Farmacêutica lançou imunoterapia para câncer no pulmão, prepara nova solução para a covid-19 e vai investir mais 15% em pesquisa “A novidade no ano que vem será nossa entrada na oftalmologia”, anuncia o CEO Patrick Eckert Foto: Vivian Koblinsky / Divulgação
Desde que decidiu sair do lucrativo negócio de vitaminas e remédios de prateleira (OTC) no Brasil, há dez anos, a suíça Roche vem se consolidando como líder na farmacêutica de alta complexidade, especialmente em descobertas de terapias para doenças ainda sem cura pela rota biotecnológica
A filial brasileira ficou no topo do ranking das maiores empresas do setor de Farmacêutica do anuário Valor 1000. No primeiro semestre de 2022, a empresa conseguiu incorporar dois tratamentos sem precedentes ao Sistema Único de Saúde (SUS), o Risdiplam, um medicamento oral para atrofia muscular espinhal genética (AME) para pacientes dos tipos 1 e 2, e o anticorpo monoclonal trastuzumabe para tratamento do câncer de mama para pacientes com doença residual pós-tratamento.
No segundo semestre, a divisão brasileira da Roche pretende ampliar o acesso de pacientes a novas soluções no tratamento da covid-19, bem como o acesso a emicizumabe, um medicamento subcutâneo voltado ao tratamento de pacientes com hemofilia A – droga que é a primeira inovação nesta área terapêutica pública nos últimos 20 anos. A par disso, a Roche lançou para o mercado privado o atezolizumabe, a primeira imunoterapia aprovada para o tratamento do câncer de pulmão em estágio inicial. “Somos uma das farmacêuticas que mais investem em inovação, alocando, todos os anos, cerca de 20% do nosso faturamento global em pesquisa e desenvolvimento.
Estamos comprometidos em desenvolver soluções para necessidades médicas ainda não atendidas, atuando em terapêuticas, como a oncologia, neurologia, oftalmologia e as doenças raras”, afirma Patrick Eckert, presidente da Roche Farma Brasil. Com 90 anos de atuação no país, a Roche brasileira – que é a sexta maior operação do grupo suíço – conclui uma importante transformação em seu modelo operacional. Em uma abordagem disruptiva à indústria farmacêutica, ela migra para medicações e terapias específicas, sob prescrição médica, mais distantes dos remédios comuns de venda em farmácias (OTC). Eckert frisa que garantir o acesso universal à saúde é uma tarefa desafiadora, sobretudo em países com dimensões continentais como o Brasil.
Para dar conta do desafio, a Roche desenvolveu um modelo de transformação para terapias de saúde de ponta, o Healthcare Impact Plan (HIP). “Com essa estratégia, buscamos desenvolver parcerias para fortalecer políticas públicas e colaborar com a implementação de projetos estruturantes em saúde em quatro áreas prioritárias relacionadas aos desafios multissetoriais da saúde: novas tecnologias, infraestruturas eficientes, dados em saúde e financiamento”, ressalta o presidente da companhia.
No Brasil, um foco importante da Roche é o investimento em pesquisa clínica. Em 2021, foram mais de R$ 336 milhões, o que significou um aumento de 15% em relação a 2020. Para 2022, o ritmo de desembolso deve se manter firme como em 2021, quando a empresa investiu em parcerias com 96 centros de pesquisa locais, desenvolvendo 108 estudos (e mais 18 conduzidos pelas contract research organizations – CROs), envolvendo, ao todo, 1,3 mil pacientes. Ainda neste ano, a Roche deve publicar os resultados de 14 estudos clínicos e espera “em breve” fortalecer sua entrada em novas áreas terapêuticas, como na doença de Alzheimer e na oftalmologia, entre outras.
“Em termos de aprovação regulatória, pela primeira vez o nosso portfólio no Brasil contará com soluções voltadas à oftalmologia. Esperamos que essa aprovação saia entre o último trimestre de 2022 e o primeiro de 2023”, adianta Eckert. Em 2021, a divisão brasileira da Roche desenvolveu 108 estudos, envolvendo 1,3 mil pacientes Julio Bittencourt/Valor O investimento da Roche em terapias e dispositivos inovadores para preservar a visão se deve à constatação de que as doenças da retina são uma questão de saúde pública crescente, que irão se tornar mais prevalentes à medida que a população envelhece.
“Temos o mais amplo pipeline de cuidados com a retina, por meio da engenharia molecular e de inovações em biotecnologia, cobrindo estágios iniciais e tardios de doenças oculares graves, como a degeneração macular relacionada à idade (DMRI), por exemplo”, explica ele.
Outro destaque é a parceria firmada com o Centro de Inovação e Saúde Digital do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo, para o desenvolvimento de diversas ações dirigidas à inovação e à análise de dados do mundo real.
Essa aliança busca fortalecer a sustentabilidade do ecossistema de saúde e promover melhorias na jornada do paciente em oncologia – a Roche é a primeira farmacêutica a atuar junto à organização.
Focado no desenvolvimento de estratégias de saúde digital, somam-se esforços dos times de Ciências de Dados das duas corporações, com o uso da inteligência artificial para a geração de Evidências de Mundo Real (RWE) e a elaboração de novas políticas e modelos de remuneração mais sustentáveis para o ecossistema de saúde público e privado (value-based healthcare, ou VBHC).
A rápida evolução das descobertas e terapias gênicas tem pressionado a Roche a encontrar parceiros que desempenham novos papéis no ecossistema – como é o caso de startups, universidades, órgãos governamentais e ONGs.
Eckert destaca que compreender as capacidades e necessidades da companhia é o caminho para o compartilhamento de propósitos – que, somados à inovação, impulsionam a transformação, explorando oportunidades e criando um ambiente de confiança e troca.
“Continuaremos investindo de forma comprometida e consistente na oncologia, mas também firmamos um compromisso de transformar a realidade das pessoas com doenças raras e suas famílias no contexto brasileiro, construindo em parceria com a comunidade e os formuladores de políticas públicas um futuro em que nenhum desses pacientes seja deixado para trás”, assegura.
Atualmente, a Roche tem no seu portfólio para o Brasil cinco medicamentos aprovados localmente para doenças raras (atrofia muscular espinhal, esclerose múltipla, além de hemofilia, fibrose pulmonar idiopática e fibrose cística) e um pipeline “robusto” em patologias como doença de Huntington, distrofia muscular de Duchenne, síndrome de Angelman e hemoglobinúria paroxística noturna.
Como líder mundial em biotecnologia, a companhia investe na medicina personalizada por acreditar que o paciente, cada vez mais, terá que receber o tratamento adequado, no momento oportuno.
Por essa razão, a corporação cuida de controle de dados com profundidade e adquiriu empresas que são referência em tecnologia voltada à saúde, tais como a Foundation Medicine e a Flatiron. A Foundation Medicine realiza a análise genômica de tumores por biópsia tecidual ou biópsia líquida, enquanto a Flatiron basicamente compara os pacientes tratados com a medicação avaliada no melhor padrão de terapia.
“Além disso, fomos reconhecidos em 2021, pelo 13° ano consecutivo, como uma das empresas de saúde mais sustentáveis do mundo pelo Índice Dow Jones de Sustentabilidade”, destaca Eckert. A Roche também se sobressai, mundialmente, pela sua área de diagnóstico e de controle e combate a diabetes.
Fonte: Valor Econômico
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