Risco invisível na areia de praças ameaça a diversão

O Globo

Jornalista: Pedro Zuazo

03/11/19 - Enquanto observava a filha brincar na Praça do Leme, na última sexta-feira, o advogado Públio Batista Soares não imaginava que a pequena estava exposta a riscos. Uma análise feita por um laboratório particular a pedido do deputado estadual Carlos Minc (PSB), presidente da Comissão pelo Cumprimento das Leis (Cumpra-se) da Assembleia Legislativa, revelou a presença de fungos e parasitas em quantidades preocupantes na areia de três áreas de lazer da cidade: Praça Almirante Júlio de Noronha, no Leme, Bosque da Freguesia, em Jacarepaguá, e Praça Saens Peña, na Tijuca.

A praça no Leme e o bosque apresentaram quantidade de fungos e leveduras acima do padrão definido pela Lei 7.666, de 28 de agosto de 2017. Em contato com a pele, a areia contaminada pode provocar micoses ou reações alérgicas. Mas o maior perigo foi encontrado na Tijuca: a análise detectou a presença de ovos de helmintos, parasitas que podem causar verminoses, viroses e doenças como teníase e candidíase.

— Eu nunca tinha pensado sobre a qualidade da areia da praça. Quando chegamos aqui, achei que estava bem limpinha, pois não vi fezes de animais nem senti cheiro de urina — disse Públio, morador do Espírito Santo a passeio no Rio.

Já o administrador Leonardo Andrade, que estava com dois filhos — de 5 anos e de 1 ano — na Praça Saens Peña, na última sexta-feira, lamentou a situação, mas afirmou que há outros problemas mais urgentes na cidade para a prefeitura resolver:

— É preocupante, mas considerando as necessidades da sociedade e os recursos disponíveis no governo, acho que a situação fica em segundo plano. Cabe aos pais a atenção, higienizar as crianças e levar ao hospital se aparecer alguma doença.

Para o professor de infectologia Edimilson Migowski, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o risco na areia das praças pode ser maior que o apontado pela análise:

— A pesquisa avaliou fungos e bactérias, mas onde há presença de helmintos certamente existem outros contaminantes que não foram avaliados, como vírus que podem provocar diarreia e hepatite.

Segundo o especialista, lavar a areia é uma boa forma de descontaminá-la. Também é possível interditar temporariamente a praça para que o sol mate os parasitas.

— O ideal é que se pudesse higienizar ou até remover a areia. Mas os parasitas não resistem muito tempo à luz do sol e ao calor.

Uma medida que pode ser tomada para evitar nova contaminação é fazer um cercado na área destinada às crianças, evitando a entrada de cachorros e gatos, que estão entre os principais vetores.

Carlos Minc encaminhará amanhã ofício à prefeitura e ao Ministério Público estadual cobrando providências em relação à qualidade das areias das praças:

— Em relação a essas praças que a gente já analisou, a prefeitura deve limpar a areia e informar os pais sobre a situação. Sobre as outras praças sob gestão da Fundação Parques e Jardins, vou pedir que se faça a análise que a lei obriga.

Procurada pelo GLOBO, a prefeitura não se posicionou sobre o assunto.

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