Uma técnica que possibilita a destruição de tumores ao esquentá-los com radiação micro-ondas está sendo testada no Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), ligado à Faculdade de Medicina da USP.

A técnica, chamada de ablação, é uma alternativa quando a cirurgia não é indicada, seja porque o tumor é inoperável ou tão escondido que a cirurgia causaria mais danos do que benefícios.

A técnica consiste em inserir uma agulha no órgão afetado, até a ponta encontrar o tumor. Para localizá-lo, são usadas imagens de ultrassom ou de tomografia —nada de cortes ou cirurgia. Por causa disso, uma das vantagens da ablação é que o paciente pode ir para a casa geralmente já no dia seguinte ao do procedimento.

No Icesp, no último dia 16, dois pacientes passaram pela ablação de tumores por micro-ondas. A instituição é uma das pioneiras no emprego da nova tecnologia no país. Ao longo do estudo, 60 pacientes serão submetidos ao tratamento.

A grande vantagem da ablação por micro-ondas em relação à tecnologia anterior, baseada em radiofrequência, é a velocidade do procedimento. O tempo que leva para destruir um tumor pode ser reduzido a um décimo, ou seja, ele pode ser aniquilado, a depender de seu tamanho, em apenas quatro minutos. Em pacientes com múltiplos tumores, o ganho pode ser de algumas horas.

Ambas as técnicas, nova e antiga, se baseiam em usar radiação pra esquentar o tumor, fulminando suas células. O esperado é que assim ele pare de crescer e de se espalhar. A ablação funciona bem com tumores pequenos de fígado, de rim, de pulmão e ósseos, explica Denis Szejnfeld, professor de radiologia intervencionista na Unifesp e diretor do Hospital Certa.

“Todas as técnicas têm a limitação de tamanho do tumor a ser tratado, não dá para queimar com agulha um de 10 cm, por exemplo, mas pode ser possível [com a de micro-ondas] expandir do número mágico de 3 cm para até 5 cm com eficácia semelhante”, conta Szejnfeld.

“É uma técnica inovadora, já estabelecida no exterior, que chega agora ao Brasil e melhora o resultado no tratamento. Com ela, esperamos tratar nódulos maiores e, futuramente, até outros tumores que atualmente não são eliminamos por ablação”, afirma Marcos Menezes, chefe da radiologia do Icesp e presidente da Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular.

As agulhas (sempre descartáveis) usadas em procedimentos de ablação por radiofrequência custam cerca de R$ 10 mil; o preço daquelas que emitem micro-ondas chega a R$ 20 mil. Quanto mais rápido e seguro o procedimento, menos tempo o paciente passa no hospital e melhor se torna a razão custo-efetividade, diz Szejnfeld.

Claro, há limites para a ablação. Além de ela não conseguir lidar com tumores muito grandes, se o câncer está próximo de um vaso sanguíneo o resultado pode não ser tão bom. No caso, o vaso se comporta como uma espécie de radiador, esfriando a região e impedindo a total destruição daquelas células cancerosas, explica Diego Adão Fanti Silva, cirurgião da Unifesp. Segundo estudos, contudo, a técnica de ablação por micro-ondes tem maior chance de funcionar em casos como esses em comparação à ablação por radiofrequência.

Também é possível que algumas células malignas sobrevivam ao processo e deem origem a novos tumores —sempre uma margem de segurança do tecido é também destruída, mas o câncer às vezes acha um jeito de resistir.

Há risco também de superaquecimento, o que pode lesar áreas próximas ao tumor que deveriam ser preservadas. Isso pode acontecer caso o sistema de resfriamento não funcione adequadamente. Felizmente esses problemas são raros.

Fonte: Folha de S. Paulo Online

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