstico precoce.

Não há estatísticas oficiais, mas, no Brasil, são diagnosticados aos menos 500 casos anuais, a maioria deles entre os 65 e 70 anos. Assim como ocorre com as mulheres, a chance de cura supera os 90% quando a doença é descoberta no início, mas, como é pouco conhecido que os homens também podem desenvolvê-la, eles não procuram atendimento médico quando identificam uma massa ou caroço em seu peito, retardando o diagnóstico.

Dentre os fatores que aumentam o risco de um homem desenvolver câncer de mama estão a exposição a níveis mais elevados do hormônio estrogênio em relação ao hormônio masculino (androgênio), assim como ter recebido radiação, por exemplo, para tratamento de câncer de pulmão ou linfoma e ter histórico de câncer de mama feminino ou masculino na família.

A hereditariedade, por sua vez, merece uma atenção especial. Cerca de um em cada cinco homens com câncer de mama tem pais, irmãos ou filhos com a doença. Tanto em mulheres quanto em homens, as formas hereditárias de câncer de mama estão ligadas a mutações nos genes BRCA1 ou BRCA2, que são transmitidos de uma geração a outra. Por razões ainda desconhecidas, o câncer de mama masculino é muito mais comumente associado ao BRCA2 do que às mutações do BRCA1. As mutações no gene BRCA2 também estão associadas a um risco aumentado de câncer de próstata.

Os homens com histórico familiar devem ser encaminhados ao serviço de Oncogenética para aconselhamento. O médico geneticista poderá solicitar um teste genético, que, por meio de técnica de sequenciamento de nova geração (NGS), investigará se o paciente apresenta mutações germinativas (herdadas ao nascimento), que predispõem a um risco aumentado de desenvolver câncer de mama e outros tumores. As atuais evidências cientificas apontam que, além de investigar as mutações nos genes BRCA 1 e BRCA 2, é também recomendável incluir outros genes nesta análise, dentre eles CHEK2, PTEN e PALB2.

Os principais sinais de alerta são alterações no mamilo: retração (achatamento), inversão (quando cresce para dentro) ou secreção (liberação de fluido), assim como vermelhidão ou descamação dele ou da pele da mama. Alguns desses sintomas podem ocorrer devido a condições não cancerígenas, como uma infecção.

Ao identificar qualquer alteração, é fundamental consultar um médico. Já a ginecomastia (aumento da mama), comum em adolescentes e em homens idosos — embora apresente aspectos semelhantes aos do câncer de mama masculino — não há evidências de que ela aumenta o risco de desenvolver câncer de mama.

(*) Gustavo Guimarães é Urologista e cirurgião. Diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR)

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