Apesar da piora no cenário econômico global e de algum ruído político no Brasil, as condições para o crescimento econômico do país estão dadas, avalia Vinicius Albernaz, presidente da Bradesco Seguros. Assim como muitos executivos à frente de empresas no país, ele reconhece que a retomada esperada para este ano acabou adiada para 2020, mas destaca que o cenário já tem elementos positivos, como a reforma da Previdência quase aprovada, a taxa de juros mais baixa da história e a inflação sob controle.
Para o setor de seguros, diz, é essencial a volta do emprego, mas ele vê na baixa exposição dos brasileiros aos produtos do setor um indicador do potencial de expansão dos negócios.
O senhor vê melhora na economia do país?
– Tenho uma estimativa bastante positiva para o futuro, apesar de a recuperação econômica, de fato, ter sido adiada, não tendo vindo no início de 2019, como se acreditava. Mas ela virá. As condições já postas são positivas: as reformas estão acontecendo. Por trás do ruído político, a reforma da Previdência está se concretizando, há concessões já anunciadas e previsão de captação de novos investimentos na área de infraestrutura. A gente não pode esquecer que há um ambiente global mais desafiador. Mas temos capacidade de resiliência e o percurso de melhora está dado.
Qual é o cenário positivo?
– O Brasil tem hoje a taxa de juros no patamar mais baixo da história, inflação baixa e com previsão de manutenção nesse patamar a longo prazo. São fatores incentivadores do crescimento adiante. Então, esperamos a gradual retomada, com melhora a partir do fim deste ano e principalmente no início de 2020. Indicadores de mercado mostram melhora na atividade, com vendas de participações de companhias em Bolsa, abertura de capital e outras operações.
E no mercado de seguros?
– O mercado de seguros tem demonstrado grande resiliência, com performance mais positiva que o crescimento da economia. O Brasil tem ainda uma relativa subpenetração dos diversos produtos nas mais diferentes áreas. Para se ter uma ideia, na área de seguros automotivos, que é o de maior uso no país, perto de apenas 30% da frota de automóveis são segurados.
Cresce a demanda por previdência complementar?
– A discussão da Previdência traz à tona a necessidade do planejamento de longo prazo dos brasileiros. Uma série de fatores impulsiona a demanda por produtos em seguros, previdência, capitalização. A longevidade pede mais reservas financeiras para o período de aposentadoria, cresce também a importância do plano de saúde, de proteção em consequência a modificações trazidas pelas mudanças climáticas. O entrave está no contexto maior da economia brasileira. Para que a demanda cresça e o setor avance, precisamos da retomada do emprego.
– Já tem havido uma evolução grande em produtos. No rol de previdência complementar, existem modelagens com eficiência na formação de poupança de longo prazo. Num mercado com taxa de juros baixa, a tendência é de aumento na busca por produtos baseados em renda variável, em Bolsa, com riscos diferenciados, que fujam do tradicional, da renda fixa. Mas é um mercado que já vive um ambiente competitivo. Não é apenas pelo modelo de reforma da Previdência, mas o tema da longevidade está na ordem do dia. Neste sentido, a educação financeira da população precisa ser objeto de atenção. Hoje, menos de 10% da população economicamente ativa no país têm previdência complementar. Existe uma necessidade de massificação da previdência privada e isso traz o desafio de formatar produtos de massa.
Como avalia o projeto do governo de quebra do monopólio do INSS em alguns benefícios?
– É um tema ainda muito embrionário. Com isso, é cedo para avaliar qualquer opção. É preciso ter mais informações sobre como a proposta seria formatada. Vemos de maneira positiva a iniciativa. Pode contribuir para o setor. Mas é preciso esperar e avaliar.
O resultado da companhia cresceu apesar da crise. Como?
– Nossos resultados têm sido robustos, apresentando melhora e crescimento ao longo dos últimos dois anos. Isso se deve, em grande parte, ao fato de sermos uma companhia “multirramo”, multicanais, com uma diversidade de produtos para diferentes categorias. Isso ajuda quando a economia está em um momento mais desafiador. (Com crise e recrudescimento da violência) tivemos de investir em eficiência, precificar melhor os nossos produtos e aceitar melhor os riscos.
De que forma?
– O setor de saúde suplementar perdeu 3 milhões de beneficiários no país nos últimos anos. Então desenvolvemos produtos mais competitivos, como um plano com rede referenciada específica para o Rio de Janeiro, atendendo empresas a partir de três vidas (como o setor contabiliza usuários). A retomada no segmento corporativo depende do avanço na economia, mas há recuperação de pequenas e médias empresas. O Brasil mostra uma tendência de mudanças nas relações trabalhistas e familiares. E o mercado tem de acompanhar isso.
O Rio traz um cenário adverso em particular?
– Nós concluímos na semana passada a mudança de três mil funcionários para a nossa nova sede no Rio, na Zona Portuária. A Bradesco Seguros nasceu no Rio. Atualmente, estão na cidade as bases de duas grandes operações do grupo, as divisões Auto/Re (seguros para veículos e residencial) e Saúde. E buscávamos um espaço para ocupar pelos próximos 80 anos, permitindo avançar no processo de transformação digital, na busca de modernizar processos e produtos. Na região, patrocinamos o MAR (Museu de Arte do Rio) e temos outros projetos na área cultural. Mesmo com os sobressaltos (em economia e segurança), vemos o que o Rio tem de muito bom: o capital humano, vindo de uma cidade com boas escolas e universidades. Continua a ser um ambiente onde conseguimos recrutar pessoas altamente qualificadas. Infelizmente, pessoas têm deixado o Rio pela falta de alternativa. Mas nós somos uma alternativa.
Fonte: O Globo
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