Saiba como pesquisadores "caçam" remédios na natureza

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Laboratório da USP de São Carlos tem um banco com mais de mil bactérias — Foto: Ilana Camargo

Em laboratórios, florestas ou até no fundo do mar, cientistas procuram substâncias capazes de curar doenças.


Por Marcelo Ferri, Terra da Gente

A pandemia de COVID-19 pegou o mundo de surpresa e desencadeou uma corrida em busca de remédios que possam conter o novo coronavírus. A aposta imediata está na cura de pessoas infectadas já que o processo de desenvolvimento de uma vacina deve levar no mínimo um ano, tempo demais diante de uma doença que mata 75 pessoas por hora no mundo.

Os cientistas não tiveram tempo hábil para chegar à conclusões seguras sobre o uso de medicamentos como a cloroquina, hidroxicloroquina, antiretrovirais e mais uma dezena de substâncias já disponíveis no mercado. Ainda assim, está nesses medicamentos comerciais a grande esperança de cura da COVID-19. "Porque para descobrir um fármaco novo é um processo que leva tempo e no momento atual a situação é de emergência", conclui a doutora Vanderlan Bolzani, química da Unesp de Araraquara e uma das principais pesquisadoras do Brasil sobre o aproveitamento da biodiversidade para aplicações em fármacos.

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A farmacêutica bioquímica Ilana Camargo testa potenciais medicamentos contra bactérias — Foto: Arquivo Pessoal

Mas, afinal, por que esse processo é tão demorado? E como surge um novo medicamento? O caminho mais fácil é encontrar a receita na natureza, garante a doutora Vanderlan. Ao longo de milhões de anos de evolução, plantas, fungos, animais e todos os outros seres vivos desenvolveram remédios internos contra suas próprias doenças. O homem pode copiar a receita, multiplicar e distribuir em forma de medicamento. Dizendo assim parece até fácil, mas estamos falando de um longo e penoso processo onde há mais erros que acertos, mais dúvidas do que certezas.

Por mais inteligente que o homem possa ser jamais idealizaria modelos tão sofisticados como os que a natureza faz
— Vanderlan Bolzani, química

"Uma única família vegetal produz centenas de substâncias de estrutura molecular diferente, logo é o modelo mais fascinante que o homem já teve para explorar e produzir fármacos, cosméticos, suplementos alimentares e outras substâncias que favoreçam a qualidade de vida humana", conclui a pesquisadora.

Veja o exemplo da Aspirina, um dos remédios mais consumidos no mundo: o princípio ativo do medicamento é o ácido acetilsalicílico, um derivado do ácido salicílico encontrado na casca do Salgueiro-chorão (Salix babylonica), árvore originária do Norte da China.

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Veja alguns remédios que vieram da natureza — Foto: Fonte: João B. Calixto / Arte TG

Há mais de dois mil anos o homem utiliza essa substância contra febre, dor e inflamações. O que a indústria fez foi melhorar a molécula no laboratório e produzir em grande escala em forma de comprimido. Na lista de moléculas copiadas da natureza também está a penicilina (antibiótico), morfina (analgésico), quinina (antimalárico), captopril (antihipertensivo) e mais algumas centenas de substâncias.

No interior de São Paulo o CIBFar, Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade de Fármacos, reúne cientistas do Laboratório de Física da USP de São Carlos, Institutos de Química da Unesp de Araraquara e Unicamp, Departamento de Química da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos) e Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto, com a missão de encontrar novas substâncias na natureza que possam combater doenças, especialmente as chamadas "doenças negligenciadas", como a malária, que atingem populações pobres e não despertam muito interesse da indústria farmacêutica.


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Veja quais são as etapas para a criação de um novo medicamento

Tudo começa com como uma aposta: uma folha, caule ou raiz de planta, por exemplo, que pode conter substância curativa. "Fazemos coleta de partes das plantas, ela chega fresca, nós secamos, depois de seca nós moemos e reduzimos à pó", mostra Paulo Cezar Vieira, químico da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto.

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