Impedir que algumas doenças infecciosas sejam transportadas por turistas de um país a outro é uma forma de controlar sua disseminação. Para não se contaminar nem ser barrado na chegada ao destino, é preciso verificar as exigências de vacina antes do embarque.
A imunização mais pedida pelo mundo é a contra a febre amarela, atestada pelo CIVP (Certificado Internacional de Vacinação ou Profilaxia), emitido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), ou pelo certificado de isenção de vacina.
“Já ouvimos casos de pessoas que foram extorquidas, tiveram que pagar propina ou retornar ao local de origem no primeiro voo, pois foram impedidas de entrar no país”, diz Jessé Reis Alves, 51, infectologista que durante 19 anos trabalhou no núcleo de medicina do viajante do hospital Emílio Ribas, em São Paulo.
O documento pode ser solicitado pelas autoridades do país de destino na chegada ou mesmo no embarque, pela companhia aérea. Quem ainda não tem o certificado pode se informar a respeito dele pelo site da Anvisa.
Quem não pode tomar a vacina pode recorrer ao certificado de isenção: uma carta de médico, preferencialmente em inglês, dizendo que o indivíduo tem um impedimento, como uma doença ou alergia grave. “Em geral, é aceito internacionalmente, diz Alves.
Qualquer médico pode fazer a carta, e um modelo disponível no site da Anvisa pode servir como base.
Embora se fale menos da febre amarela do que no ano passado, as regras continuam as mesmas, e não se pode descuidar. “Tivemos cerca de 80 casos de febre amarela no Brasil confirmados neste ano especialmente entre São Paulo e Paraná”, lembra Alves. Em 2018, só em São Paulo, foram 503 casos, segundo o Centro de Vigilância Epidemiológica.
Outra preocupação atual é com o sarampo. Na última segunda-feira (29), foi confirmado o terceiro caso da doença na cidade de São Paulo. Todos os pacientes foram contaminados fora do país —em Israel, Noruega e Malta.
Segundo o infectologista, bebês menores de um ano e pessoas não vacinadas são mais suscetíveis à doença. Assim, independentemente de ter viagem marcada ou não, é recomendável imunizar-se.
“Até os 30 anos devem ser feitas duas doses da vacina. Dos 30 aos 49 anos é uma única dose. No caso de um viajante que vá para alguma área de risco, eu não coloco limitação de idade”, diz Alves.
A proteção pode ser feita gratuitamente no serviço público, como parte do calendário do programa nacional de imunizações, ou em clínicas privadas, por preços variáveis.
E quem foi vacinado há muito anos? Deve ser vacinado novamente? Se a pessoa tem a comprovação de que fez duas doses na infância ou na juventude, não é necessário.
Em relação a outras doenças, é preciso fazer a verificação caso a caso, dependendo do destino. Imunizações corriqueiras, como contra tétano, sarampo, caxumba e rubéola (tríplice viral) são importantes, pois mesmo países desenvolvidos têm registros dessas doenças.
“Basicamente, o indivíduo tem de se informar se o país exige alguma vacina. Há casos específicos, como de viajantes que vão para Meca, na Arábia Saudita, durante o Hajj (período de peregrinação), que têm de estar imunizados contra o meningococo e o vírus da poliomelite”, diz o médico.
É fundamental manter os registros de vacinação atualizados. Determinados países exigem certificados de imunização contra algumas doenças mesmo sem ter registros recentes de ocorrências.
Países da Ásia, Oceania e América Central, por exemplo, passaram a exigir do viajante brasileiro o certificado de vacinação contra a febre amarela, em função dos recentes surtos da doença no país.
Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2019/04/18/rede-dos-eua-passa-a-orientar-viajantes-sobre-vacinas/
Quem tiver dúvidas relacionadas à saúde antes de uma viagem pode procurar núcleos especializados em medicina do viajante, como o do hospital Emílio Ribas.
Gratuitas, as consultas são realizadas de terça a quinta, das 8h às 17h, e às sextas, das 8h às 11h —deve-se marcar pelo email agendamento@emilioribas.sp.gov.br. Não é preciso ser paciente do hospital.
Médicos especializados em turismo podem oferecer orientação referente não só a vacinas, mas a outros cuidados de saúde com base no roteiro a ser realizado pelo viajante.
“Todo o trajeto do viajante está sujeito a problemas de saúde, geralmente infecciosos”, afirma Alves.
“Mas há outras ocorrências, como risco de trombose venosa, tromboembolismo pulmonar, alterações ligadas à altitude e problemas decorrentes de calor e frio excessivos.”
Dicas de vacinação para turistas
Exigências por região
América do Norte Difteria, tétano, hepatite B
América Central Hepatites A e B, tétano e difteria, febre tifoide
América do Sul (zona tropical) Febre amarela, hepatites A e B, tétano e difteria, febre tifoide, infecção meningocócica
América do Sul (zona temperada) Hepatites A e B, tétano e difteria, febre tifoide
África do Sul Hepatites A e B, tétano e difteria, febre tifoide, poliomielite
Norte da África Hepatites A e B, tétano e difteria, febre tifoide, poliomielite, raiva
África subsaariana Febre amarela, hepatites A e B, tétano e difteria, febre tifoide, poliomielite, raiva
Ásia Oriental Hepatites A e B, tétano e difteria, febre tifoide, poliomielite, infecções meningocócicas, raiva
Sudeste Asiático Hepatites A e B, tétano e difteria, febre tifoide, poliomielite, infecções meningocócicas, raiva
Centro-Sul da Ásia Hepatites A e B, tétano e difteria, febre tifoide, poliomielite, infecções meningocócicas, raiva
Sudoeste Asiático Hepatites A e B, tétano e difteria, febre tifoide, poliomielite, infecções meningocócicas, raiva
Norte da Europa Hepatite B, tétano e difteria, encefalite transmitida por carrapatos
Sul da Europa Hepatites A e B, tétano e difteria, febre tifoide, poliomielite, infecções meningocócicas, raiva, encefalite transmitida por carrapatos
Onde tomar
Vacinas contra tétano, hepatite B e febre amarela estão disponíveis nos postos de serviços públicos de saúde
A imunização contra a hepatite A e febre tifoide é feita apenas em clínicas particulares
No caso da vacina para pré-imunização contra raiva, o viajante deve procurar o núcleo de Medicina do Viajante do Hospital Emílio Ribas ou o serviço especializado de sua região
Quando tomar
Para garantir o efeito da imunização, o ideal é se programar para tomar as vacinas um mês antes da data da viagem. Esse intervalo é eficaz para praticamente todos os tipos de vacinas. O turista que não dispuser desse prazo deve tomar a vacina assim mesmo, garantindo um mínimo de proteção
No caso da vacina contra a febre amarela, é preciso se imunizar pelo menos dez dias antes da data da viagem. Companhias aéreas cujos voos se destinam a países que exigem comprovante de vacinação podem impedir o embarque do viajante cuja imunização não esteja dentro do prazo
Outras dicas
Mantenha atualizado o calendário vacinal recomendado pelo governo, que inclui imunizações contra tétano, hepatite B, febre amarela e tríplice viral. Se a viagem incluir deslocamento de bicicleta, faça a pré-imunização contra a raiva
Fonte: Folha de S. Paulo Online
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