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Robo de telemedicina com imagem do médico Murilo Chiamolera circula em corredor do Hospital Israelita Albert Einstein - Lalo de Almeida/Folhapress

Empresas enfrentam percalços regulatórios e dificuldades para importar insumos

por Andrea Vialli
FOLHA DE SÃO PAULO


Deus grego do fogo e da metalurgia, Hefesto emprestou seu nome a uma startup paulistana. Ela oferece uma solução para casos de fratura de fêmur em crianças com menos de cinco anos.

A empresa finaliza o protótipo de uma órtese pelvipodálica construída em impressora 3D . Ela substitui o gesso e pode tornar menos dolorosa a recuperação da criança.

Enquanto uma órtese de gesso pesa em média três quilos, a novidade não deve ultrapassar 700 gramas. Impressa com resina PET, tem custo menor e é reciclável, além de sair já nas medidas exatas do paciente e ser fácil de limpar.

“O passo seguinte é realizar testes clínicos comparando o desempenho da nossa órtese impressa em 3D com o gesso. O objetivo é chegar a um protótipo barato, eficiente e viável também na rede pública”, diz Ney Peres, cofundador da Hefesto e ortopedista no Hospital Israelita Albert Einstein.

Completam o time o também ortopedista Luiz Fernando Michaelis e o engenheiro mecânico Ronaldo Miranda, especialista em programação e impressão 3D. A Hefesto é uma das startups incubadas na Eretz.bio, iniciativa de fomento a empreendedores do Einstein em São Paulo.

Num espaço de coworking, 32 startups desenvolvem protótipos, testam tecnologias e participam de treinamentos.

Incubada na Eretz.bio desde o início do ano, a Savelivez, de Florianópolis, criou uma plataforma para conectar bancos de sangue a doadores.

O sistema desenvolvido pela startup utiliza conhecimentos da área de engenharia de produção, machine learning (ramo da inteligência artificial em que sistemas aprendem a analisar dados e executar tarefas) e redes neurais (sistemas com padrões semelhantes aos do cérebro humano) também para aprimorar a gestão dos bancos de sangue.

A solução já é empregada pelo Einstein e pelo Hemocentro de Ribeirão Preto, que atende 140 hospitais do interior paulista. “É possível prever a demanda, definir estoques, programar a produção e captar doadores”, diz Rafael Oki, engenheiro de produção e fundador da Savelivez.

O software deve ajudar hemocentros a encontrar doadores de sangue com tipologias mais raras, a partir do cruzamento de bases de dados, com confidencialidade.

O chamado ecossistema das healthtechs, pequenas empresas de tecnologia para a área de saúde, atrai investidores e grandes corporações de olho nas possibilidades de inovação.

O grupo Dasa, de medicina diagnóstica, é uma das apoiadoras do Cubo, espaço de apoio a startups criado em São Paulo pelo Itaú Unibanco em parceria com o fundo Redpoint Eventures. A empresa patrocina o espaço Health, de tecnologia e saúde, como forma de se aproximar desse ambiente de inovação. Em contrapartida, as startups ajudam o corpo clínico e pesquisadores do Dasa na validação de projetos e novas tecnologias.

Segundo Thiago Julio, gerente de inovação aberta do grupo Dasa, não falta gente disposta a investir na área, mas o ciclo de uma healthtech tende a ser mais longo em relação a outras startups. “Mesmo recebendo investimentos, elas precisam de um tempo maior para validar suas tecnologias e ganhar escala”, diz. Hoje, há dez startups no Cubo Health.

Mas empreendedores ainda se deparam com percalços regulatórios, dificuldades para importar insumos e equipamentos e alta carga tributária.

A BioArchitects nasceu voltada a produtos customizados da área de saúde. A partir da necessidade de um cirurgião, desenvolveu seu primeiro produto: uma prótese craniana impressa em titânio. Foi aprovada pelo FDA, o departamento dos EUA que regula alimentos e medicamentos.

A empresa, porém, ainda não tem permissão para comercializar a novidade no Brasil, já que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) exige que os produtos sigam um padrão para homologação —uma barreira no caso das próteses customizadas.

A saída foi abrir uma filial nos EUA e, em paralelo, desenvolver outros produtos para o mercado nacional, como biomodelos, réplicas de órgãos e ossos impressos em 3D para planejamento cirúrgico, e simuladores para treinamentos.

Felipe Marques, sócio da BioArchitects, diz acreditar que ter suas próteses no mercado nacional é questão de tempo. “As tecnologias avançam mais rápido que a legislação. Mas vemos um esforço por parte dos órgãos reguladores.”

Segundo a Anvisa, o número de pedidos de análises de próteses sob medida foi de 39 em 2017 para 156 em 2018.

SISTEMA ONLINE FACILITA DIAGNÓSTICO DA APNEIA DO SONO

Dormir bem era um desafio para o engenheiro eletrônico Tácito de Almeida: foram anos com apneia obstrutiva do sono, distúrbio crônico que leva a paradas respiratórias à noite. Diagnosticar e tratar o problema envolvia o incômodo de realizar polissonografias, exame em que o paciente passa a noite no hospital.

O desconforto de Almeida acabou virando ideia de negócio: e se um aplicativo monitorasse o sono e simplificasse o diagnóstico da apneia?

O engenheiro levou a ideia ao pneumologista Geraldo Lorenzi Filho, diretor do Laboratório do Sono do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo, que se tornou sócio na startup Biologix.
Com investimento inicial de R$ 250 mil, a empresa desenvolveu uma tecnologia que serve para diagnóstico e para monitoramento remoto da apneia. Um sensor capta e envia a uma plataforma em nuvem dados sobre o sono do paciente, que dorme em casa.

O custo é de menos de 10% do valor de um exame no hospital, diz Almeida. Na rede privada, uma polissonografia chega a R$ 3.500. No SUS, a espera é de até dois anos.

No ano passado, a startup recebeu apoio do programa PIPE/PAPPE Subvenção, que reúne recursos da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) para empresas inovadoras.

O aporte de R$ 1 milhão está ajudando a aprimorar o produto e ampliar sua divulgação no mercado.

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