As overdoses relacionadas com opioides nos EUA acarretaram um saldo de mais de 47.000 mortes em 2017. Dessas, 36% incluíam drogas que tinham sido administradas com receita médica. Essa crise tem gerado um alerta e diversas campanhas de prevenção. Além disso, uma notícia impactante foi divulgada nas últimas semanas: a American Pain Society (Sociedade Americana de Dor) foi forçada a encerrar devido a acusações de conluio com a indústria farmacêutica.
Em matéria publicada no The Lancet, o término da sociedade foi justificado por acusações de ter corrompido seu papel como organização médica independente. Foi divulgado que ela ajudou a impulsionar as vendas de analgésicos narcóticos em nome de grandes empresas farmacêuticas, como a Purdue Pharma, de quem a sociedade recebeu quase US $ 1 milhão. O artigo reconheceu que, apesar da polêmica, a American Pain Society contribuiu indubitavelmente com a pesquisa e tratamento da dor. Especialmente para pacientes com câncer, que apresentam dor crônica.
Nos anos 80, a sociedade já iniciava uma defesa cautelosa aos opioides. Em 1996, emitiu uma influente declaração alegando que os opioides eram seguros e eficazes para o tratamento da dor crônica, e que o risco de dependência era baixo. Também foram eles que estabeleceram a dor como um “quinto sinal vital”, o que faz com que os médicos priorizem o tratamento da dor.
Em seu site, a American Pain Society falou sobre o processo de falência e destacou as contribuições que fizeram nas pesquisas de dor nos últimos 40 anos. Ressaltaram o apoio as carreiras de jovens cientistas e médicos interessados em melhorar a gestão da dor. Afirmaram também que fizeram isso por meio de abordagens multidisciplinares baseadas em evidências, financiando bolsas para 50 profissionais em início de carreira. E que, coletivamente, publicaram mais de 1.000 artigos e receberam 96 doações no total de quase US $ 105 milhões.
A empresa farmacêutica Purdue Pharma também não saiu ilesa neste contexto de crise americana dos opioides. Aceitou pagar US$ 270 milhões ao estado de Oklahoma em um dos mais de 1.600 processos que responde por sua suposta responsabilidade em agravar a crise dos opioides nos Estados Unidos, segundo informaram meios de comunicação locais.
Autora:
Dayanna de Oliveira Quintanilha
Médica no Hospital Naval Marcílio Dias ⦁ Residência em Clínica Médica na UFF ⦁ Graduação em Medicina pela UFF ⦁ Contato: dayquintan@hotmail.com
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