Quatro em cada cinco adultos americanos tomam remédios vendidos sem receita médica para tratar doenças como dores, tosse e resfriados, febres, alergias, problemas de pele, azia e outros males digestivos.
É fácil entender as razões. Esses medicamentos são convenientes, estão disponíveis nas farmácias e mercados e saem mais barato do que ir ao médico e pagar a consulta apenas para no fim apenas conseguir uma prescrição.
De acordo com a FDA, agência americana que regula drogas e alimentos, existem mais de 300 mil remédios e produtos que não precisam de receita, um número que continua a crescer. Desde 1975, mais de ce, ingredientes, indicações ou dosagens deixaram de precisar de receita nos EUA.
No ano passado, os americanos gastaram cerca de US$ 44 bilhões em medicamentos sem receita, o que, segundo a indústria, gerou uma economia de cerca de US$ 102 bilhões para o sistema de saúde em visitas médicas, exames de diagnóstico e medicamentos prescritos.
Além de economizar o tempo e o dinheiro dos consumidores, esses remédios dão às pessoas uma sensação de controle sobre sua saúde e seu bem-estar.
AUTOMEDICAÇÃO
Isso seria ótimo se esses medicamentos fossem usados apropriadamente: para o problema indicado, na dosagem certa e pelo tempo recomendado. No entanto, 20% dos adultos que se automedicam admitem tomar mais do que a dose recomendada ou usar o produto com mais frequência do que a bula indica –apenas 10% afirmam que a leem por inteiro.
Poucos consultam um médico –ou mesmo o farmacêutico– sobre a segurança e a sensatez de usar um certo remédio.
Mesmo quando não requerem receita, medicamentos podem gerar problemas –quando os pacientes estão com determinados problemas de saúde ou quando há há chance de interações adversas com outras drogas.
Por exemplo, o paracetamol, ingrediente ativo do Tylenol e de seus vários concorrentes, também aparece em analgésicos que requerem prescrição, como o Vicodin. Em grandes quantidades, o paracetamol pode causar danos graves ao fígado.
Overdoses da substância causam 30 mil internações ao ano por causa de falência hepática aguda. Um estudo com 500 pessoas publicado na revista científica “Journal of General Internal Medicine” revelou que 24% excederiam sem saber o limite seguro de 4 gramas ao dia. Desses, cerca de 46% entram em overdose ao tomar ao mesmo tempo dois produtos com o analgésico.
Muitas empresas oferecem produtos com múltiplos ingredientes para tratar vários sintomas ao mesmo tempo, mas a maioria dos consumidores não precisa de tantos princípios ativos e acabam se sujeitando ao risco de intoxicação.
INCONVENIÊNCIA
Só porque um produto é vendido no balcão da farmácia, não significa que seja inofensivo.
Os laxantes, por exemplo, estão entre os remédios sem receita mais mal usados, e não só pelas pessoas que abusam deles na esperança de perder peso. Quando tomados com muita frequência para prevenir a constipação, os laxantes têm o poder de causar dependência –o intestino pode perder sua habilidade para funcionar bem sem eles.
Pílulas para dormir que não necessitam de prescrição e que contêm anti-histamínicos podem apresentar o problema oposto: perder sua eficácia com o tempo, o que faz com que as pessoas comecem a tomar mais do que a dose recomendada. Elas não devem ser usadas por mais de duas semanas. Mesmo quando tomadas da maneira correta podem causar sono diurno, confusão mental e espessamento das secreções do pulmão.
Algumas pessoas com azia crônica tomam antiácidos para diminuir o mal estar do estômago. Mas eles podem causar diarreia e constipação, além de bloquear a absorção de medicamentosprescritos.
As melhores escolhas disponíveis são os bloqueadores do receptor H2 e inibidores da bomba de prótons, que impedem a produção de ácidos na víscera. Mas esses medicamentos também são perigosos quando tomados por muito tempo, podendo causar fraturas ósseas e deficiência de magnésio, o que pode levar a convulsões.
Quando as substâncias anti-inflamatórias não esteroides, como a aspirina, o ibuprofeno e o naproxeno, são tomados por muito tempo, também podem causar danos, incluindo úlceras, problemas nos rins ou no fígado e um aumento do risco de ataque cardíaco ou derrame.
Entre outras precauções sensatas a tomar quando for comprar um remédio no balcão da farmácia estão: ler a bula inteira, incluindo ingredientes, dosagens, intervalo e tempo indicados e advertências; prestar atenção se o medicamento deve ser tomado com comida ou com o estômago vazio; não misturar remédios e álcool; evitar suplementos minerais e vitamínicos ao mesmo tempo; e, se tiver qualquer reação alérgica ou problemas, anote a causa para evitar a substância no futuro.
Fonte: Folha de S. Paulo
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