A nona maior economia global convive com o 49º. lugar no ranking dos países mais ineficientes na área da saúde, segundo pesquisa da Bloomberg. A começar pelo paciente, todos perderam a paciência no Brasil. O grande déficit de atendimento transformou os sistemas nacionais (público e privado) em um mar de insuficiência assistencial. Mas as perspectivas começam a mudar. As demandas da geração conhecida como “millennials” está impondo uma nova velocidade nas transformações disruptivas. O natural envolvimento dos jovens com o ambiente digital, a sua impaciência com os serviços ofertados e a busca por hábitos de vida saudáveis estão pressionando todos os players da cadeia clínico-assistencial do País. Nunca a civilização conheceu tantas mudanças como as que estão ocorrendo neste século em todos os setores.
Os países do G20 passaram a enfrentar seus desafios sanitários com a utilização de um imenso arsenal tecnológico, tendência que o Brasil começa a adotar. Centenas de empresas internacionais, de pequeno, médio e grande porte, estão se alinhando com provedores locais e avançam para ocupar espaço no mercado nacional e latino-americano de digital healthcare. Mais de 600 milhões de habitantes carentes de assistência médica representam hoje um dos cinco mercados mundiais mais atrativos na área da saúde.
O HIMSS@Hospitalar Fórum estará trazendo a São Paulo, em maio de 2018, alguns dos mais consagrados cases mundiais de eHealth. Uma audiência selecionada da cadeia nacional de saúde poderá conhecer os avanços significativos que vêm ocorrendo na Índia, EUA, Reino Unido, Espanha, França, Israel, China, entre outros países. “Somos a bola da vez”, diz Guilherme Hummel, diretor executivo do eHealth Mentor Institute (EMI) e curador do fórum. “Apesar da crise político-econômica, somos uma das mais atraentes regiões do mundo para soluções digitais em saúde. Nosso grau de demanda assistencial reprimida convida provedores e fundos de investimento a se envolverem nas transformações nacionais”, garante Hummel.
style="display:block; text-align:center;" data-ad-layout="in-article" data-ad-format="fluid" data-ad-client="ca-pub-6652631670584205" data-ad-slot="1871484486">Os conceitos de Big Data Analytics e Artificial Intelligence são os vetores dessa transformação. A tecnologia não se restringe a novos medicamentos ou a equipamentos de ponta. O pulo do gato é a disponibilidade maciça e integrada de dados sobre pacientes, tratamentos e doenças. Padronizar o atendimento é garantia de eficácia, garante Hummel, que é curador do fórum. “O médico pode consultar uma estação na qual há milhões de dados e 20 mil pessoas similares a você, tanto em sintomas quanto em composição física. Isso é uma ajuda e tanto para tomar uma decisão e fazer o diagnóstico”, comenta.
Um exemplo do uso de análise de dados foi um acordo de cooperação entre a IBM e o Massachusetts Institute of Technology (MIT). Em dez anos e com investimento de US$ 240 milhões, a ideia é impulsionar o uso da tecnologia da informação (TI) em diagnósticos e apoio à decisão clínica. O robô voltado à predição de câncer, por exemplo, já tem níveis de acerto positivos. Em Bangalore, na Índia, o Manipal Comprehensive Cancer Center testou e comparou as recomendações da plataforma cognitiva Watson com as referendadas pelo seu corpo clínico. No câncer de pulmão as orientações da máquina concordaram em 96% com os médicos e pesquisadores, havendo concordância de 81% para o câncer de cólon e 93% para o câncer de reto. O mesmo tem se repetido em vários outros laboratórios oncológicos ao redor do mundo.
O gasto com saúde tem crescido sistematicamente acima do Produto Interno Bruto (PIB) – chegando a representar mais de 15% em alguns países. No Brasil, em 2017 a saúde representou 9,1% do PIB. “É imperativo que haja mais conexão e colaboração entre máquinas e também entre os diversos stakeholders do setor, com foco em atender às diferentes necessidades, tanto de pacientes quanto de administradores das instituições de saúde, médicos, radiologistas e outros profissionais”, diz Luiz Verzegnassi, CEO da GE Healthcare América Latina, participante da HIMSS@Hospitalar. “Enxergamos a experiência com a feira e o fórum como uma grande aliada na disseminação de tecnologia para o setor de saúde”, avalia.
Médico à distância
Mais uma inovação já difundida em outros países, segundo Hummel – e que ainda engatinha no Brasil, por força de legislação e receio dos profissionais da saúde –, é a teleorientação, uma espécie de consulta médica feita por videoconferência. “Em 70% dos casos não precisamos de uma consulta presencial. Se o médico tiver o histórico clínico do paciente disponível online, com cinco ou seis perguntas é possível uma resposta imediata; é uma triagem”, diz. “Há consultas que marcamos com três meses de antecedência. A média de duração de uma consulta no Brasil é de 7 minutos. A teleorientação vem ao encontro dessa disparidade”, diz. Para Hummel, em poucos anos, 25% dos pacientes brasileiros vão consultar um médico primeiro de forma remota e depois, presencial.
style="display:block; text-align:center;" data-ad-layout="in-article" data-ad-format="fluid" data-ad-client="ca-pub-6652631670584205" data-ad-slot="1871484486">A cada três minutos, pelo menos dois brasileiros morrem em hospitais públicos ou privados em consequência de erros ou eventos adversos. O dado, do estudo “Errar é humano”, produzido pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) em 2016, inclui “erros” ou “eventos adversos” – que vão desde infecção hospitalar até erros ao ministrar medicamentos.
