Serviços Digitais: Diagnósticos ganham mais precisão

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Valor Econômico

Jornalista: Ediane Tiago

 

 

31/01/20 - Há 25 anos, Atul Gupta planejava ser um cirurgião cardiovascular. Recém-formado em medicina, estudava incisões no tórax e técnicas para tratar o coração quando, em um dos centros cirúrgicos da Universidade de Al bany - no Estado de Nova York (EUA) -, ele teve seu primeiro contato com procedimentos pouco invasivos. Assistiu a médicos operarem o fígado de um paciente com o apoio de fios, cânulas e equipamentos de imagem. Sem grandes cortes e com pouco sangue derramado. Vislumbrou, ali, o futuro da medicina. Após um ano de residência em cirurgia, foi cursar radiologia na Universidade da Pensilvânia.

Hoje, a qualidade das imagens de diagnósticos e os avanços da computação mostram que o médico fez a escolha certa. “A medicina minimamente invasiva é a melhor solução. O paciente se recupera mais rápido e os custos com o tratamento diminuem”, conta Gupta, que atualmente trabalha como diretor médico da área de terapia guiada por imagens da Philips.

Durante seus 20 anos em consultórios e hospitais, ele aprendeu a incorporar a tecnologia à prática médica. Agora lidera um time dedicado a combinar recursos de inteligência artificial, imagens em três dimensões (3D) e realidade aumentada para ampliar a capacidade de operar pacientes com o mínimo de incisões. “Se há um superpoder que todo médico deseja, é a visão de raio X. Estamos em busca dele”, comenta Gupta.

O médico fez uma demonstração da solução que está sendo desenvolvida pela empresa durante a RSNA 2019, feira internacional de radiologia realizada na cidade de Chicago, em dezembro. Ele estendeu à repórter um par de óculos de realidade virtual - como os utilizados em jogos eletrônicos. A única diferença está nas lentes, que são transparentes e permitem o contato visual entre médicos e pacientes.

Basta ajustar o equipamento ao rosto para ter acesso ao menu do sistema. As lentes se transformam em tela que projeta uma espécie de holograma, sensível ao toque dos dedos. Para quem vê de fora, o usuário está apenas tocando o ar. Por dentro dos óculos, os ícones aparecem no campo de visão, em uma realidade virtual que confunde os sentidos. Os dedos correm pela tela invisível, dando acesso aos dados extraídos dos exames e do prontuário eletrônico do paciente. Em um dos recursos, saltam as imagens dos órgãos e do sistema vascular.

O gesto de pinçar os dedos amplia e reduz a imagem, permitindo vasculhar detalhes. É possível “pegar” os órgãos e “manipulá-los”. Ao posicionar os óculos sobre o tronco do paciente, a sensação é de poder enxergar sob a sua pele. Algo muito parecido com a visão de raio X representada nos filmes de super-heróis.

A solução de realidade virtual é apenas um dos exemplos de como a digitalização está transformando o cuidado com o paciente, os procedimentos, o trabalho dos médicos a gestão nas instituições de saúde. Imagens de alta resolução combinadas com recursos computacionais, como conectividade, sensores e inteligência artificial, prometem ampliar a capacidade médica de diagnosticar, tratar e acompanhar pacientes, reduzindo riscos, custos e facilitando ações de promoção e prevenção da saúde.

Frans van Houten, CEO da Philips, explica que essa revolução afeta, de maneira significativa, a cadeia de valor da saúde, levando empresas tradicionais do ramo a investirem pesado em softwares, para utilizar toda a capacidade dos equipamentos. “Os avanços em hardware chegaram a um limite. A inovação, nos próximos anos, se dará no uso inteligente dessas máquinas”, comenta van Houten.

Nesse contexto, é natural, destaca o CEO, que só se fale em inteligência artificial (IA). “Estão todos obcecados com o tema”. De fato, a IA tomou conta da maior parte das apresentações e discussões da última edição da RSNA, ocupando a agenda de executivos de especialista da Philips, Siemens e GE, além de atrair para a arena gigantes da tecnologia como IBM e Google.

Do lado de empresas tradicionais pesa, a favor, a experiência com médicos, hospitais e o fato de elas fabricarem os equipamentos, ou o hardware médico. “Sabemos que tecnologia não é tudo. Na área da saúde, é importante conhecer os procedimentos e a jornada do paciente nos tratamentos”, destaca van Houten.

A nova fronteira, diz o executivo, está na utilização correta dos dados. “Nossos esforços em pesquisa e desenvolvimento (P&D) estão centrados em ajudar profissionais e instituições a cuidar melhor dos pacientes, com o suporte dos dados”, comenta.

Para David Gruen, diretor médico de imagem do IBM Watson, a inteligência artificial aumenta a produtividade e auxilia os médicos. Na área de diagnósticos por imagem, a IBM tem treinado o Watson - plataforma de serviços cognitivos - para analisar imagens e identificar tumores.

O objetivo é que o sistema encontre padrões difíceis de serem percebidos pelos olhos humanos, ampliando a capacidade de diagnóstico precoce.

“A combinação entre homens e máquinas vai revolucionar a medicina”, afirma Gruen. A máquina dará ao homem o poder de processar um conjunto de imagens cada vez maior e de “enxergar” o que está escondido nelas.

“Durante a análise de uma imagem, o radiologista pode ser interrompido ou estar tão cansado que não nota uma anormalidade. O sistema vai passar o pente fino”, explica Gruen.

Segundo o executivo, só nos Estados Unidos são realizados 800 milhões de exames de imagem anualmente, gerando 94 bilhões de imagens. O país possui 31 mil radiologistas, o que contabiliza três milhões de imagens por ano para cada um deles. “É uma escala impossível para um ser humano”, reforça o diretor médico da IBM.

Sara Yusuf, diretora da área de diagnóstico por imagens dos hospitais ingleses Sandwell e West Birmingham, está animada com os avanços da inteligência artificial na radiologia. “É um apoio importante. Os softwares vão trazer mais elementos para o diagnóstico”, diz. Ela destaca, no entanto, o maior desafio: a falta de informações sobre o histórico do paciente. “Os projetos de prontuário eletrônico precisam decolar”, conclui.

 

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