por Marcelo Fraga
Revista Encontro
É sabido que, atualmente, é possível comprar praticamente qualquer coisa pela internet, desde ítens úteis para o nosso dia a dia, como smartphones e eletrodomésticos, a produtos de alta periculosidade, como armas e drogas. Porém, talvez você não saiba, mas até vírus e bactérias podem ser adquiridos de forma online.
Um exemplo é o site da American Type Culture Collection (ATCC), organização americana especializada na produção e distribuição de micro-organismos, tecidos e células, que possui diversos vírus e bactérias para venda, incluindo os causadores de doenças graves, como a Legionella pneumophila e a Streptococcus pneumoniae – que causam pneumonia –, e o vírus H1N1 (Influenza A), que provoca a temida gripe aviária. Além destes, estão disponíveis também a Mycobacterium tuberculosis, causadora da tuberculose, e o Herpesviridae, vírus responsável pelo herpes humano.
Em princípio, a comercialização de micro-organismos no site da ATCC é voltada para cientistas que trabalham em universidades, laboratórios farmacêuticos e institutos de pesquisa. Porém, como a compra é feita totalmente pela internet, teoricamente, qualquer pessoa mal-intencionada poderia forjar os dados e realizar a compra. Mas, será que um terrorista ou uma organização criminosa conseguiria, na prática, causar uma epidemia caso tivesse acesso aos vírus ou bactérias perigosos?
De acordo com o infectologista Carlos Alessandro Plá Bento, da Sociedade Mineira de Infectologia e do hospital estadual Eduardo de Menezes, o risco não é tão grande a ponto de causar alarde. “Geralmente, os micro-organismos causadores de doenças não sobrevivem muito tempo fora do corpo humano. Então, não é fácil para alguém gerar uma epidemia de forma proposital, simplesmente espalhando o vírus ou a bactéria num ambiente de uso público”, esclarece o especialista.
O médico diz, ainda, que um terrorista precisaria ter um bom conhecimento técnico sobre a doença que pretende espalhar e, mesmo assim, seria difícil iniciar uma epidemia, devido a diversos fatores, como a imunidade das possíveis vítimas e o clima do local onde seria liberado o vírus ou a bactéria.
Mas, existe perigo?
Para Carlos Alessandro Plá Bento, alguns micro-organismos, que conseguem se manter vivos fora do corpo humano, são, sim, mais perigosos. “É o caso da Clostridium botulinum, que provoca o botulismo e pode ser encontrada em latas de alimentos em conserva, como sardinhas, milho e ervilha”, diz o infectologista.
O médico cita, também, a Legionella, bactéria que causa a pneumonia e que, em 1998, levou à morte o então Ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique Cardoso, Sérgio Motta. Este micro-organismo pode ser encontrado nas tubulações de ar-condicionado quando não são devidamente higienizadas.
A Legionella pneumophila causou um surto de pneumonia no Estados Unidos, em 2008. Os investigadores, na época, descobriram que ela estava presente na água de um hotel na cidade de Oxford, no estado do Mississipi.
Veja, abaixo, uma lista de patógenos que podem ser adquiridos no site da ATCC e seus devidos preços (convertidos para o real):
- Influenza A (gripe aviária): R$ 1.143
- Legionella pneumophila (pneumonia): R$ 1.143
- Streptococcus pneumoniae (pneumonia): R$ 1.143
- Mycobacterium tuberculosis (tuberculose): R$ 3.294
- Herpesviridae (herpes humana): R$ 1.143
- Clostridium difficile (superbactéria): R$ 7.774
- Vírus do papiloma humano (ou HPV): R$ 936
- Linfoblasto infectado por HIV: R$ 1.779
- Neisseria meningitidis (meningite): R$ 1.143
Comentários