Uma das conclusões do estudo é que o baixo índice de controle de processos dentro dos hospitais é uma das principais causas do indicador. Para Hummel, a solução passa por tecnologia. “O mundo inteiro descobriu nos anos 1980 que, com uma população maior e expectativa de vida maior, cresceu a demanda por serviços de saúde. E como se resolve um problema em escala? Com tecnologia”, diz Hummel.
Conhecimento compartilhado
Participante do fórum HIMSS@Hospitalar, a InterSystems é um exemplo dessa inovação. A empresa comercializa o HealthShare, uma plataforma online para cuidados de saúde, permitindo que múltiplas organizações acessem informações sobre o histórico do paciente, possibilitando o compartilhamento nacional e regional de dados. A saúde brasileira tem altos custos, com um gasto médio que já ultrapassa meio trilhão de reais por ano, número que nos coloca no topo do ranking das maiores inflações médicas do mundo. “Ao mesmo tempo, um estudo encomendado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) revela que 93% da população brasileira considera péssima, ruim ou regular a qualidade dos serviços de saúde públicos e privados oferecidos”, diz Alexandre Tunes, Country Sales Manager da InterSystems no Brasil.
Entre os produtos existentes, o consultor cita os termodispositivos colados à pele, como um esparadrapo, capazes de analisar a exposição solar. Se ela estiver crítica, o dispositivo avisa mudando de cor. A Vivo é um exemplo da utilização de softwares com o conceito de self care: o Vivo Bem, disponível para clientes da marca, é um aplicativo capaz de marcar procedimentos médicos como consultas e exames a um custo baixo. “Já são mais de 100 mil usuários da plataforma”, diz Cesar Rodrigues Dominguez, CEO da Axismed/Telefonica.
Tecnologia já é realidade
Novas aplicações em eHealth surgem a cada dia: biossensores, dispositivos para controle de sinais vitais, impressoras 3D de alta precisão, imunoterapia aplicada, etc. Mas, longe de dispensar os tratamentos tradicionais, a tecnologia e a inteligência artificial são aliadas de médicos e instituições de saúde para tratamentos mais eficazes e por clínicas e hospitais também mais saudáveis financeiramente. “O self care é uma realidade. A indústria precisa se adequar e trabalhar junto com os pacientes”, completa Hummel.
style="display:block; text-align:center;" data-ad-layout="in-article" data-ad-format="fluid" data-ad-client="ca-pub-6652631670584205" data-ad-slot="1871484486">Investidores aguardam avanços
O atraso na implantação de novas tecnologias na área da saúde no Brasil tem ao menos uma boa notícia: é uma oportunidade para os players investirem. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVP) de 2017 feita com investidores internacionais indica que, para eles, o setor mais atrativo para injetar recursos no País é o de Saúde e Farmácia (10%), junto com Educação (10%) e seguido por Agronegócios (8%). “Com uma população de mais de 200 milhões de indivíduos com graves problemas de assistência médica e um setor de digital health ainda engatinhando, sobra atratividade para investidores globais. Os próximos dez anos serão de grande avanço”, conclui um relatório produzido para o HIMSS@ Hospitalar 2018.
Participante do fórum, a brasileira Pixeon está de olho nesse mercado crescente de eHealth. A empresa, que vende e operacionaliza sistemas de gestão para hospitais, clínicas de imagem e consultórios, aposta na digitalização integral destes locais para breve. “Já temos clientes no nível 6, que é quando pelo menos um setor está completamente online (o nível 7 é quando toda a operação está online) e vem sendo muito bem-sucedido”, diz Roberto Ribeiro da Cruz, CEO da companhia.
Fórum HIMSS@ Hospitalar discute o futuro do eHealth
Dividido em oito temáticas verticais, o Fórum HIMMS@ Hospitalar 2018, uma das maiores mostras de inovações na área médica e de eHealth do mundo, deve receber cerca de 2 mil congressistas. Serão duas salas com programação simultânea destinada ao conteúdo de 56 palestrantes de 12 países. “A ideia é trazer o futuro da tecnologia aplicada à saúde para o Brasil, sempre apresentando cases que possam ser aplicados no País”, explica Diane Coelho, gerente de negócios da área de tecnologia da UBM, promotora do evento. Além da conferência, que aborda discussões relacionadas a digital healthcare em nível global, acontece também o Health Connection, que apresenta cases de mercado das empresas expositoras da Hospitalar Tecnologia. “Tudo isso dentro da 25ª Feira Hospitalar, em um pavilhão com uma área dedicada a empresas que expõem produtos e serviços para atender à demanda do mercado de saúde”, explica Diane. Entre elas, o braço de saúde da GE, o GE Healthcare, com um espaço dedicado aos equipamentos de cuidado com a vida, ultrassons, arcos cirúrgicos e soluções digitais.
A análise de mercado e o cruzamento de dados também serão contemplados no fórum. As consultorias Deloitte e Frost Sullivan levam à mostra soluções de análise de dados, papers e estudos na área de eHealth para municiar os tomadores de decisão – médicos e dirigentes de clínicas e hospitais. “O patrimônio do evento é o conteúdo e a interação eficiente com mercado. O volume e a qualidade da informação é muito grande para ser absorvido somente em quatro dias, por isso articulamos a comunicação durante todo o ano para preparar o mercado e informar sobre as tendências mundiais em tecnologia aplicada à saúde”, diz Diane. O Fórum HIMSS@Hospitalar acontece entre os dias 22 e 25 de maio, em São Paulo.
A GE Healthcare é uma das participantes do II Fórum HIMSS@Hospitalar 2018. A empresa tem mais de 10 milhões de equipamentos médicos instalados ao redor do mundo e investiu mais de US$ 1 bilhão em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para a saúde.
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