por Jacilio Saraiva
Valor Econômico
26/09/19 - Startups querem ajudar grandes empresas a melhorar os indicadores de saúde no quadro de funcionários e diminuir despesas médicas. As soluções incluem aplicativos que facilitam a comunicação médico-paciente, oferecem acesso a academias e atendimento psicológico on-line.
Mateus Xavier, diretor de canais indiretos da Gympass, afirma que os gastos com saúde e a quantidade de internações poderiam cair se as pessoas dedicassem mais tempo a exercícios físicos. “Menos de 5% dos brasileiros praticam alguma atividade. ‘Seating is the new smoking’”, diz o executivo, citando frase em inglês que pode ser traduzida como “ficar sentado é como se fosse fumar.”
A Gympass funciona como um serviço de assinatura para acesso a academias de ginástica. Criada há sete anos, tem atuação em 15 países, com mais de 25 mil academias cadastradas. “Todos os anos, 3,2 milhões de pessoas morrem devido à inatividade física. É o quarto principal fator de risco global de mortalidade”, diz Xavier, citando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Uma das vias de crescimento da companhia, que já é considerada uma “unicórnio” brasileira, são os contratos de planos corporativos. Unicórnio é a denominação dada às startups de capital fechado que superam US$ 1 bilhão de valor de mercado. Para chegar aos funcionários das companhias, Xavier afirma que conta com o apoio dos departamentos de recursos humanos. “O sucesso de qualquer iniciativa desse tipo passa por líderes engajados que ajudam a ação a dar certo, dentro dos escritórios.”
Na avaliação dele, em quatro anos, o valor dos planos de saúde empresariais deverá dobrar e, não necessariamente, vão oferecer um serviço melhor. “Precisamos agir de forma preventiva.”
A Gympass tem usado o know-how brasileiro na relação com os clientes para se expandir no exterior. “Começamos com o Santander no Brasil e agora estamos atendendo o banco na Europa.” Grandes empresas, como a Nestlé, já oferecem a facilidade como atrativo para novos funcionários.
A startup coleciona grandes fundos entre seus investidores, como a americana General Atlantic. Já teve mais de cinco rodadas de investimentos. Este ano, recebeu um aporte de US$ 300 milhões liderado pelo fundo japonês Softbank.
A Medicinia, fundada em 2012 e com clientes como o Hospital do Coração (HCor), lançou este mês uma ferramenta para empresas. “Se você perguntar a qualquer empresário qual o custo que mais cresce na organização dele, certamente ele vai responder que é o da gestão da saúde”, explica o CEO Daniel Branco.
A “inflação médica” dos planos de saúde está sempre acima da inflação real e o único mecanismo ao alcance das organizações para controlar custos é trocar de fornecedor de plano regularmente, afirma. “Todo ano, as companhias tentam renegociar o valor pago às operadoras.” A Medicinia desenvolveu um aplicativo que facilita a comunicação entre médicos e pacientes. No hospital São Cristóvão Saúde, em São Paulo (SP), a tecnologia foi aplicada no acompanhamento de doentes crônicos e gestantes. No caso das futuras mães, houve uma redução de 56% nas idas ao pronto socorro, entre as pacientes que utilizam o app. “Queremos incentivar a figura do médico de família on-line nas empresas.” Para Rui Brandão, CEO do Zenklub, a preocupação com a saúde tem de se aproximar mais do setor de bem estar. Nascido em Lisboa, Brandão estudou medicina e, quando estava nos EUA prestes a iniciar a residência em cirurgia vascular, decidiu abandonar a carreira e fundar a empresa, em 2015.
O Zenklub é uma plataforma que oferece terapia on-line, com planos de uso para empresas. Reúne mais de 150 profissionais, entre psicólogos e psicanalistas. Os preços começam em R$ 290, com direito a quatro sessões ao mês. Já impactamos um milhão de pessoas, garante. Para o executivo, o atendimento terapêutico on-line pode ajudar quem tem dificuldade de procurar um especialista.
“No Brasil, as pessoas levam de seis meses a um ano para tomar alguma atitude em relação aos sintomas da depressão ou angústia”, diz. “É preciso mudar isso.” No ano passado, o Conselho Federal de Psicologia liberou o atendimento em plataforma digital, sem restrição de assunto ou limite de tempo.
A Zenklub foi investida em 2017 pelo HealthPlus, venture builder de tecnologia para a saúde ligado à aceleradora Grow+, de Porto Alegre (RS). Em agosto, lançou o ZenOffice, um aplicativo gratuito para profissionais de saúde, com agenda para sessões, chat e recursos de áudio e vídeo.
Comentários