Superpopulação de alunos cauda disputa de pacientes

O Estado de S.Paulo

por Fabiana Cambricoli

29/09/19 - A busca das universidades por uma unidade hospitalar própria para as práticas dos alunos não é apenas uma comodidade, mas uma necessidade cada vez mais urgente. Isso porque, com a explosão de estudantes de Medicina em Pedro Juan Caballero, o principal hospital da região não tem suprido a demanda.

Com apenas 90 leitos e estrutura precária, o Hospital Regional de Pedro Juan Caballero recebe todos os dias centenas de alunos. Em visita à unidade, a reportagem encontrou praticamente em todos os setores, da maternidade à psiquiatria, grupos de estudantes brasileiros. “Como são muitos alunos, a gente tem de ficar ‘brigando’ pelo paciente”, comenta Vanessa Sibely Veronica Santos da Silva, de 20 anos. Ela também reclama da estrutura dos hospitais. “Aqui é tudo mais simples, não tem muita tecnologia”, diz.

De fato, até a estrutura física do prédio chama a atenção pela simplicidade. O teto é de telha, sem forro, e há sujeira e bolor acumulados. Não há arcondicionado nos espaços, no máximo um ventilador de teto, e muitos dos móveis, como armários e camas, estão quebrados ou malconservados.

No dia da visita do Estado à unidade, um bebê de 28 dias internado com bronquiolite era atendido em um leito comum, em um dos quartos com os problemas citados acima, pois não há estrutura de atendimento neonatal. As limitações fazem Vanessa e outros estudantes planejarem realizar o internato (período durante o 6.º ano da graduação em que o aluno faz uma espécie de estágio em um hospital) em algum centro médico do Brasil. Algumas faculdades paraguaias conseguiram firmar um acordo com hospitais brasileiros para tornar essa prática possível.

Se, por um lado, a estrutura física atrapalha o processo de aprendizado dos estudantes, eles elogiam a abordagem humanizada que são incentivados a adotar. “A maioria das pessoas que atendemos é muito humilde. Algumas são indígenas, não falam nem espanhol. Então temos de ter muita paciência, exercer o tempo todo a humildade”, comenta Marcos Cesar Ferreira dos Santos, de 42 anos, estudante do 4.º ano.

Marketing

Mesmo com o hospital da cidade sem condições de receber mais alunos, parte das faculdades de Pedro Juan Caballero e de outras cidades tem investido em estratégias de marketing pesadas voltadas ao público brasileiro. “Criamos um call center em português e contamos com captadores, que são alunos que firmam um contrato com a faculdade para ganhar uma remuneração se trouxer mais alunos. Mas não pode ser pouco, tem de ser pelo menos uns 20, segundo o contrato”, afirma Diego Hermosilla, coordenador administrativo da Universidade Politécnica e Artística do Paraguai (Upap), em Pedro Juan Caballero, que já conta com 1,4 mil estudantes de Medicina – 96% são brasileiros.

Para conseguir bater a meta de alunos atraídos, os captadores usam principalmente as redes sociais, como é o caso de Andiara Barros, de 29 anos, aluna do 5.º ano da Upap que mantém o perfil Medicina Informa, no Instagram, com posts e vídeos sobre o dia a dia dos alunos do curso no Paraguai. Ela também possui site, número de WhatsApp, canal no YouTube, página no Facebook e outros recursos para dar consultoria e atrair novos estudantes.

“O máximo que já consegui captar por semestre foi 150 alunos, mas em épocas mais fracas são de 40 a 60”, conta Andiara, que, com o valor obtido com as novas matrículas, consegue arcar com os custos das mensalidades.

Outra instituição que trabalha com captadores é a Universidade Central do Paraguai (UCP). O próprio diretor de Marketing da faculdade, Renato Michel, é aluno do 3.º ano de Medicina e também realiza ações de captação de novos estudantes. Neste semestre, a UPAP fez outra aposta na tentativa de atrair mais brasileiros: passará a oferecer o curso noturno, e não só o de período integral, como a maioria das faculdades. “É para dar a oportunidade de estudar a quem precisa trabalhar”, diz Hermosilla. Ele afirma que a carga horária será a mesma.

Carga horária

No noturno, os alunos terão aulas de seis horas, todos os dias. No integral, explica ele, a diferença é que o aluno tem aulas pela manhã e à tarde, mas nem todos os dias e com muitas janelas entre as diferentes aulas. “No curso noturno, as aulas serão mais concentradas.”

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